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«Alex»

-- Ai meu Deus! Ethan é seu namorado???

Eu não posso aceitar o fato de que o cara por quem eu estava me apaixonando é gay e ainda por cima namorado da porra do meu irmão!

-- Não, eu não sou namorado dele. Mark, explica o que está acontecendo! - Ethan implora por ajuda. -- Anda cara!

-- É o seguinte, eu não tenho namorado nenhum, Deus me livre ficar com alguém dessa cidade. Eu só tinha que arrumar uma desculpa para o fato de que eu não te avisei que estava voltando pra casa porque...

-- Porque???

-- Porque você é insuportável, Alex. Se eu avisasse que estaria na cidade novamente é capaz de você planejar uma festa, e você sabe muito bem que eu odeio isso. Na realidade não era nem pra você me ver aqui, muito menos ficar sabendo que eu estou aqui.

Wow, palavras machucam mais que um soco. E eu posso afirmar isso por experiência própria.

Eu lembro de quando éramos pequenos, a mamãe ainda era viva e o papai parava em casa por pelo menos um final de semana inteiro. Quando chegava nosso aniversário, sempre queríamos comemoração, e a mamãe era a primeira a planejar as festinhas, chamar nossos amigos, encomendar bolo e fazer a decoração. Eu me sentia acolhida, amada. Não importava se os convidados eram apenas amigos do Mark ou do trabalho do papai, minha família estava ali. Mark estava feliz, meu pai estava feliz, a mamãe estava com a gente e consequentemente eu estaria feliz também.
Mas e agora? Eu não tenho mais minha mãe, meu pai vive mais no trabalho do que na própria casa dele e Mark... É, eu achava que ainda tinha o Mark. Mas pelo jeito, ele também se foi. O meu irmão, o irmão mais velho, o meu protetor e o meu "arranca cabeça de bonecas" foi embora. Ele não está mais aqui.

-- Tudo bem. Você não precisa avisar nada. - Falo tentando conter as lágrimas. -- Eu.. Eu nem sentia sua falta.

Mentir foi algo que aprendi muito depois que conheci Rick. Eu não precisava mentir para ele, mas sim para as pessoas que me perguntavam "Porque você tá com o olho roxo?", "Olha, você aqui de novo. Ainda lembra meu nome, né? Doutor Johny",  "Vai cancelar mais uma vez Alex? Você é muito egoísta". É, eu não mentia para ele, e sim sobre ele.

-- Ah, legal. Assim você sai do meu pé.

-- Que merda você tá falando? - Ethan se levanta com dificuldade. -- Não é verdade, Alex. Ele sempre falava muito bem de você.

-- É, falava. Acho que se me perguntarem se eu te conheço, eu deveria falar "não mais", não é?

Os dois ficam mudos e me olham com aquele olhar indecifrável. O silêncio não costuma ser reconfortante, mas acho que a minha mente sempre implora por ele. Quando eu paro de falar, a minha mente começa. E me desculpa se eu for realmente egoísta, mas eu prefiro ser a quem fala, porque as minhas palavras são bem mais gentis do que as dela.

-- Eu vou pra casa. Boa noite para vocês. - Me despeço e saio do quarto. O corredor que antes era terminado em seis passos, agora parece uma caminhada de seis quilômetros.

-- Alex, espera. Não fica chateada com isso, ele só estava procurando uma desculpa para estar aqui. Eu te conto a verdade, se quiser.

-- Ah, e a verdade é que ele prefere visitar um desconhecido do que a própria irmã? Que legal.

-- Não, não é isso. Ele só precisav...

-- E como vocês se conhecem? - O corto.

-- Trabalhos.

-- Você me disse que era advogado e o Mark sempre odiou direito, vocês terem objetivos em comum é impossível.

-- A gente já... - O corto novamente.

-- A não ser que... Meu Deus! - Deixo Ethan tentando se explicar sozinho e corro para a saída do hospital. Preciso chegar em casa logo.

Enquanto corro pelas ruas de Chicago,  o vento voa como o meu pensamento. Desde que Mark saiu da cidade, ele só voltou por duas razões, que chegam no mesmo motivo. A morte da mamãe.

A primeira vez foi o enterro, a segunda quando ele foi acusado de matá-la, e a terceira... Tem que ter alguma coisa a ver com minha mãe, mas porque Ethan está envolvido?

Subo as escadas do prédio correndo e entro no meu apartamento. Potis vem correndo e fica batendo as patinhas brancas no meu joelho.

-- Agora não, Potis.

Abro o notebook grosseiramente e clico na pasta "Caso B. Eigenberg". Procuro rapidamente o resultado das amostras de DNA que encontraram a três anos atrás.

Achei!

Número correspondente ao cadastro de Mark Eigenberg. Número da ficha: 3678.

3678, 3678, 3678. Onde raios eu vi esse número?

FLASHBACK

"Então é aqui que o chefão trabalha?"

Vasculho o ambiente e me deparo com um monte de papeladas, mas uma pasta específica rouba minha atenção. 3678.

"Caso B. Eigenberg"

-- Porque Ethan tem acesso a informações do assassinato da minha mãe se ele não foi o advogado responsável pelo caso? - Pensei. -- Bom, talvez ele tenha ajudado, ou algo do tipo.

E depois quando me chamam de burra, eu ainda quero argumentar contra.

Porque eu não me toquei de que o Ethan sabe sobre minha mãe? Por isso ele veio atrás de mim e do Mark.
E... Se o assassinato de hoje tem as mesmas digitais de quem matou minha mãe, ele sabe quem foi.

Jay falou alguma coisa sobre a morte, mas... Que merda! Não consigo me lembrar.

Talvez se eu ligar para ele?

-- Jay? - Ele atende no segundo toque.

-- Você deveria estar dormindo.

-- Aproximadamente que horas foi o assassinato?

-- Alex, vai descansar. Folgas são para isso, sabia? Não para trabalhar.

-- MAS QUE MERDA, QUE HORAS FOI A MORTE?

-- Ei, calma. Acho que umas 02:40, por aí.

-- Valeu. Boa noite!

-- Espera. Você... - Desligo.

02:40. 02:40.

Ethan me deixou aqui por volta de 01:30, ou seja, 01:30 o porteiro já não estava mais aqui. Do meu endereço até o da casa dele é uns 15 minutos.

01:45.

A casa dele é de frente para a de Ethan, então não sei ao certo se podemos considerar que ele foi assassinado na casa dele ou próximo a rua. Não, não tinha sangue arrastado até o local. Foi na rua.

A rua nesse horário não é movimentada, então seria apenas ele e Ethan. Os dois chegaram lá no mesmo horário.

O carro.

Bem, quem destruiu aquele carro usou uma força e tanto. Os vidros estilhaçados com certeza machucaram as mãos do culpado pelo ato. Ethan parecia esconder um pouco as mãos, mas... Quando ele colocou a mão no ombro, sua mão direita. Tinha um corte? Não, era um furo. Não, um corte, um corte pequeno. Um corte exatamente feito por um pedaço de vidro quebrado. Ethan matou aquele cara.

Mas, as digitais e... Combateram com...  Ai meu Deus!

Ethan matou a minha mãe.

Jardim de CicatrizesWo Geschichten leben. Entdecke jetzt