capítulo 22

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        O céu ameaçava chover mais uma vez e o solo ainda nem tinha secado

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        O céu ameaçava chover mais uma vez e o solo ainda nem tinha secado. Ia fazer dois dias que eu tinha acordado e Serena parecia cada vez mais gelada.

Afundei os pés descalços outra vez em uma poça d'água que não vi, não adiantava mais ficar irritado com aquilo. Meus extintos não se acostumaram dentro daquela casa, mesmo com comida, ainda sentia a necessidade de correr atrás de algo para comer ou de experimentar o frio cortar a minha pele.

Mas naquela tarde eu não encontrei nada além de pássaros.

Já caminhava de volta para a casa quando avistei pequenas manchinhas roxas no chão. Me abaixei bem próximo e observei as flores com pétalas redondinhas que pareciam macias ao toque. Nunca havia tido interesse em uma flor, mas aquela era diferente, unida com mais uma dúzia idênticas à ela.

Agarrei seus caules e puxei da terra com raiz e tudo. Ficariam bonitas perto do cabelo negro de Serena e talvez ela gostasse de flores roxas ou do cheiro delas. Um dia, há muito tempo, a mamãe me falou para que eu desse flores se elas me lembrassem alguém.

Era estranho pensar em Serena. Era mais estranho ainda pensar tanto. Como alguém conseguia fazer aquilo por muito tempo? Ficar dentro da casa estava me obrigando a preencher minha mente com mais do que cheiros, sons e comida. Aquele vazio não passava e eu não sabia se era pela Serena ou pelo sonho tão real que me abriu um buraco.

– Uh violetas. – Edlynne constatou assim que passei pela porta.

Ully estava sentado no que descobri ter um nome específico, sofá.

– Vai deixar isso cheio de terra no meu quarto? – ele perguntou.

Notei sua respiração se fechar, mais forte, mas tentando se estabilizar. Seus olhos passaram pelas flores depois para mim, como se aquilo fosse algo que lhe incomodasse.

– São para Serena. – eu toquei nas pétalas e eram realmente macias.

– Claro que é. Nem todas as garotas gostam de flores, grandão. – ele voltou a olhar a tela que estava em seu colo e a teclar algumas vezes.

– Não seja por mal, eu adoro. – disse Edlynne ainda mais animada.

– Só tira essa terra toda.

Quando Ully tinha se importado com o que eu fazia?

Cortei as raízes com uma faca que encontrei perto da pia. Subi os degraus e me aconcheguei no quarto perto da cama de Serena. Lá tinha deixado mais cedo uma pena cinza que caiu de um pássaro agitado perto da casa. Ele tinha a cabeça vermelha, corpo preto e a barriga branca c omo se usasse uma roupa formal. Coloquei as flores com cuidado sobre ela, e foi como se o violeta fosse a sua cor.

Os curativos não estavam mais manchados de sangue. Toquei seu pulso para me certificar de que eles ainda estavam ali, mesmo que eu pudesse ouvir seu coração mais fraco do que da última vez. Aquela sensação de ser preenchido voltou como se cada vez que a tocasse, me prendesse em amarras cada vez mais fortes. A sensação de lutar batalhas sufocantes apertou minha garganta com as mãos fortes e me afogou, me afastei em instinto.

Amarras de Prata Rubra | PresaWhere stories live. Discover now