O convite

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Acordo péssima. Minha cabeça dói. Meu estômago está embrulhado. Minha consciência pesa um pouco.

Não deveria ter sido grossa ontem a noite. O barman estava sendo gentil.

Mas ficar fundindo meus neurônios com isso não vai ajudar em nada. Levanto e me arrumo para as aulas. Estou de férias da perícia criminal e aproveito esse tempo para dar aulas de esgrima para as crianças da escola perto de casa. É terapêutico.

Coloco ração para minha gata, Tatterfel, tomo uma aspirina e pego meu sabre.

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-Você deveria voltar lá -sugere Vivi -Falar com o cara.

-Sim, Jude -fala Heather quando vê minha cara de desgosto -aproveita e seja educada.

Estou almoçando no restaurante de sempre com as meninas de sempre. Ou quase.

Vivi, minha irmã, Heather, sua namorada e Lil. Falta Taryn, mas é melhor assim. Não sei se quero vê-la de novo tão cedo.

-Jude -chama Lil -Sei que tem motivos para estar assim, para agir desse jeito. Mas queremos só te ajudar. E acredite em nós quando dizemos que o certo é ir falar com Cardan e se entender com ele. Acho que vocês se entenderiam de verdade.

-Ok ok! Eu vou. Já estava me sentindo meio culpada, e vocês são terríveis.

-Sabemos disso, irmãzinha -diz Vivi piscando para mim -Mudando para um assunto mais sério e delicado; quer falar sobre Locke? Sobre Taryn?

-É a história que vocês conhecem. Não quero ficar dissecando isso, por favor. Heather fala alguma coisa.

Ela começa a contar alguma história doida do estúdio. Heather é designer, e sempre tem ótimos causos dos clientes, mas hoje não presto muita atenção. Normalmente adoro as histórias de Heather, mas normalmente não tenho um coração partido e uma sensação de culpa nas costas. Preciso falar com aquele barman. Será que ele está no bar de tarde?

-Vou indo -anuncio, me levantando -Tenho uma coisa pra resolver.

-Vai falar com o cara do bar? -pergunta Vivi pegando o dinheiro que estendo.

-Talvez. Paga minha conta, sim? Tchau gente!

Um coro de "Tchau Juju" se ergue, mas já estou de costas acenando. Entro no meu carro e coloco Queen para tocar. Freddy Mercury é uma boa ajuda.

Vou cantarolando pelo caminho e, quando dou por mim, estou no estacionamento do bar. Respiro fundo, abro a porta e saio.

Entro no bar e tem um cheiro gostoso de especiarias no ar. Canela e cravo suponho. Repito pra mim mesma que é só um pedido de desculpas normal, e vou até o balcão. Toco a campainha e procuro meu celular na bolsa.

-Boa tarde, Juju.

Sinto um leve deboche na voz já conhecida. Ergo os olhos e vejo o barman, Cardan.

-Oi principezinho. Vim aceitar a proposta do bilhetinho ontem a noite.

-Não vou pedir desculpas pela brincadeira. Você estava terrivelmente péssima. Vai querer o que?

-Eu não estava péssima! Ao menos não tanto assim. E quero um suco de abacaxi com hortelã.

Ele parece desconfiado, mas acena positivamente com a cabeça e busca o suco. Volta com dois copos e senta ao meu lado.

-Tá fazendo o que aqui? -pergunto

-Posso perguntar o mesmo pra você.

-Eu perguntei primeiro, Cardan.

-Já sabe meu nome -ele fala com um sorrisinho ladino -Eu trabalho aqui, Juju. Sou o dono, na verdade. O bar é meu e do meu amigo, Valerian. Mas ele está viajando com a família e eu estou sozinho. Agora você.

-Tá. Eu vim... pra pedir desculpas. Não lembro muita coisa, mas sei que fui grossa com você. Me desculpa?

-Não estou certo quanto a você merecer meu perdão. Meu ego foi profundamente ferido ontem.

-Por favor, Cardan. Eu bebi e...

-Tô brincando, Juju. Sem problemas. Quer me contar o que aconteceu? De verdade?

-Adoraria, mas tenho que ir -ele faz uma cara de cachorro pidão. Meus deuses -Tenho aula de esgrima.

-Você treina?

-Na verdade ensino -por que estou com vergonha? -Aproveito as férias da faculdade para ensinar.

-Isso é legal de verdade, Juju.

-É Jude. Meu nome é Jude.

-Jude. Então, Jude, -ele destaca meu nome, com implicância -sábado à noite minha amiga vem cantar aqui. Vem e traz teus amigos. Te pago uma bebida. -ele diz a última parte com uma piscadela e sinto um calorzinho nas bochechas. Se controla, Duarte.

-Vou anotar sua súplica na minha agenda, Cardan -também destaco -Preciso mesmo ir. Até a vista.

-Até -sinto que Cardan vai brincar com alguma coisa, então viro de costas e vou andando.

Creio que acertei. A voz dele me acompanha. Um coro de Jude Jude Jude Jude Jude Jude Jude Jude Jude Jude Jude Jude Jude Jude Jude Jude Jude Jude Jude Jude.  

No Coroa de Sangue -JurdanKde žijí příběhy. Začni objevovat