3: Dia chuvoso.

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Quando acordo ainda faltam dez minutos para o meu celular despertar, os raios solares já estão dando lugar ao crepúsculo que se aproxima. Aproveito os meus dez minutos que tenho para ficar um pouco mais de baixo do chuveiro, passo a minha mão pelas marcas feitas pela lâmina e o gosto amargo se faz presente na minha boca.

Todos pensam que a minha vida é perfeita, mas as coisas não são bem assim. Com o tempo comecei a aprender como disfarçar as minhas dores e enganar as pessoas para eles pensarem que tudo à minha volta está perfeito, mas às vezes eu queria só gritar e mandar tudo ir se foder.

Finalizo a minha maquiagem com um batom vermelho, passo a escova pelo meu cabelo, deixando os fios ondulados. Fico de frente para o espelho de corpo inteiro, observando o meu reflexo. Tiro os pelos do meu vestido branco e coloco um colar.

- Uma mulher nunca se exagera, ela sempre está preparada para qualquer ocasião.

Repito a frase que li em algum blog de moda, para tentar me convencer que não exagerei. Vou até a minha mesa de cabeceira e pego o meu celular e tiro uma foto no espelho.

Retiro a chave do R6 do chaveiro no quarto do meu pai e vou para a garagem, mas no caminho pego o meu brownie que comprei de manhã. Entro no banco do motorista e abro a pequena caixa de papel, o pedaço do doce está coberto por papel manteiga. Dou uma mordida e reviro os meus olhos com a mistura da castanha e o chocolate. Assim que acabo de comer, mando mensagem para Calvin.

Calvin

Minha entrada já está liberada?

Sim.

Só falar o seu nome que ele vai deixar você entrar.

Não preciso mostrar nenhum documento?

Eles vão pedir a sua identidade para fazer o seu cadastro.

No percurso da minha casa até o condomínio onde o Calvin morava, foi tranquilo sem nenhum transtorno. Quando cheguei na portaria os seguranças fizeram o meu cadastro e eu adentrei no condomínio, todas as casas aqui dentro são enormes e luxuosas, mas bem no meio do condomínio tinha a maior e mais luxuosa de todas, assim que olhei o número da mansão percebi ser onde eu estava indo.

Quando estou subindo as escadas da entrada, a porta se abre e Calvin aparece somente com uma toalha amarrada na cintura. Seu abdômen é dividido em oito gominhos, a uma pequena linha de pelos do umbigo que leva para dentro da toalha, onde percebo que o seu membro está rígido. Tento desviar o olhar, mas meu corpo não corresponde aos comandos da minha mente.

- Também gosto de ficar olhando para ele - ele mordeu o canto do seu lábio inferior e me olhou de cima para baixo - Você esta maravilhosa.

Ele se afastou um pouco para que pudesse entrar, tento evitar reparar no ambiente, mas é impossível. As paredes são pintadas em um tom claro de cinza, algumas obras de arte estão postas nos lugares feitos só para elas e o local tem poucos móveis.

- Eu me atrasei um pouco no trabalho e quando o segurança me avisou que você chegou, eu estava acabando de tomar banho - ele mantém o olhar no meu que está olhando para a toalha branca - Vou subir e vestir uma roupa. Pode ficar à vontade.

Ele subiu as escadas e a única coisa que eu queria, era que a toalha caísse. Balancei a minha cabeça espantando esse pensamento e comecei analisar as prateleiras onde tem os mais diversos troféus, dê prêmios de natação, futebol, pesquisa de campo, culinária, pecuária, prêmios internacionais e nacionais de agronomia, além de outros que não consigo identificar. Pego um dos troféus e passo o dedo na placa dourada, onde está escrito Prêmio Agro. Lucas Calvin.

- Voltei - me assusto quando ele fala atrás de mim, que deixou quase cair o troféu.

Coloco o prêmio na prateleira e Lucas me estende um copo de suco. Bebo um pouco do líquido amarelado, sentindo o gosto adocicado do maracujá.

- Está tentando fazer eu dormir? - bebo um pouco mais do suco.

- Preciso de você acordada - ele hesita por um tempo e depois prende uma mecha do meu cabelo atrás da orelha - Se você preferir eu coloco a cafeteira para fazer café.

