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Dois dias se passaram desde aquele episódio embaraçoso, mas meu coração ainda salta quando relembro o seu toque, a sua voz no meu ouvido e

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Dois dias se passaram desde aquele episódio embaraçoso, mas meu coração ainda salta quando relembro o seu toque, a sua voz no meu ouvido e...

Um baque ressoa no gelo. Pisco e percebo que estava sonhando acordada e me desequilibrei enquanto pensava nele. Argh! Não posso estar me transformando em uma boba, isso é patético e eu me recuso a ser assim.

— Lilja, desaprendeu a andar? – Dalla, minha irmã do meio, brinca e me puxa sobre as lâminas do patins.

No inverno, lago Tjörnin fica parcialmente congelado e se torna uma ótima pista de patinação. A outra parte do lago é aquecida por um sistema geotérmico para não atrapalhar a vida dos patinhos que dependem daqui. No verão, é possível ver a quantidade de espécies diferentes de aves que passeiam por aqui. Jóhann ama e sempre corre atrás deles.

Com a véspera do Natal chegando, turistas indo e vindo, o parque, localizado no centro da cidade, vira uma atração turística com árvores enfeitadas por todos os lados e blocos de gelo para a patinação.

Os flocos de neve caem, formando cílios brancos em Dalla, que me puxa para apostar corrida com ela mais uma vez.

— Dessa vez, quem perder vai cuidar das fraldas do Jóhann a semana toda – amo o meu sobrinho, porém essa parte eu deixo para a mãe dele, minha irmã mais velha Asdis ou o pai Jóhannes cuidar. Eu fico com a parte divertida, que é brincar.

— Se prepare para perder de novo – digo e me posiciono na linha de largada invisível que formamos.

Na contagem do número três, disparo na frente em direção ao outro lado do lago.

Apesar de ser cedo, a luz do sol em dias de inverno são extremamente curtos, tendo umas três ou quatro horas de iluminação natural, sendo o restante do dia banhado pela escuridão do céu azul marinho. E é melhor de observar a aurora boreal nesses dias.

Com os postes iluminando a pista e vários pisca-piscas coloridos enfeitados pelo ambiente, tento passar entre as pessoas e ganhar a aposta. Vejo os cabelos platinados voando com o cachecol amarelo, quase passando por mim e acelero as passadas.

Um casaco azul do time de hóquei surge na minha frente e não consigo desviar a tempo. O baque dos dois corpos colidindo um no outro, antes de atingir o chão, faz meu corpo zumbir e a primeira coisa que sinto são os bíceps que seguro enquanto caio em cima dele.

— Você está bem? – suas mãos deslizam pelo meu rosto e tronco procurando algum hematoma, como se o seu corpo grande não tivesse absorvido a minha queda.

— Estou, você está? – pergunto preocupada, mas então encaro os olhos azuis cristalinos e os cabelos loiros saindo da touca. Um sorriso que conheço a milhas de distância surge quando reconheço quem é — Não olha por onde anda?

Esbravejo e tento levantar de uma vez, mas me atrapalho com o patins e caio de novo em cima de Ívar. O tronco dele treme com a risada que reverbera e se aloja como um carrapato na minha mente. Sei que vou lembrar desse som durante todo o dia e vou repeti-lo mais uma vez antes de dormir. Tento sair, mas ele continua rindo e me segurando.

— Então é assim que você trata as pessoas que não conhece? “Você está?” – imita — Enquanto eu fico com a sua grosseria?

— Por que eu deveria ser educada quando só o que você faz é me irritar?

— Deveria prestar atenção por onde anda, pelo menos – provoca.

— Você que apareceu no meu caminho! – tento levantar novamente.

— Quer parar de se mexer? Vai acabar me machucando mais do que já fez – ele segura os meus braços e eu encaro os dois globos azuis.

Mexo-me, desconfortável com o quanto me sinto confortável assim, e é aí que sinto algo grande e duro no meu ventre. Meus olhos arregalados me entregam, pois ele volta a sorrir e me coloca de lado como se eu não pesasse muito.

Sinto todo o meu rosto queimar e me levanto abruptamente, tentando deletar da minha mente a sensação de estar em cima dele.

❄❄❄

Nem em meus sonhos imaginei que estaria perto, mas tão perto de Lilja Ákisdottir na vida real. Claro que já sonhei sobre, mas sabia que eram apenas isso: sonhos.

Posso sentir sua vergonha pairando entre nós e tento quebrar o gelo da minha melhor forma. Irritando-a.

— Você deveria ser proibida de patinar, litla Lilja. E estava em alta velocidade, poderia ter me machucado feio.

— E você é o quê?! Policial de patinação? Você entrou no meu caminho! – ela aponta para mim.

— E você me atropelou – retruco.

Ela revira os olhos e empurra o meu ombro para sair, mas a detenho e paro na sua frente.

— Para onde está indo?

— Não é da sua conta – Lil tenta sair, mas a puxo de volta, peito a peito. Quero ouvir sua voz, mais um pouco.

— Não pode sair assim sem punição – sussurro e sinto seu corpo enrijecer sobre as minhas mãos.

Respiro o cheiro de rosas da sua colônia, que também são suas flores favoritas, pois sei que é alérgica a lírios, o que é totalmente irônico considerando o seu nome.

— E vai fazer o quê? – sua voz tenta sair firme, mas o tom agudo na última palavra indica que a afetei.

— Só vou te desculpar, se aceitar assistir o meu jogo e depois sair comigo – minhas mãos estão suando por baixo da luva, o que é uma loucura com o frio invernal que está fazendo.

Admiro o seu rosto vermelho e com flocos de neve enquanto as duas safiras me examinam para saber se o que falei é verdade. Meu coração corre risco de sair da caixa torácica com o silêncio que Lilja deixa. Os pensamentos vão a mil e começo a achar que fui muito atirado. Posso lidar com o não, mas não posso lidar se ela parar de falar comigo. Estou prestes a falar que é brincadeira, quando sua voz irrompe o meu nervosismo.

— O que a sua namoradinha diria disso? – seu olhar desvia para um ponto atrás de mim.

Sigo a direção e vejo Ása de lábios franzidos e cara feia nos encarando do outro lado da pista.

— Você está com ciúmes, litla Lilja? – a forma com que ela disse namoradinha fez parecer amargo em sua boca, que agora está sendo torcida para o lado enquanto morde a bochecha.

— É apenas precaução, não quero ser uma destruidora de relacionamentos – desvia o olhar com visível irritação e vergonha.

— Ela não é minha namorada e nunca vai ser – digo, firme.

— Não é o que parece – Lil cruza os braços.

Não deixo de sorrir com a constatação que ela realmente está com ciúmes.

— Anda me observando, elskan? – seus lábios franzem de irritação e ela ameaça sair de novo. Agarro a sua cintura com firmeza e digo, olhando em seus olhos — Não estou com ninguém, juro.

— Não me interesso em saber – ela tenta disfarçar o sorriso mordendo os lábios.

— Amanhã, às oito da noite – sussurro em seu ouvido e sou tentado a depositar um beijo na sua bochecha, entretanto, arrasto o nariz levemente na pele macia e tenho medo que ela ouça o tamborilar alto e claro do meu coração dizendo a cada batida que eu a amo.

Entre Luzes e SombrasWhere stories live. Discover now