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Sexta-Feira 13 de Maio de 2011

10:30 PM

Chloe, Sam e sua irmã mais nova Abigail, estavam sentadas na sala de estar na casa dos Brown, dois colchões estavam dispostos com cobertas, espalhado pelo chão havia sacos de salgadinhos, refrigerante, chocolate e ao fundo havia uma lareira acessa que fazia o ambiente ficar mais aconchegante, no canto havia portas francesas que davam acesso ao quintal, devido à escuridão a única coisa que dava para ver eram árvores, que balançavam com o vento, uma vez ou outra era possível ver um raio caindo ao longe. Chloe podia sentir que aquela noite não era como as outras, parecia que algo a observava, essa sensação permanecia desde o incidente mais cedo, não havia comentando com ninguém, por medo de todos dizerem que estava ficando louca, e nem ela mesmo acreditava no que havia acontecido, não podia ter sido real, talvez fosse apenas a sua imaginação. As conversas com Sam e os filmes a distraíram por umas horas, mas a sensação voltou quando Abigail pediu para irmã contar a história da capela, era algo bobo que elas sempre faziam, contar histórias de terror antes de dormirem, no fundo Chloe não queria, não naquela noite, mas era a primeira vez que Abigail participava, ela estava tão animada, havia se aninhado no meio das cobertas segurando seu ursinho de pelúcia preferido, Wybie, era impossível dizer não, ela olhava toda animada para Sam, esperando que ela começasse.

Sam – A história que vou contar aconteceu bem aqui em Newtown em 1705, quando a cidade ainda era um pequeno vilarejo, histórias de terror são cheias de absurdos para assustar, como monstros e coisas irreais, mas essa história é diferente, porque o mais assustador é a crueldade humana e o fato de tudo isso ter sido real e que as marcas sangrentas deixadas em fevereiro de 1705 ainda escoam nos dias atuais, deixando mais rastros por onde passa, destruindo famílias e arrancando cruelmente a alma de jovens garotas, apenas deixando gritos de horror como suas últimas lembranças. Na antiga Capela de Newtown, o pastor William se preparava para voltar para sua casa que ficava a poucos metros, mais adentro da floresta. O vento soprava forte balançando toda aquela pequena estrutura de madeira, o pastor olhou pela janela, mas não conseguiu enxergar muito devido à chuva que a aumentava a cada segundo, quando tudo acabasse aquela seria uma das chuvas mais fortes de Newtown e aquela noite seria lembrada para sempre. Enquanto terminava de guardar alguns panos no quartinho que fica perto da escada que levava para o sótão da capela, a porta principal se abriu abruptamente deixando o vento frio entrar, o pastor estremeceu com a brisa fria, uma jovem garota entrou correndo, toda molhada pela chuva, era Lucy, sua filha mais nova. A garota tentava dizer algo, mas com a chuva forte e sua voz ofegante era difícil entender o que a ela queria dizer, sua expressão era assustada, como se algo terrível tivesse acontecido, o pastor apenas conseguiu entender duas palavras: Emma, ajuda! Foi o suficiente para o pastor sair correndo em direção a sua casa em meio a chuva forte, imaginava o pior, esperava encontrar Emma machucada, mas a cena foi muito diferente. Sua filha mais velha estava descendo as escadas, com uma bolsa grande, não aparentava estar machucada nem nada, não precisou ouvir explicação nenhuma, sabia muito bem o que estava acontecendo, Emma estava fugindo.

Os minutos seguintes pareceram durar horas, uma discussão se iniciou, Emma queria fugir com seu amado, mas o pastor William nunca deixaria isso acontecer, estava furioso, gritava para todos os cantos, enquanto a pobre garota chorava, seu pai agarrou seu braço e tentou arrastá-la de volta para seu quarto, sua expressão era como um animal feroz, não havia um pai ou um pastor, apenas a raiva. Decidida a continuar com seu plano, Emma o empurrou, fazendo o cair e saiu correndo o mais rápido possível, se fosse ágil o bastante conseguiria despistá-lo no meio da floresta e encontrar Josh a tempo, estava escuro e chovia como nunca antes. A jovem correu pela sua vida, não olhou para trás e não parou até que escorregou em uma pequena ravina, naquela noite tudo parecia diferente, não sabia exatamente onde estava, era como se fosse uma floresta totalmente diferente da que conhecia, mesmo com a chuva aquela local parecia absurdamente silencioso, escutou passos vindo de todas as direções, tentou se levantar, mas não conseguiu se mexer, o medo a dominou, os passos ficavam cada vez mais altos e quando se virou, viu a figura de.....

TRIMM... um celular tocou interrompendo a narração de Sam.

Chloe – Aló! Ah oi vó, tudo bem? O quê? Entendi, to indo agora, fica calma. - ela desliga o celular e se levanta rapidamente pegando todos seus pertences. - Eu tenho que ir, o Luck ta passando mal, parece que ele teve outra crise.

Sam – Merda! Achei que ele iria ficar sóbrio dessa vez. Ta chovendo muito, eu vou chamar meu pai para te levar.

Chloe - Não precisa, eu vou pelo caminho da antiga igreja, é mais rápido, ainda mais nessa chuva.

Sam – Me avisa quando chegar.

Chloe saiu correndo o mais rápido que podia, Luck era seu meio irmão, estava tentando ficar sóbrio, mas as vezes tinha uma recaída e ficava muito agressivo, quando isso acontecia ela sempre sabia o que fazer. Por um momento, antes de pegar o atalho pela floresta e adentrar naquela escuridão, ela hesitou e pensou se realmente deveria ir, o dia inteiro estava sentindo como se algo estivesse errado, como se alguém tivesse encaixado a peça errada em um quebra-cabeça, tentando fazer com que pareça certo, mas no fundo o mesmo sentimento fica, que algo está errado, afastando esses pensamentos e tomando coragem ela seguiu o caminho correndo, sem olhar, nem pensar, nem parar, seu corpo estava frio devido à chuva e correr ficava mais difícil, quando chegou perto de uma pequena ravina parou abruptamente, não se lembrava de haver uma ravina naquele local, pensou que havia pegado o caminho errado, mas esse era o único caminho, talvez devido à chuva tenha se perdido, quando essa palavra surgiu em sua mente, chuva, ela finalmente percebeu o quão silencioso estava, ainda chovia muito forte, mas não conseguiu ouvir os pingos ou trovões, escutou apenas passos pesados, por todos os cantos, então se lembrou de Emma e de como ela havia morrido. Dessa vez Chloe olhou para todos os lados, não havia nada, absolutamente nada, então os passos cessaram e um som começou, bem fraco e foi aumentando lentamente.

Chloe – De novo não! - sussurrou para si mesmo, esperando o pior.

Enquanto isso na casa dos Brown, o celular de Sam toca, era o número da vó da Chloe, esperava receber notícias de que ela havia chegado em casa e estava tudo bem.

Sam – Oi senhora Vilma! - a voz doce no telefone ecoou calmamente, como se tudo estivesse bem.

Vilma – Desculpa te ligar querida, mas o celular da Chloe está dando fora de área e queria avisar para ela não ficar preocupada caso ela chegue amanhã e eu não esteja em casa, eu vou pra missa. Ahhh também avisa que o Luck vai trabalhar amanhã cedo. - Sam engoliu em seco enquanto absorvia tudo, se tudo estava bem e essa era a avó de sua amiga, quem ligou para Chloe?

Então Veio o NadaWhere stories live. Discover now