- Não gosto de café - bebe o resto do suco do copo - Por que você não fala o seu primeiro nome?

- Você acha o meu sobrenome chato? - ele deixou o copo em cima da mesa de centro - Vamos para o meu escritório, meu iMac está lá.

Ele foi adentrando pela casa e eu o segui, paramos em frente a uma grande porta de madeira, entramos no escritório e como os outros cômodos da casa, possui poucos móveis. Nos sentamos em uma mesa no canto da grande sala, Lucas pegou uma cadeira e colocou ao lado da outra.

- Com qual praga ficamos? - ele se sentou em uma cadeira e ligou o iMac.

- Mosca-da-fruta - me sentei ao seu lado.

Começamos a fazer pesquisas e conversar sobre o que devemos colocar no trabalho. Depois de cinco horas consecutivas o nosso relatório estava pronto e Lucas colocou para imprimir na impressora do escritório. Ficamos mais duas horas procurando os venenos já usados e alguns métodos que utilizam por produtores rurais.

- Eu acredito que nós podíamos ir visitar algumas fazendas - ele se desperdiçou na cadeira e eu vi o cós da sua bóxer.

- Isso é uma ótima ideia - comecei a bocejar - Mas onde vamos achar uma fazenda de frutas, Lucas?

- Eu conheço algumas fazendas no sul do estado - ele deu uma pequena pausa - Mas temos que ir esse final de semana - ele me encarou com aqueles lindos olhos azuis - Você pode?

- Sim, o meu pai está viajando com a minha madrasta e o filho deles, o meu irmão vai chegar só semana que vem.

- Não precisava me contar sobre a sua vida pessoal - ele desligou o iMac - Passo na sua casa para te pagar no sábado às quatro da manhã.

- Está bem - bocejei novamente - Vou ir embora, temos aula amanhã.

- Quer que eu te leve? - ele ergue uma sobrancelha.

- Não será necessário, eu vim de carro.

Assim que acabei de falar, eu bocejei novamente e Lucas tomou a cabeça levemente para esquerda, me olhando como se tivesse descoberto uma das coisas mais raras desse mundo.

- Vamos, eu te levo em casa - ele colocou o celular no bolso - Não quero a minha parceira de trabalho morta.

Lucas esticou a mão e eu peguei a chave do carro na minha bolsa, entregando para ele. Saímos do escritório e ele apagou a luz e fomos para a sala principal, saí pela porta da frente e Lucas veio logo atrás de mim, antes de fechar a porta ele colocou a cabeça para dentro de casa.

- Alexa, estou saindo.

Ele fechou a porta e a casa foi tomada pela escuridão, as cortinas começaram a fechar e eu escutei a trava sendo ativada, trancando a porta. Fomos até o carro e ele o destravou, entrei no banco do carona e Lucas não demorou para entrar no carro. No caminho para a minha casa ficamos em silêncio, enquanto a chuva caia do lado de fora do carro. Quando entramos em casa o meu vestido está molhado, o deixando transparente e a blusa de Lucas estava toda molhada.

- Bom, está em casa - ele olhou pela janela - Acho melhor eu ir, antes que a chuva piore.

- Não - ele arqueou uma sobrancelha - É melhor você ficar, está chovendo muito e aqui tem um quarto de hóspede.

- Está me convidando para dormir?

- Estou prevenindo que o meu parceiro pegue uma pneumonia - um sorriso apareceu em meus lábios.

- Onde fica o quarto de hóspedes? - ele tirou a camisa molhada e a jogou em cima do ombro. Engulo em seco, admirando aquele corpo malhado e molhado.

- Segundo andar, terceira porta à direita.

Lucas me deu Boa noite e subiu as escadas indo em direção ao quarto de hóspede. Subi para o meu quarto e tirei os meus saltos, solto suspiro de alívio por poder está com os pés no chão. Retiro o meu vestido e coloco um dos meus baby doll, retiro a maquiagem e me jogo na cama, afundando no colchão. Bato duas palmas e a luz se apaga, fecho os meus olhos deixando o sono me levar para o mundo dos sonhos.

Um Doce AcordoWhere stories live. Discover now