-21- O ADEUS DE ALEXSANDER

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Setembro...

Outubro...

Novembro...

Uma pequena lagarta se rastejava pela grama, seu corpo era verde e parecia ter pequenas bolinhas brancas, meus olhos a acompanhavam minunciosamente, enquanto eu estava de cócoras, segurando uma folha da grama na mão e tentando entrega-la a lagarta, que me ignorava e continuava a rastejar em direção a grande árvore no quintal de Sebastian. Me perguntava se ela iria subir por todo aquele troco até chegar no topo, e se tinha planos de morar ali em cima ou simplesmente se transformar em uma enorme borboleta.

Sempre fui fascinado por borboletas, adorava observa-las sobrevoando o jardim de casa, e pousando nas flores, livres e belas, podendo ir para qualquer lugar encantar as pessoas com sua beleza. Meu pai costumava captura-las, sem machuca-las, e as colocava em minhas mãos, elas então caminhavam por elas como se eu fosse uma flor e minhas mãos estivessem repletas de néctar, quando percebiam que não havia nada ali iam embora, voltando a pousar sobre as flores.

Sebastian juntava as folhas do quintal com a ajuda de um rastelo, usava apenas uma bermuda e chinelos, deixando a parte superior do seu corpo despida, aquele era um dia quente, então estávamos ajeitando o quintal para tomarmos chá gelado com torradas. Eu usava uma blusa branca leve e uma bermuda preta, estava descalço, gostava de sentir o toque da grama sob meus pés.

– Me ajuda a buscar as coisas na cozinha? – Ouvi Sebastian dizer, logo atrás de mim, quando me virei ele sorriu docilmente, passando a mão sobre meu cabelo.

– Vamos.

Caminhamos até a cozinha, peguei a cesta de torradas, patês e geleias na geladeira, enquanto Sebastian pegou a grande jarra de chá gelado que eu havia feito a alguns minutos atrás. Podíamos ouvir o tilintar das pedras de gelo batendo umas nas outras, apenas aquele som já me causava uma sensação profunda de frescor. Pegou dois copos de vidro e voltamos para o quintal, nos sentando a mesa. Sebastian nos servia enquanto eu procurava a lagarta com meus olhos, ela não estava na grama, ou sobre a tampa do quarto subterrâneo, quando avistei mais à frente a grande árvore vi a pequena criaturinha verde de pintas brancas nos pés dela, começando a sua escalada em direção ao topo daquela majestosa árvore.

– O que você está procurando? – Sebastian perguntou enquanto colocava chá nos copos.

– Uma lagarta, ela está subindo a sua árvore.

– A nossa.

Olhei para ele.

– Essa casa também é sua, logo a árvore também é. – Sorriu.

Forcei um sorriso de volta.

Passei três meses no piloto automático, pensando constantemente no que havia ocorrido a Alexsander aquela noite. Lembro perfeitamente de Sebastian contando os detalhes das cartas que eu havia escrito em meu diário, enquanto Alexsander apenas assistia toda aquela cena, possivelmente pensando se iria morrer naquela noite. Depois me recordo de Sebastian batendo na cabeça dele com força, com a arma, ele caiu sobre a mesa, desmaiado, eu gritei, e então o vi ir até uma gaveta que havia ali perto, pegando um frasco e um pequeno tecido, então molhou o tecido, eu sabia o que era aquilo. Me recordava perfeitamente.

Tentei fugir, caindo de costas no chão e implorando para Sebastian não fazer aquilo, mas ele se jogou sobre meu corpo, me prendendo com suas pernas e então me sufocando com aquele tecido de aroma adocicado. Acordei um tempo depois, deitado no sofá da sala, um silencio profundo por toda a minha volta, Pongo mordia o sofá tentando subir nele para me pegar. Me levantei exasperado, correndo pela casa, e logo notei que a porta da frente estava apenas encostada, não acreditei quando a puxei e a vi vindo em minha direção. Avistei o caminho de pedras que levava até a rua de Sebastian, a vizinhança escura e silenciosa.

BABY, ME CHAME DE MESTREWhere stories live. Discover now