18- O QUE VOCÊ DISSE?!

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3 dias. Eu contei 3 dias que ele fez suas besteiras e deixou de falar comigo. Eu não o via, não o ouvia e nem o sentia. Aquilo me fez sofrer mais do que eu já sofria nas mãos do sequestrador babaca. A essa altura eu já não ligava mais pra como eu estava.

Não conseguia decidir se estava triste demais ou irritado, com ódio, indignado, frustrado. Talvez fosse tudo de uma vez e eu não podia controlar. Haviam momentos explosivos em que eu começava a chorar desesperadamente alto o suficiente pra alguém vir me repreender. E outros eu só queria bater em alguém com muita força.

— Acorda! Tá na hora de tomar banho - Abriu a porta tirando minha venda com força.

— Olhos vermelhos é? - Falou com um sorriso debochado nos lábios. Se abaixou até onde eu estava e sussurrou no meu ouvido;

— Sabe o que eu acho? Acho que você passou a noite inteira chorando igual a menininha que você é - Meu ódio foi grande o bastante pra lhe dar uma cabeçada com força. Ele cambaleou para trás e voltou a mim com toda força.

Primeiro impacto nas bochechas, um soco forte. Segundo, mais forte ainda e um terceiro que me fez virar com a cadeira pra trás.

Ele rindo pelo que acabara de fazer me levantou de volta segurando pelos cabelos. Eu gritei de dor.

— Viu o que acontece? - Perguntou furioso.

Meus lábios deixavam escapar gotas de sangue e minha boca inundava em um gosto metálico. Ele terminou de me soltar esbravejando baboseiras e insultos que eu prefiro ignorar se não teria minha língua arrancada.

— Isso mesmo, assim que eu gosto. Bem caladinho - Passou as mãos por meus cabelos. Balancei a cabeça retirando sua mão pesada. E ele continuou com sua série de tapinhas como sempre.

Eu já estava farto deste aqui, infelizmente nada podia fazer se não chorar ou me debater inutilmente.

A rotina era, durante o dia no porão, vendado e amarrado em uma cadeira e a noite no quarto que eu já tinha me acostumando e preferia ficar lá.

Depois do banho, sendo arrastado por aquele brutamontes pelo meio da casa eu o vi, a primeira vez desde aquela noite. Aos beijos com a outra garota no sofá. Fiquei tão triste encarando que nem percebi que tinha parado até ser empurrado e cair de joelhos ao chão me apoiando com as mãos no piso. Por que eu queria chorar? Não era nada de mais...

— Vamos, levanta princesinha. Foi apenas um empurrãozinho - Proferiu sarcástico. A voz dele fez com que os outros nos encarassem.

— Algum problema? - Ele perguntou.

— Nenhum, só que o carinha aqui gosta de ficar de quatro - Chorei, de raiva com certeza. Haviam muitas coisas ali me destroçando ao mesmo tempo. Não conseguia suportar. Quem conseguiria?

Me levantei irritado e empurrei o babaca que acabou caindo por conta da mesinha que havia no centro. Os outros dois se levantaram espantados com a cena.

Nem eu sabia que podia fazer aquilo. Na verdade eu sempre me achei um covarde. Mas isso não importava porque agora eu iria apanhar muito. E estava me preparando psicologicamente pra isso.

— Que porra você pensa que tá fazendo moleque? - Ele perguntou com um tom totalmente diferente. Parecia até não me conhecer. Eu o olhei por tempo demais porque segundos depois o babaca me fez cair no chão com um soco e subiu pra cima de mim.

Os dois tentaram me ajudar enquanto golpes eram desferidos em meu rosto.

Quando finalmente o tiraram de cima de mim a minha visão estava totalmente embaçada. Ele ainda queria avançar e se não fosse por ele segura-lo eu já estaria desmaiado.

— Se acalma merda! Você quer que o 14 te deixe como você deixou ele? - Gritou irritado com o parceiro.

— Quero que ele veja quem é que tá no comando!

— Não é você que tá no comando! Então baixa sua bola e deixa que eu cuido dele - Eu não conseguia ver somente ouvir e mesmo assim não sentia nada em questão da sua defesa por mim.

O outro como sempre, saiu do cômodo em que estavam exalando ódio. Passei a mão pelo meu rosto tentando enxergar melhor e o vi estendendo a mão pra mim.

Rolei no chão e tentei levantar, meio tonto quase fui ao chão se não tivesse sido por sua pegada.

— Eu não quero sua ajuda! - Recusei chorando. Eu havia gritado com ele e este que não gostou nada me puxou com força quarto a cima. Os degraus da escada me fizeram sentir mais dor. Ele estava me arrastando com toda sua força enquanto eu esperneava e me debatia tentando me soltar.

— Me solta! - Quando me livrei de seu braço eu já estava no chão do quarto que ficava durante a noite. Chorei mais ainda.

Ele me deixou lá, jogado no chão. Depois só ouvi a portar bater e apaguei completamente estirado no chão derramando lágrimas.

(...)

Quando abri os olhos vi sua mão perto de mim de novo e me afastei rapidamente pra trás pedindo desculpas.

— Não, não! Desculpa, desculpa - Babulciei cobrindo o rosto. Eu estava com medo.

— Ei, olha pra mim. Eu não vou machucar você - Ele disse. Quando descobri o rosto, notei que sua mão estava com algodão encharcado de sangue e a sua direita no criado mudo havia uma vasilha cheia de água. Mesmo assim, repudiei seu toque.

— Não encosta em mim nunca mais.

— Tenho que tirar isso do seu rosto antes que o 14 chegue - Ele falava tão naturalmente. Ele ignorava seus atos, parecia que eu era o que tinha feito algo de errado. E isso foi o estopim de mais uma discussão.

— Eu posso fazer sozinho - Ignorando novamente minhas falas, avançou com sua mão para o meu rosto. Parei antes de me alcançar. Ele bufou.

— Eu faço sozinho.

Ele suspirou pausadamente jogando o algodão no chão, bateu no criado mudo com força fazendo a água da vasilha cair.

— Você que sabe. Depois não me venha chorar pedindo ajuda - Quase não acreditei, se não fosse pela sua mão apertando meu braço com força.

— Vai se ferrar, Kyle! - Cuspi irritado.

— O que você disse? - A expressão irritada mudou por segundos.

— O QUE VOCÊ DISSE?! - Gritou me encarando.

Nossas respirações estavam aceleradas.

— Nunca mais diga esse nome. N-U-N-C-A mais!

O Último Sequestro I Nosh 𝑣Onde histórias criam vida. Descubra agora