bônus

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Foi Rony quem jogou a bomba na mesa.

Harry gostaria de deixar claro que ele estava tendo um ótimo dia antes de receber aquela revelação – ignorância, como eles dizem, é uma benção. Ele tinha acordado cedo sem precisar do relógio dele tocar, tinha saído da cama sem enrolar por horas a fio, tomado um café da manhã bem saudável, até mesmo lido todo o Profeta Diário sem ver nem uma única reportagem sensacionalista. Ele não tinha nem vomitado nem chorado ainda. Nenhum flashback. Nenhum pensamento relacionado a guerra.

É. Ele estava feliz. Radiante, até.

Nem estava chovendo. Isso provavelmente iria mudar depois, o clima daquele país sendo ridiculamente temperamental, mas no momento o céu estava completamente azul e limpo, o sol estava brilhando, e apesar de Harry ter que ligar o ventilador dele para não ficar suado e grudento, ele estava adorando. Ele se sentia tão quente. De vez em quando na infância dele, enquanto ele estava preso naquele armário, e então depois, durante a guerra, enquanto ele era um fugitivo, Harry achava que ele nunca iria poder sentir calor de novo. Só frio, só medo.

De vez em quando tudo que ele precisava era de um dia ensolarado para o lembrar de que, ei, ele era o menino que sobreviveu! Ele recebeu dois Avada Kedravas, mas ele ainda estava vivo! Isso era incrível!

De vez em quando tudo que ele precisava era de um dia ensolarado para o lembrar dos abraços de Molly e Sirius e Remus.

Rony apareceu no pequeno flat que ele estava alugando em Londres ao redor do meio dia, trazendo o almoço deles consigo – era a comida que Molly tinha feito no dia anterior, mantida fresca e quente com magia, e estava absolutamente maravilhosa. Só o cheiro enquanto Rony entrava tinha feito Harry salivar e a barriga dele roncar, o que em si fez Rony rir da cara dele.

"Então," Harry perguntou enquanto dava um gole no suco de laranja dele, quando os dois já estavam sentados na mesa. "E as novidades?"

Ele estava pensando, é claro, na loja, e querendo saber como o trabalho do amigo dele estava sendo. Eles se viam um dia sim um dia não, mas Harry ainda queria mostrar o quanto se importava e se interessava.

Rony cortou a linguiça no prato dele calmamente e disse: "Nada demais. Lucius Malfoy adotou uma criança Trouxa."

Harry engasgou. Rony sorriu, mas não havia nenhuma diversão nos olhos dele.


*


Harry realmente queria que fosse uma piada. Mas, no Mundo Bruxo, é claro que as coisas não iriam ser tão simples assim.


*


Ele perguntou sobre isso para Andrômeda, depois, quando foi cuidar de Teddy.

Andrômeda era uma ótima pessoa, bondosa, então era bem comum que Harry se esquecesse, mas isso não mudava o fato de que ela também era uma Black, irmã de Narcisa. As duas não tinham a relação mais estelar do mundo, não se falavam faziam décadas, mas talvez Andrômeda pudesse ao menos desmentir aqueles rumores idiotas.

Andrômeda olhou para ele. Ele se lembrava de na primeira vez em que a conheceu ter achado que ela era Bellatrix. Isso foi mais de um ano atrás e tanto tinha mudado. Harry podia ver cada diferença entre elas tão claramente, agora.

Se ele cerrasse os olhos, porém, e inclinasse a cabeça dele bem na posição certa, ainda dava para confundir as duas, e nos dias ruins, nos dias em que os flashbacks não paravam e o bile nunca deixava o fundo da garganta de Harry, ele simplesmente não conseguia se convencer de que Andrômeda não era o fantasma da irmã dela. Ele não podia deixar de se perguntar se ela não se olhava no espelho e cerrava os olhos e inclinava a cabeça, procurando ver o rosto de Bellatrix só mais uma vez. Se ela não se sentia como um fantasma da irmã, de vez em quando.

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