• Capítulo 5 •

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Abro os olhos, e o meu amor ainda dormia tranquilamente. Apenas o rosto dela estava virado na minha direção, com a mão meio aberta próxima dele.

Com cuidado, estendo um pouco o braço para acariciar os cabelos de Flávia, descendo sem pressa, tocando a maçã de seu rosto, seu ombro. Não faço a menor ideia de que horas são. Apenas fico aproveitando o momento e fecho os olhos outra vez.

— Bom dia... — As palavras saem sem que eu me dê conta após um toque suave percorrer a minha mão. Meus olhos continuam fechados e um sorriso começa a aparecer em meus lábios, mas tudo se desfaz muito rápido no segundo em que o toque vai se tornando algo frio sob a minha pele.

Tenho um sobressalto, afastando a minha mão e abrindo os olhos ao mesmo tempo. Minha expressão foi de serena para inquieta rapidamente, com o coração acelerado. Flávia permanecia adormecida, mas tinha uma terceira pessoa em nossa cama, mantendo o braço pálido por cima do corpo dela.

A Morte.

Ela estava usando o edredom para cobrir seu corpo enquanto apoiava a cabeça em uma das mãos para me olhar melhor. O mesmo olhar penetrante de sempre, acompanhado de um sorriso discreto, mas que gelava a minha espinha. A Morte voltou a se mexer, e começou a acariciar Flávia, traçando um caminho contrário ao que eu estava fazendo agora há pouco em seu corpo. Ela não falava nada, e nem eu parecia ser capaz de dizer alguma coisa.

Estou assustado quando consigo acordar. Envolvo o corpo de Flávia por reflexo quando me dou conta da realidade e suspiro contra os cabelos dela uma vez, fechando os olhos ao fazer isso. Não me lembro como chegamos nesta posição — ela sendo bem abraçada por mim e por trás —, mas estava sendo extremamente útil para me acalmar.

— Hmm... — Flávia diz inconscientemente e começa a se mexer. Não devia ter abraçado tão forte. Só fiz algo sem pensar por ter estado com medo.

Ontem à noite estava tudo indo tão bem. Foi o suficiente para que eu me esquecesse por horas dessa maldita coisa sobre morrer em pouco tempo. E a Morte não me disse nada sobre mudar o meu destino, como em vezes anteriores. Não posso ser burro a ponto de achar que isso é boa coisa também. Só o fato de ter visto a figura novamente não é algo bom. Pior ainda: ela estava interagindo muito mais com a Flávia. Começar uma vida juntos, proteger essa mulher de tudo o que posso não parece ser o bastante. Ou será que não passou de um sonho ruim pelo meu medo de perdê-la?

Flávia volta a se mexer, e eu imagino que ela esteja acordada agora. Não quero aparentar tanta preocupação e trato de estar com uma cara um pouco melhor antes que ela se ajeitasse para estar de frente para mim, da mesma forma que dormimos.

— Bom dia, doutor — ela diz, ainda um pouco sonolenta. Que sorte eu tenho em poder acordar ao lado dela desse jeito.

— Bom dia. — Não consigo ficar sem sorrir, apesar da tensão recente. Faço um carinho no rosto dela. — Desculpa se acabei te acordando.

— Nem parece que eu acordei. Parece um sonho.

O comentário adorável dela me ajuda a relaxar mais um pouquinho. Sim, parece um sonho. Mal tenho vontade de sair do quarto para encarar o mundo outra vez.

— Mas você estaria menos preocupado nesse tal sonho — Flávia continua. Ela percebeu, afinal. — Não dormiu bem?

— Fazia tempo que eu não dormia tão bem, mas tive um sonho chato. Um pesadelo.

— Quer me contar?

Dava para notar a preocupação sincera dela. Eu não queria começar o nosso dia com esse tipo de coisa, mas imaginei que Flávia fosse insistir em algum outro momento. Conto sobre o sonho, tendo receio de dar certos detalhes, e vou me arrependendo um pouco, com as mudanças no rosto de Flávia.

Good For You (FlaGui shortfic)Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora