– Onde está a Rainha Ayla? - Perguntei alto, logo que pisei no casco do navio, ajeitando o chapéu na cabeça.
– Presa sob o convés, Capitã. - Murmurou um marujo, me alcançando meu casaco.
– Mande alguém trazê-la para minha cabine. Agora. - Ordenei, vestindo a peça de roupa e caminhando até lá. Todos os piratas baixavam a cabeça quando eu passava, como se de alguma forma eu estivesse mais intimidadora do que o comum.
Eu ainda sentia meu sangue fervilhar de raiva, e talvez arrependimento por ter ordenado que os marujos a prendessem. Desde que a tirei de seu reino ela ficou apenas um dia realmente presa, logo depois eu lhe dei liberdade para andar pelo navio e até descer quando atracavamos em lugares promissores. Ela acompanhava nossa pilhagem, nos via tomar o porto e depois bebia rum com os piratas em alguma taverna.
Mas beijar um dos meus homens? Como ela ousou? Apesar da fala embolada e os olhos caídos denunciarem o quão bêbada a rainha estava eu não consegui ignorar. Expulsei o marujo da minha tripulação e a mandei de volta para o navio, com ordens claras para que a prendessem como a refém que um dia ela foi.
Algumas vozes irritantes em minha cabeça insistiam em repetir que era ciúmes. A rainha e eu estávamos… bem próximas. Às vezes ela me beijava, e às vezes eu beijava ela, também tinham as vezes que nós nos beijávamos, mas nenhuma das duas falava a respeito ou dizia que aquilo era algo.
Até eu ter um surto de ciúmes.
Cheguei a minha cabine, hesitando quando vi que estava destrancada. A porta de madeira rangeu quando toquei nela, e eu sabia que a rainha tinha ouvido o rangido e eu não tinha mais como voltar atrás.
Abri a porta e, antes de sequer olhar para ela, fechei e tranquei.
– Oi, Minha Majestade. - Sorri, tentando amenizar a situação ruim, mas meu sorriso morreu quando me virei e desci os olhos por ela, notando os pulsos presos por uma corda felpuda. Engoli em seco, quase imediatamente tirando uma faca do cós da calça de couro que eu vestia e me ajoelhando diante da cama em que ela estava. - Desculpa por isso, não pensei que fossem amarrar suas mãos.
Cortei a corda depressa, murmurando pedidos de perdão enquanto sentia meu coração acelerar. Assim que suas mãos estavam livres eu as peguei entre as minhas e beijei os pulsos com carinho, mas Minha Majestade simplesmente se desvencilhou do toque.
O tapa certeiro em meu rosto fez um estalo ecoar por toda a cabine, e eu apenas soltei o ar que prendia quando a ardência tomou conta da minha bochecha.
– Ok, eu mereci. - Concordei, levantando o rosto. - Se sente melhor agora que me bateu? - Ayla cruzou os braços, empinando o nariz e se recusando a me olhar nos olhos. Suspirei, erguendo os dedos e tocando levemente seu queixo. - Não vai falar comigo?
– Você mandou me prenderem! - O grito me fez encolher os ombros. Eu sabia o que tinha feito e sim, não tinha sido exatamente uma atitude romântica.
– E sinto muito! - Garanti enquanto segurava os dois lados do seu rosto e praticamente suplicava por perdão. - Eu fiquei… você sabe.
Com ciúmes, capitã Maia? Sim, mas eu não ia completar a frase com essa palavra vergonhosa.
– Como ousou? - Eu podia jurar que sentia a raiva dela pairando entre nós duas, tão real que era quase corpórea.
– Você estava bêbada, eu estava bêbada. - Tentei me justificar, mesmo sabendo que estava sóbria o suficiente para saber o que era certo e errado. Desisti de ficar de joelhos no chão, me sentando ao seu lado na cama, amassando um pouco o vestido volumoso de Ayla.
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Entre coroas e mares
RomanceOnde a Capitã Maia acaba tornando a Rainha Ayla prisioneira em seu navio, mas não da maneira mais convencional.