Prólogo

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Sayro estava sentado sobre seu trono na sala de planejamento militar, localizada no grande palácio de Deus. Estava pensativo demais, preocupado com alguma coisa que nem ele sabia exatamente o que era. O peso da armadura de ouro com pequenas pedras de diamantes nos ombros e antebraços parecia cair mais pesado no seu corpo angelical. Lá fora, precisamente alguns metros ao ar livre no jardim atrás do palácio, o coral celestial cantava uma canção. Sayro deixou seus ouvidos atentos nela como se isso fosse capaz de acalmar sua ansiedade, que há tempos não surgia.

Decidiu por si mesmo então, erguer-se e ir até o jardim.

Ele abriu a porta da sala e então estava no salão principal do palácio. Nessas épocas mais tensas, ele permanecia totalmente deserto e vazio. Qualquer barulho mínimo que seja era responsável por ecos nas paredes de mármore branco. Entretanto, tudo era mais cheio de atrações e mesas de comida durante as festas de temporada. As melhores, segundo Sayro, eram as festas da criação e as organizadas pelo próprio Pai quando decidia alegrar seus filhos. Mas infelizmente a tensão das guerras fez com que não houvesse mais nada desde que Sayro voltou para casa.

Ao chegar no jardim, passando pelos corredores e chegando numa porta enorme de vidro, lá estava, pequenos anjos e cúpidos pacíficos treinando musicas para tirar o abalo que perpetuava em suas pobres cabeças.

As vozes tinham um timbre e uma sincronia incrível. Por um instante, Sayro imaginou que quem compusera essas músicas fora Beethoven ou Mozart, afinal, eles estavam vivendo em Celestia ensinando as outras almas a arte da música.

Tempo se passa e um grande amigo se aproxima para ter uma conversa que não envolvesse tanto planejamento de confronto, como anda sendo há anos.

- Você está bem, irmão? - Era Cibirius, anjo da chuva e consequentemente dos raios e tempestades. - Que postura apreensiva.

- Acho que estou apreensivo mesmo. - Respondeu seu irmão. - Sinto que tem alguma coisa de errado. Meu peito está com aquele sentimento gelado e sensação de aceleramento. Acho que algo ruim vai acontecer, mas espero que seja só suposições.

- Com certeza é. - Cibirius respondeu, pondo sua mão no ombro de seu irmão. - Não há mais confrontos há algumas semanas. Você nunca ficou tanto tempo aqui em cima desde do mês terrestre que voltou. Deve ser isso. - Um silêncio. - As pessoas sentiram saudades de nós, mas principalmente de você.

- Por que eu? - Sayro perguntou, não achando respostas.

- Porque todos querem algum sentimento de esperança e compaixão como você transpassava. Até mesmo ele, lembra?

- Sim... pena que se foi sendo atacado pelas costas. Era um anjo poderoso e astuto.

- Está sobrecarregado, irmão. Os zodiacais mexeram com sua cabeça. Vamos tomar alguma coisa.

- Estou preocupado com ela. Ela não tem paz desde que chegou aqui.

- Não se preocupe com isso. - Cibirius consolou-o. - Ela está treinando para se tornar independente, como você quis.

- Espero que já seja uma grande guerreira. A mortalidade dela não a concede nossas vantagens de voar ou conduzir alguma coisa da natureza. - Ele esfregou o rosto, mesmo com a manopla de ouro na mão. - Quero ouvir um pouco de música antes de um vinho.

Cibirius assentou com a cabeça e se posicionou de frente ao coral no centro do jardim. Ambos ficaram ali admirando o pequeno espetáculo que lhe restava para aproveitar.

De repente, após alguns segundos de calmaria, um silêncio corrompe a música, pois alguma coisa estranha aconteceu na cidade.

- O que foi isso? - Sayro perguntou, rapidamente apoiando sua mão na cintura para que o punhal da espada aparecesse logo, ele partiu para a entrada principal do palácio. - Venha!

Cibirius foi junto com seu irmão. O barulho se tornava mais alto e frequente, se assemelhando com explosões e destruições distantes. Ao chegarem no salão principal, gritos começaram e então aceleraram o passo.

Ao abrirem a grande porta dupla, lá estava a pior visão que puderam ter. A visão que, principalmente para Sayro, foi a coisa mais horrível que pudera enxergar.

- Mateus! Acorda!


O Anjo: Entre os Dois MundosWhere stories live. Discover now