Capítulo 5

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Ele entrou no banheiro dos meninos, e nós, no das meninas.

-O que acha disso? – Liza me perguntou.

-Não sei. – falei pensativa. – Mas ela deve estar feliz. Isso basta... Não é?

-Também não sei. E se for só coisa do momento? Impulso dele? – me perguntou.

-Sabe de uma coisa, se é impulso ou não, ela está feliz. – falei. Se Liza tinha dúvida, então podíamos classificar em: “sem solução” e “não tem jeito”. – E quanto a ele, deixa o tempo dizer.

Eu esperava estar certa do que eu estava falando, a dúvida também me consumia. Não conseguia pensar bem, ao ponto de esquecer meu sobrenome. Estávamos saindo quando dei de cara com Keith e suas cópias de Keith.

-A bela adormecida está bem? – perguntou e por um segundo pensei que ela poderia se importar com mais alguém sem ser ela mesma, mas mesmo assim era ela.

-Não te interessa... Ah, quer saber? Ela está sim, bem melhor que você que não se machucou. – falei e sai irritada com Liza atrás de mim.

A voz de Keith ecoou pelo banheiro até os meus ouvidos.

-Que bom, talvez ela te ajude a tentar ser melhor. – gritou de dentro do banheiro.

Como assim “ser melhor”? A ruim da história era ela. Entrei no banheiro novamente, mas ainda estava no corredor quando Liza segurou no meu braço e eu senti o quanto estilo Keith eu estaria agindo. Tive vontade de dar uma surra nela – eu não sou de briga, mas, a emoção é tudo –, voltar lá e falar o quanto inútil e imprestável era ela, mas eu estaria fazendo o que ela queria. Ela queria que todos me vissem como uma má pessoa. E eu não estava afim de dar aquele gosto a ela. Era como se Ares – o deus grego da guerra –, estivesse lá naquele instante, instigando uma briga interna e externa do meu corpo. Praguejei que as fúrias levassem-na para as profundezas do mundo inferior e que as Arai fizessem tanto inferno a ela, quanto ela a mim. Gritei por Kaio na porta do banheiro dos meninos, já estava impaciente e não tolerava mais quase nada. Meu limite tinha acabado... e o meu orgulho, atingido.

-Foi construir um lugar para urinar? Ou você está lerdo demais? – sai sem querer saber da resposta.

-Nossa... Que bicho te mordeu lá dentro? – perguntou espantado com a ignorância da minha voz.

-Nenhum... Cala a boca e anda...

O silêncio voltou a tomar espaço e ficamos calados. Enquanto caminhávamos eu pensava nas consequências que uma palavra poderia fazer na vida de alguém... imagina uma briga. Agradeci por ter Liza nos momentos em que não penso.

 Durante o pensamento, lembrei que uma vez minha prima havia me provocado durante a manhã inteira e quando eu me alterei, um pouco demais até para mim mesma. Eu só queria estar ali, sem ninguém por perto. Estava a ponto de explodir, comecei a quebrar qualquer objeto que encontrasse por perto e quase fazia o mesmo com ela. Por isso que tenho medo de me contrariar demais.

Continuei calada mas eles começaram a conversar mais à frente. Eles riam, e tentavam me envolver no assunto querendo me fazer sorrir, contando piadas, e outras coisas chatas. Acabei desmanchando a carranca e pus uma expressão mais normal. Ainda estava irritada – muito irritada –, e isso ia ser demostrado assim que mudássemos de assunto. Meu celular tocou no meio de uma piada sem graça de Liza. Tirei ele do bolso, olhei o visor e o identificador de chamadas mostrava que era a minha mãe, tinha o número salvo como “mãe”. Provavelmente queria saber como eu estava. Fiz o melhor que pude com a minha voz, endireitei os ombros como se isso fosse modificar alguma coisa e por último me certifiquei que não tinha nervosismo em minha mente ou em minha voz, qualquer coisa diferente em mim poderia dar início a um questionamento infinito, só então tomei coragem para atender.

-Alô!

-Oi meu amor, está tudo bem? – falou carinhosamente. Minha mãe é daquele tipo meloso, e muito protetor, quando eu estava longe. Ela sempre me liga várias vezes no dia. Isso poderia ser bom, mas ninguém gosta de carinho a toda hora, e logo eu que barro as emoções com uma voz fria... pensei se ela já tinha desejado uma filha melhor.

-Estou bem sim. Vou largar em horário normal. Estou quase chegando na enfermaria com Liza e Kaio. Quem se machucou foi Hannah e ela já está bem. E eu não estou matando aula. – despejei todas as informações de uma só vez. Eu já estava impaciente, e sabia tudo o que ela ia perguntar sobre meu dia.

-Hm... Está chateada? – me perguntou.

Ela percebeu que alguma coisa aconteceu? Minha voz me entregou? E se ela está só jogando verde para ver se eu digo alguma coisa? Ou ela está só sendo atenciosa comigo?

Fui muito burra em responder tudo de uma vez. Claro que ela iria notar. Burra! Me xinguei.

-Não... só estou com sono. – falei tentando ser um pouco mais doce dessa vez.

-Melhoras para Hannah, e até mais tarde. Parece que não quer conversar e parece também que está ocupada. – disse para encerrar a conversa – Tchau. Bom fim de tarde.

-Tchau!

Não sei como nem o porquê, mas, a raiva se esvaiu da minha mente aos poucos depois de ouvir a voz dela no telefone. Percebi que Liza e Kaio tinham parado de falar, e estavam sentados no banco em frente a enfermaria e dessa vez eu que começo a conversar. Não sobre Hannah, ou o bibliotecário, ou como a professora de matemática era irritante, nem mesmo sobre qualquer estudante dali. Estávamos falando de como Rayele e eu quase fomos expulsas no meio do ano passado.

Tempos ConfusosWhere stories live. Discover now