Morrigan (Acotar)

834 26 0
                                    

   Quando se é um feérico (imortal) a vida com o passar do tempo se torna sem graça, monótona e repetida. A maioria das pessoas vive a vida como se aquele fosse ser o seu último dia, já eu vivo torcendo para que seja o último, e já que eu tive a infelicidade de ser imortal eu transformo meu tormento e dias torturantes em conteúdo e entretenimento para outras pessoas sob o manto de Amy Louve, transformei meus sentimentos em poemas e os distribui por toda Prytian para todos verem.
   Nunca me preocupei em achar um amor ou constituir uma família, não queria infectar ninguém com minha tristeza depreciativa, mas sempre que eu via algum casal feliz era como se alguém estivesse tocando em uma ferida aberta em mim, nunca consegui achar as palavras certas para descrever a sensação então nunca transformei isso em poema.
   Sabe aqueles livros clichês onde a protagonista pensa que nunca irá encontrar o amor e de repente um homem cai do céu e eles vivem um lindo romance que sempre termina com um final feliz? Então, eu achava que isso só acontecia em livros também até eu esbarrar com ela.
   Estava caminhando completamente distraída pela rua (algo que eu costumo fazer com frequência e já me causou alguns machucados algumas vezes mas isso é outra história) quando derrepente eu sou jogada no chão por algo (o'que não é muito difícil de se fazer considerando meu tamanho), ou melhor alguém, uma mulher loira estava caída do meu lado ela usava um vestido de seda vermelho que era acompanhado por um batom da mesma cor, seu olhar logo se levantou e pude ver um par de olhos castanhos preocupados me encarando, me levantei me desculpei e segui meu caminho rapidamente acompanhando meus batimentos cardíacos.
   Por algum motivo desconhecido para mim naquele momento eu não consegui tirar aquela mulher da minha mente e não sai de casa por mais ou menos uma semana com medo?, não sei se essa é a palavra certa mas era algo parecido com isso.
Resolvi sair depois de um tempo e ir em uma cafeteira ou algo assim e não sei o que eu fiz para a mãe ou o caldeirão mas no primeiro estabelecimento que eu entrei a mulher estava lá, com uma roupa mais simples mas ainda com o batom vermelho, eu torci para que ela não se lembrasse de mim assim que olhou para a porta mas a expressão dela me confirmou que ela se lembrava, pior, ela iria falar comigo sobre, pior ainda, eu não tinha pra onde fugir (sem parecer uma louca) porque eu já estava na metade do caminho para o balcão do café, então só aceitei o meu destino peguei o meu café e me sentei na outra ponta do café. Não demorou muito até a figura da mesma repousar a minha frente e começar a falar.
   _ Oi, não sei se lembra mas eu acabei te derrubando no chão a uns dias atrás, eu só queria me desculpar com você _ ela diz e eu só levanto o olhar e confirmo com a cabeça em silêncio, ela espera provavelmente pensando que eu ia falar algo mas quando fico quieta ela continua.
   _ Eu sou a Morrigan, prazer _ eu observo a mesma antes de dizer.
   _ S/n _ observo ela nos mínimos detalhes e ela sorri e começamos a conversar, sinto algumas coisas estranhas na minha barriga mas ignoro.

   Por incrível que pareça eu não fugi da Morrigan, na verdade eu até gostava de conversar com ela e o café virou nosso ponto de encontro, todo final de semana íamos lá e ficamos conversando sobre os acontecimentos em nossa semana, ela era a que mais falava (também, toda semana algo novo acontecia com ela) ela sempre me perguntava sobre a minha semana e parecia interessada em cada detalhe mesmo que a minha semana tenha se resumido a escrever, comer, dormir e regar as minhas plantas (não necessariamente nessa ordem), o tempo foi passando e os assuntos começaram a ficar cada vez mais pessoais até que um dia ela tocou no assunto do amor.
   _ Então, você já se apaixonou por alguém? _ ela me pergunta com um brilho nos olhos.
   _ Não, na verdade eu nunca pensei nisso, nunca tive vontade e nem achava necessário ter uma companhia e você? _ eu pergunto e ela me analisa por alguns instantes antes de falar.
   _ Já, uma vez a muito tempo _ ela diz isso com um tom melancólico na voz e o silêncio se instaura entre nós.
   Sem muito o que falar eu resolvo segurar a mão dela, é um ato reconfortante para a maioria das pessoas e foi aí que eu senti (e aparentemente Morrigan também).
Um puxão no fundo da minha cabeça, como se uma ponte tivesse se interligado entre nós duas, de repente foi como se todas as peças se encaixassem e eu senti por alguns segundos que só existiam nós duas no mundo, foi aí que eu me toquei que era um laço de parceria e então eu entrei em pânico, entrei em uma espécie de transe e saí praticamente correndo do café e fui para a casa, mas não importava o quanto eu corresse, o laço estava dentro de mim me ligando a Morrigan e ele ia continuar lá.
   Foi extremamente babaca o'que eu fiz, saí correndo e a deixei para trás sem nem uma explicação decente, me isolei em casa e não sai por semanas, fiquei pensando em todos os meus sentimentos por ela e como agora eles faziam sentido porque eu estava disposta a enxergá-los, desde as borboletas no estômago ao nervosismo de encontrar ela, durante esse tempo eu fiz o que eu sabia fazer de melhor, escrever poemas, fiz ao todo mais de doze folhas só para, e sobre a Morrigan.
   Por semanas eu fiquei sozinha e pela primeira vez em todo aquele tempo eu comecei a me sentir solitária de novo então resolvi enviar os poemas que eu tinha feito para Morringan e torcer para que ela visse e aceitasse como uma espécie de pedido de desculpas pela minha fuga e isolamento.
  Duas semanas depois eu recebi outra carta dela com apenas um local, dia e hora escrito, resolvi não contestar e fui até lá e não me atrasei. Alguns minutos depois ouvi alguns passos atrás de mim e vi Morrigan lá parada, sempre bela e com um olhar confiante no rosto, ela abriu a boca para começar a falar mas eu a interrompi.
   _ Acho que quem deveria começar a falar sou eu, afinal eu saí correndo _ eu digo e ela fecha a boca e me observa _ primeiramente eu sinto muito creio que isso te magoou mas não foi a minha intenção eu só, entrei em pânico, mas saiba que esse tempo isolada me permitiu pensar melhor em tudo, nos meus sentimentos, em você e nesse laço de parceria e que eu estou pronta e quero esse laço, mas não vou te foto a nada. _ eu termino e espero ela começar a falar.
   _ Eu realmente fiquei um pouco magoada no início mas depois fui entendendo que você precisava de tempo, não sei o que aconteceu no seu passado para te transformar em quem você é hoje e eu quero te ajudar a superar isso, e eu sei que você também quer. _ ela faz uma pausa olhando amavelmente para mim _ quando eu recebi os seus poemas fiquei surpresa a princípio e li cada um deles várias vezes e tive mais certeza que eu te amo e que também estou pronta, para tudo.
   Pela primeira vez em muito tempo eu sorri, sorri de verdade e senti que um pequeno pedaço do grande vazio que habita dentro de mim foi levemente preenchido, senti que agora eu não precisava lidar com tudo sozinha.
   Pela primeira vez na vida eu consegui fazer um poema de amor verdadeiro.

Imagines Personagens LiteráriosWhere stories live. Discover now