Tio William

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    Frio, medo, tristeza, dúvida. Todas essas sensações assombravam a mente e o corpo da pequena Charlotte Emily, uma garotinha de cerca de seis anos, filha de Henry Emily, um dos donos da pizzaria local chamada de Fredbear Family's Dinner. De uns anos para cá, o estabelecimento fica cada vez mais famoso, atraindo um enorme e fiel público. Tudo isso graças às atrações robóticas que o próprio Henry, e seu parceiro e amigo William Afton, construíam para divertirem e alegrarem a criançada.

    Charlotte estava completamente molhada, devido a noite chuvosa e densa do lado de fora. Mantinha o rosto rente a janela, apenas para observar um grupo de garotos rindo da mesma, após terem a deixado presa ao lado de fora. De seu pequeno rostinho branquelo, lágrimas escorriam, mesclando-se as gotas d'água que caíam sem parar, ensopando seus cabelos castanhos e deixando-os escorridos pela face. Em seu braço esquerdo, sua pulseira de cor esverdeada brilhava forte, como se tentasse chamar atenção de algo; de fato, ela estava. Mas de algo que nunca poderia alcançá-la.

    Do lado de dentro, encostada na parede, uma enorme caixa de presente de mais de dois metros de alutra e largura, enfeitada com um grande e belo laço rubro. Sua tampa pulava constantemente, como se algo que estivesse dentro tentasse sair para fora a todo custo. Todavia, impedindo sua saída, uma pilha de caixas encima da tampa, pesando-a e negando a liberdade ao ser preso ali dentro. Por mais que não fosse humano e não pudesse sentir, seus circuitos pareciam queimar, ardendo e implorando que fizesse algo. Que saísse dali de alguma maneira. Qur chegasse na criança presa do lado de fora a todo custo... Mas isto era impossível por agora.

    Ainda presa, Charlie se indagava o que havia feito de errado. Seu choro não cessara em momento algum, começando a tornar-se mais uma espécie de soluço tristonho, que vez ou outra era cortado por uma tosse repentina. A garota abraçava o proprio corpo na tentativa de se esquentar, o frio a consumia tão forte quanto o medo; os ventos gélidos cortavam a pele como uma navalha, a chuva gelada resfriava e arrepiava a pele com vigor, e o medo parecia trancar seu estômago e corpo, impedindo seus movimentos. Tentou chamar por seu pai, mas foi em vão. Tentou berrar o mais alto que pôde, mas ninguém a escutou, muito menos Henry. A música na pizzaria estava alta demais para que a ouvissem.

    Desesperada, desencostava a face da janela, conformando-se que ninguém a veria. Aquele grupo de meninos já havia partido, provavelmente indo ver as grandes atrações: Fredbear e Springbonnie. Charlie ouviu seu pai comentando sobre ser aniversário do filho mais novo do tio William, mas nem ao menos encontrou o garoto no dia. Sendo bem sincera, a menina não sabia até hoje o nome do garoto, só que o chamavam pelo apelido maldoso de "menino chorão", ou algo assim.

    De repente, um pensamento veio a cabeça da criança: talvez se fosse até os fundos, poderia encontrar uma saída de emergência e entrar por lá. Seu próprio pai já havia lhe dito uma vez que, caso algo acontecesse e a entrada estivesse bloqueada, a saída dos fundos estaria sempre livre. Com isso, encheu-se de esperança, e por um segundo, esqueceu-se do medo e do frio. Sua caminhada, entretanto, era lenta e difícil. Um passo de cada vez, o pequeno corpo se locomovia até onde desejava. As gotas de chuva começavam a cair mais vigorosamente, junto à pequenas pedrinhas de granizo que machucavam a garota no contato. Tentou apertar seu passo, correndo o mais rápido que conseguia.

    Contornando o estabelecimento, os fundos se tratavam de becos decrépitos e sujos. Várias lixeiras transbordando de sucata, restos de comida e chorume aos montes pela parede. O odor é insuportável, e a chuva só piorava, dando vontade de vomitar na menina. Segurou o vômito, mantendo seu passo rápido para encontrar logo a bendita saída de emergência. Charlie se saia bem, até que, por um infortúnio do destino, escorregava em uma pilha de granizo e caia de cara no chão, sujando-se inteira de lama e lixo. Não conseguiu mais se conter, o enjoo veio com tudo, escapando em líquido digerido e viscoso pela boca.

Do lado de foraWhere stories live. Discover now