O demônio de bronze

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"Você vai. E você mesmo sabe o motivo, não é?"

Mori sabia dobrar Dazai de uma forma que Dazai via chegando e mesmo assim não conseguiria evitar, assim como um tiro. Mori dizia com certeza entender a mente de Dazai, afirmando que eles eram iguais... Quantas vezes Dazai ouviu Mori deferir aquela sentença e foi obrigado a agir? Quantas vezes ele mesmo reproduziu a fala com o mesmo intuito?

Ações são necessárias, sacrifícios são feitos. Quando se é um modelo, suas motivações pessoais não são mais relevantes que a causa. Seus gostos e desgostos aparecem como um detalhe do que é necessário fazer… Dazai odiava como aquele pensamento era claro agora e como ele o utilizava diariamente, afinal, foi o que Mori o ensinou no dia que Odasaku morreu.

Dazai parecia ter uma visão clara do mundo e dos acontecimentos, não havia espaço para dúvidas que fossem incentivadas por seus próprios desejos. "Eu quero viver" pode ser o grito final de alguém que Dazai precise matar, enquanto seu próprio desejo de encerrar com os seus problemas se matando não pode ser posto acima das consequências de suas ações. Ele não conseguia ignorar o que pode acontecer com as pessoas que ele se importa, mesmo que, diretamente, não seja algo que ele precise lidar. O demônio Fyodor é um problema de Yokohama, o que tira a divisão de até onde só a máfia ou só a ADA lida com ele, mas para Dazai era claro que o rato sabia disso desde que entrou nesse território.

Se aquele rato busca uma ferramenta que transforma a realidade, o mínimo que ele precisa fazer é alcançar o nível de jogo de Dazai. Ele já se definiu um rival e jogou as regras na mesa. Eles iriam se divertir, mas logo que Fyodor cansasse, o obstáculo seria eliminado.

Retirar a pessoa capaz de controlar e organizar as duas maiores organizações era algo que Dazai faria, então ele facilmente vê o encaminhamento de fatos nessa abordagem de Fyodor e mesmo assim aceita se render a ela. Era como um tiro.

Mas Dazai ainda assim tinha uma vantagem maior que o demônio, ele tinha uma pessoa tão carismática e articulada quanto ele, alguém que — diferente dele — facilmente cativava quem quisesse enquanto se esconde em plena vista. Ele e Mori Ougai poderiam ser iguais e, se esse fosse o caso, Dazai usaria essa vantagem.

Ele precisava entender o que fazer, até onde entraria em contato, até onde os manteria informados, o que ele poderia usar… Eram muitas coisas para alinhar enquanto mantinha uma máscara em seu rosto que aos poucos sugava seu fôlego. Subornar a ala médica que trabalhava com o Setor Especiais provavelmente foi a parte mais simples, se manter em pé agora era o desafio. Respirar doía. Ele odiava a dor.

Foram longos minutos encarando a porta da Agência, planejando meticulosamente cada passo. Não precisava falar demais com ninguém, daria uma desculpa qualquer sobre Ango o ter cobrado por um favor e então comentaria sobre deixar a ADA… Mas nunca chegava a uma forma natural de dizer essas palavras, a melhor opção era improvisar.

— Estou de volta! — Dazai anuncia quando finalmente abre a porta do escritório. Ele ria e se parecia como sempre se fez parecer, mas não conseguia sentir que aquilo parecia natural como antes. Pela primeira vez em muito tempo ele sente que pode quebrar se algo não sair como planejado.

— Dazai! — Quando gritam pelo seu nome, tudo já estava fora do planejado. Ele se assusta e vacila por um segundo, mas isso foi ocultado pelo fato que Atsushi pula nele com tudo. Ele não pode evitar olhar diretamente para Kunikida, até um mês ainda era um tempo aceitável para manter o controle da situação. Ele sabe que Kunikida não ignoraria um documento tão detalhado, mas mesmo assim o loiro tinha feito parte do coro surpreso quando Dazai chegou.

Dazai estremece de dor, sentindo seu corpo esquentar pelo o quão forte Atsushi o apertava, mas ainda assim se fazia rir e dava tapinhas carinhosos na cabeça do garoto tigre. Precisava o fazer parar de acidentalmente abrir os ferimentos.

Osamu Dazai: Um Homem Em Declínio? (2021)Where stories live. Discover now