M I S A N D R I A

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Se eu soubesse que seria assim, teria evitado de tudo para jamais tê-lo conhecido. Perda de tempo, de vida, de ar. Mas não são todos assim?

Tudo começa bem: um papo agradável, beleza considerável, charme de sobra. Me encanto. Quero passar horas a fio conversando interminavelmente sobre tudo! Ele é tão inteligente quanto eu, e sabe disso, o que o faz ser meio... Metido. Mas tudo bem, as qualidades são boas, ele tem um belo futuro pela frente.

E aí... Começa a desmoronar. Já não enxergo mais o rapaz belo e ambicioso, mas sim um prepotente egocêntrico, que acha que suas ideias e pensamentos são a coisa mais importante do universo. Ele me cobre de fatos inúteis sobre si mesmo, como se eu fosse uma serva, uma admiradora, e já não há mais parceria, e sim uma hierarquia, em que ele quer estar sobre mim o tempo inteiro.

Notei isso até no sexo. Se antes as posições eram variadas, agora ele faz de tudo para me ver por baixo dele, dominada, sufocada. Na faculdade? Ele precisa provar que é melhor do que eu em tudo, mas estamos em cursos completamente diferentes. Seus projetos são constantemente mais importantes que os meus, como se eu fosse uma garotinha infantil.

Isso sem falar que agora ele já não me trata mais como uma igual, mas como inferior. Para ele, não sou mais digna de conversas intelectuais. Não sou mais admirável pelo meu conhecimento. Mas ai de mim se eu não prestar atenção em uma palavra do que ele diz. Emburra e me ignora por dias a fio, e eu me pego aproveitando o silêncio e a paz. O que antes eram qualidades se tornaram pequenos ódios. Se eu continuasse no mesmo patamar que ele, talvez não fosse assim, talvez fosse mais suportável, um casal brilhante. É o que me diziam, que éramos perfeitos juntos.; mal sabiam que entre quatro paredes, eu era o saco de pancadas emocional desse homem inseguro e, agora eu sabia, burro.

Ele já não ouvia mais, mas será que realmente ouviu algum dia? Ou só registrava o superficial pra me conquistar e depois o esforço era mínimo? Nossa, era insuportável conviver com aqueles amigos dele... Sempre chapados, falando um monte de merda, jogando videogame o dia inteiro, e ainda reclamando. Quando era comigo, nossa, só faltava destruir a casa de raiva.

"Perdão pela interrupção. Ele chegou a agredir você? O que exatamente "era" com você que ele não gostava?"

De sair comigo para os meus rolês ou com as minhas amigas. Ele surtava completamente. Falava que eu tava indo fofocar de macho com elas, um monte de bobeira. Eu acabava não indo pra evitar a fadiga, sabe? Era exaustivo. E não. Ele nunca me bateu, já socou parede, quebrou copo, mas em mim não relou. Ele não é doido, ia apanhar.

Vê porque ficou insuportável? Mas antes fosse um homem só. Foram vários, o mesmo processo. Há algo errado comigo? Ou será que sou consciente demais, inteligente demais e tenho amor próprio o suficiente para não me sujeitar a esse tipo de relacionamento furado? Quando começa a ficar assim, eu pulo fora e viro a vilã da história. Simplesmente não suporto viver assim, à sombra de homem inseguro. A solidão eterna é preferível do que me submeter a uma pessoa tão infeliz e enganada sobre si mesma. Deus tenha piedade desse idiota. Vejo minhas amigas nessa situação e tenho vontade de gritar, porque de alguma forma elas aguentam, e eu não sei se eu sou a errada ou elas que engolem demais...

"E você acha que, durante seu relacionamento, fez algo de errado?"

Nossa, várias. A primeira foi ter começado. Mas eu admito que deixava minhas emoções tomarem conta, em vez de conversar. Só que parecia que não adiantava conversar, ele não ouvia. Ele me traiu e jogou a culpa em mim, admito que estourei e gritei muito, queria ter mantido a dignidade e terminado ali mesmo, mas engoli seco e segui e frente. Meu maior erro foi achar que dava pra consertar algo que estava quebrado, mas que não era meu para ser reparado... E tudo, segundo ele, porque eu não tava mais transando. Poxa, eu não tava afim mais! Eu falei antes, tava um saco ele me dominando em tudo, sempre por cima, sempre forçando, implorando pra algo acontecer, e eu não queria nada daquilo, então dava desculpa.

Foi um aprendizado. Agora eu sei que, se encontrar outro igual, eu fujo e nunca mais olho pra trás. Ele com certeza ainda acha que está coberto de razão, imune à críticas. Um dia ele cai do cavalo, eu sei que é feio, mas torço pra ele se foder bonito. Isso é maldade minha, e acho que ele merece mesmo.

Terapia de (ex)CasalWhere stories live. Discover now