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Danrley
2 anos atrás
7 horas da manhã - Alemão/RJ

Acordo boladão com a Jessica jogando todo o peso dela em cima de mim, por isso eu não durmo com essas mina bagulho chatão esse de dormir junto, nunca tive esses negócios de carinho e amor eu não fui criado assim, não sou acostumado com isso, fui criado pela rua e por bandido e vocês acham mesmo que bandido ia me dar carinho ?! Não fode né porra

- calfoi Jessica tô vazando ai - vou passando meu cordão de ouro pelo pescoço e botando a 12 na lateral da minha cintura jogo a camisa no ombro e é marcha

- pô Danrley toda vez você faz isso, só me come e mete o pé não espera nem o dia amanhecer cara - observo ela ficar sentada na cama enquanto segurava o lençol pra cobrir o corpo, ela aparentemente estava chateada, Jessica gosta de mim ela mesma já me meteu essas fita e da outra vez que eu rodei foi ela que me fortaleceu na tranca, tenho gratidão pela mina e entendo o lado dela pô mas também não rendo muito, Jessica já tá ligada de como é o tratamento

- pô novinha cê já devia tá acostumada com isso, não tenho tempo pá ficar te rendendo homenagem não Jessica eu já te banco te dou tudo o que tu quer e até passo a noite aqui com você mas não vem encher minha mente logo cedo, não fode né - Jessica sabe das coisas mas gosta de se fazer de vítima, não tenho nada com ela não só pego as vezes e fortaleço a mina com dinheiro e respeito ela ao máximo e ela também me respeita, dou valor nessa parada de respeito mas as vezes ela  mete esse papo torto de meter banca pra cima de mim já corto logo pra depois não sair falando que eu dei esperança, fazendo barraco e se achando fiel acho feião esses mano que ilude as mina e depois mete outro papo, coisa de moleque emocionado, eu já dou logo a letra pá depois não vim querer atrasar meu lado.

- tô metendo o pé, precisar de algo passa o fio que eu mando os mano trazer pra tu ta ligada?

- tá bom Danrley - me olhou com cara de cachorro abandonado, a mesma cara que eu fazia pra conseguir dinheiro no sinal quando era criança, esperta.

- fica na ativa que eu tô descendo da casa da Jessica agora, a do beco 10 - digo isso através do radinho, os mano tem que ficar na minha contenção - beijo novinha - vou de encontro a ela e dou um beijo de leve - de noite eu broto aqui, dá pra você? - apoio meu braço na cama

- você ainda pergunta? Só me avisa se vai vim mesmo pra depois eu não ficar esperando igual besta Danrley - dei um sorriso, não tira meu nome da boca deve tá docinho ele

-mais tarde te dou o papo vou meter o pé, se liga aí em Jessica - apontei o dedo na cara dela pra ela ficar esperta nas coisas que faz.

Vou descendo o morro a pé mesmo, minha comunidade, morro do alemão, o sol tá começando a aparecer e já tem um movimento nos becos e nas vielas alguns trabalhadores descendo o morro os bares e lanchonetes sendo abertos é assim todas as manhãs, os moradores passam por mim e alguns até me cumprimentam, não é preciso ser um filho da puta pra ser respeitado, a comunidade me respeita e eu respeito eles ta ligado?! Os moradores tão ligado que se pacificar o alemão essa porra vira um inferno, já fiz muita merda para  estar aonde eu estou cheguei nessa sozinho e estou sozinho até hoje, não rendo pra ninguém, amigo de cu é rola, na bandidagem o que mais tem é traição, um querendo o lugar do outro, dinheiro, droga, poder, mulher... Faz mudar a conduta de muita gente, depois que entra nessa não tem como sair, só tem a opção de entrada não de saída, entrei nessa porra porque não tive opção, era entrar ou morrer na rua, o sistema não dá muita opção para pobre favelado.

Entro na lanchonete e peço um pão com café sento na mesa que estava ali e boto a 12 em cima dela, observo Juninho um dos meus vapor entrar na lanchonete e vim direto no meu encontro, problema na certa pô.

- calfoi patrão, alguns morador tá sem água ai, a água não tá chegando pra todo mundo - ficou em pé de frente para a minha mesa

- calfoi, a prefeitura não resolveu essa porra ainda? Pensei que essa fita tivesse sido resolvida semana passada - desencostei da cadeira e apoiei uma perna em cima da outra

- e quando a prefeitura resolveu algum bagulho aqui do morro patrão - jogou essa na minha cara e eu concordo com o que ele falou

- tu vai fazer o seguinte, vai pedir pra algum morador ligar lá e pedir pra eles mandarem a equipe pá resolver esse bagulho da água ai, avisa que o movimento vai colaborar e deixar os mano fazer o serviço deles sem neurose, avisa que a ordem é de cima. Se eles não mandarem ninguém tu me da o papo que eu vou achar alguém que saiba resolver essa fita - apontei o dedo na cara dele.

- de boa patrão, vou resolver essa fita agora - saiu da lanchonete e seguiu descendo pela viela, observei ele pegar o radinho e falar tudo que eu tinha dito a ele

É sempre assim, a maioria dos problemas que acontece aqui pros moradores é sempre o movimento que da a assistência tá ligado? O estado não tá ligando pra porra nenhuma, a mídia só quer subir na favela quando acontece invasão, quando morre policial ai sim eles aparecem, só pra relatar desgraça porque pra resolver problema para morador é sempre o movimento que tá de frente nessa porra, ai a mídia fala que morador passa pano pra bandido, é óbvio porra, é sempre nós que tá de frente! Fico bolado com essa diferença de classe, fico bolado com a porra do Brasil, quantos manos entraram nessa por falta de opção que nem eu !? Julgar é fácil o difícil é se colocar no lugar do outro e tentar entender a realidade de cada um, essa é a minha realidade e fodasse quem me julgar, só quem pode me julgar é o lá de cima.

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⏰ Last updated: Feb 01, 2022 ⏰

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