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Desde novinha, sempre fui interessada por música. Não lembro ao certo quando essa paixão começou, mas, enquanto as outras crianças brincavam de carrinho, bonecas e etc., eu me divertia tocando as cordas do violão de meu pai. Antes de morrer, ele me passou todo o seu conhecimento, que levo comigo até hoje. Infelizmente, papai partiu desse mundo no último verão. No dia em que recebi a notícia, não acreditei, mas ao decorrer da semana, a única coisa que tocava na minha mente, em looping, foi a primeira música que ele me ensinou, a música que ele cantava para mim quando eu era pequena, Only These Words, Chris Cornell.

Sempre quis levar a minha paixão pela música um pouco além do chuveiro, queria participar de uma banda, mas as bandas de garagem daqui ou estão completas, ou não aceitam garotas. E por que eu não crio a minha própria banda? Acredite, já tentei, mas ninguém queria participar comigo, porque as pessoas têm medo da vergonha. Eu não me importo, até porque sei que um dia eu vou morrer e então não vão mais se lembrar de nenhuma Alicia Bianchi Stevens ou algum feito meu.

Enfim, agora que conhece um pouco de minha paixão pelo mundo musical, você já pode ser introduzido na história.

Tudo começou numa manhã chata e nublada, quando eu desci apressada para ir para a escola.

- Bom dia, pirralha. - Meu irmão, Jonathan, me dá um tapa nas costas - Atrasada de novo? Ah, Alicia, desse jeito você vai deixar de ser a queridinha da mamãe. Tá ficando mais preguiçosa que o Ozzy - nosso gato.

- Não enche, John!

- Nossa, Ali, eu ia até ser um bom irmão e te oferecer uma carona até a escola, mas você me tratando assim, me deixa magoado...- põe as mãos sobre o peito de modo teatral, estou farta de tanto drama.

- Não, Jonathan! Por favor, por favor, eu faço qualquer coisa, me dá essa carona, só hoje. Eu faço suas lições e lavo a sua louça, só, por favor, não me deixe perder o horário novamente!

- Ah, esse é um bom negócio, maninha. Entra no carro. Rápido, se não quiser que eu te deixe para trás.

- Muito obrigada!

Entro no carro rápida como o Flash e espero por ele. O carro é fedido, tem cheiro de chulé, bebidas e vômito. Ter ido andando seria melhor. John entra no carro e liga o som, ele toca School - Nirvana. Pelo menos em algo nós concordamos: o nosso gosto musical.

- Vou passar para buscar um amigo, Rodrick Heffley. Não dê um pio se for para falar bobagem, está me entendendo?

- Sim.

Ele para o carro, grita por Rodrick e um cara alto, com estilo igual ao meu (jaqueta, calça preta e camisa de banda, delineado preto nos olhos e cabelo desgrenhado) sai de casa.

- Fala, cuzão! - John dá um toque em seu amigo, que entra no carro, o empesteando com cheiro de tabaco e suor. Esse cara não toma banho?

- E aí, mano. - ele percebe a minha presença no carro e aponta para mim com o polegar - Quem é ela?

- Eu falo, sabia? Podia perguntar diretamente a mim.

- Tá, tanto faz. Quem você é?

- Sou irmã do Jonathan.

- Ah, cara, se eu soubesse que você tem uma irmã tão gatinha, teria ido te fazer uma visita.

- Eu ainda estou aqui, se não percebeu.- suas palavras me causam repulsa, os ignoro o resto do trajeto. Desço do carro e dou de cara com Laura e Lily, minhas melhores amigas, duas gêmeas com estilos totalmente diferentes.

Enquanto Lily é mais doce e gosta de vestir tons pastéis, Laura segue o "meu padrão" de estilo. As duas são muito unidas e nós nos conhecemos desde sempre.

- Uh, Ali, quem era aquele gatinho no carro? - Laura pergunta, com um sorriso estranho.

- O meu irmão ou o outro? - faço uma careta só de imaginar Laura com o meu irmão.

- O outro. - Laura gargalha pelo modo como eu reagi, com uma careta e um som estranho.

- Um tal de Fabrício Jeffrey, eu acho, não lembro o nome dele.

...

A aula de literatura foi um saco, mas finalmente o tempo passou. Laura e Lily me deram carona até a minha casa, onde eu encontrei John em um telefonema. Me despeço delas e pego uma parte da conversa.

- Cacete, mano, mó vacilo, não acredito que o Alex fez isso.

- Pois é, velho, agora a banda tá sem guitarrista, acredita? Eu com ódio da cara daquele puto.

- Caralho, cês deviam ensinar uma lição a ele. Mas e aí, como vai ficar? Vocês vão procurar outro guitarrista ou a banda vai acabar?

- Era isso que eu tava pensando, mano. Tu não conhece nenhum guitarrista? Sei , qualquer pessoa que manje desses assuntos.

- Pior que não, mano. Ninguém. - Quando ele fala isso, o encaro e limpo a garganta, arqueando a sobrancelha - Só um minuto - afasta o telefone e me olha feio - O que foi, porra?

- Você sabe muito bem que eu toco guitarra. Por que não falou nada?

- E você acha mesmo que eu iria te indicar para ele? Nunca mesmo!

- Por favooooor?

- O que eu ganho em troca?

- Eu te apresento uma amiga minha. - digo sem pensar, quando percebo, a merda já está feita.

- Fechado, então! - encosta o telefone de novo e torna a conversar - Cara, acho que conheço alguém, sim. Se prestar para alguma coisa, é sua.

- Sério? Quem?

- A minha irmã, Alicia. E aí, topa?

- Caralho, dois coelhos numa cajadada só. Manda pra cá, porra!

- Tá ouvindo, Alicia? Vai na porra do ensaio amanhã e não se atrase, porque eu não vou estar nem aí se você perder o horário. E acho bom curtir a sua parte do trato, a Laura é bem bonitinha.

Rodrick Heffley É Um Idiota!Onde histórias criam vida. Descubra agora