Prólogo - Inferno Não Tão Ruim

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Reza a lenda que em lugar novo, você pode ser quem você quiser, criar a reputação que quiser e tanto faz, tanto faz, tanto faz...bem, acontece que eu tinha um nível de socialização quase zero. O bom era que a cidade que meu pai morava, Edgewood, não parecia ser tão chata quanto eu pensava que era.

– Aska Beckett! – ouvi minha mãe gritando – Preste atenção em mim!

Olhei pra ela no retrovisor e fingi tirar um dos lados do fone. Pra falar a verdade, eu acho que ia ser uma pessoa bem notável lá. Digamos que a começar pelo meu cabelo, de um lindo azul turquesa vibrante por sinal, e minha roupas – uma mistura de grunge e punk, e uma ou duas tatuagens aqui e ali. Parei de prestar atenção nessas coisas idiotas e olhei bem nos meus olhos verdes que representavam bem meu estado de espirito: entediada.

– Eu quero que você volte sociável, amigável, disposta a ir à escola sem ser expulsa por chutar a cara de alguém ou morder uma líder de torcida ... - a minha mãe ia numerando as "qualidades" que eu tinha que adquirir enquanto eu estivesse com meu pai.

─ Eu já disse que ela me xingou! O que você faria? – era verdade, a vaca da Stacy tinha mesmo me xingado de um monte de coisa e eu não ia deixar barato, ia?

─ E vai ter que aprender a se vestir melhor!

─ Mas eu gosto das minhas roupas! Para de implicância, mãe!

Depois disso eu me afundei na musica do Nirvana que estava tocando no meu I Pod. Eu sabia muito bem como minha mãe queria que eu fosse: a perfeita filha que só vestia roupas “fofinha” e apropriadas, que fazia tudo o que ela mandava e blá,blá,blá. Essas merdas, você sabe.

Tudo pra acabar sendo largada na estação de ônibus de Los Angeles.

•••

— Acorda, querida.

Meus olhos se abrem para encontrar um desbotado encosto de cabeça na minha frente. Levei um momento para perceber onde estou, me tocar de que eu ainda estava dentro de um pesadelo.

— Estamos parando, chegamos. — diz a voz.

Olho para o lado, só para encontrar uma senhora encurvada no corredor, preocupação em seu rosto profundamente enrugado, seus dedos velhos e tortos no meu ombro. Meu corpo se enrola em si mesmo antes que eu possa parar a resposta instintiva ao seu toque.

Ela retira a mão, com um sorriso gentil.

— Desculpe, querida. Apenas pensei que você deveria ser acordada.

Engulo e consigo coaxar:

— Obrigada.

Ela acena com a cabeça e se move para tomar seu assento no ônibus. Só agora eu percebo que eu devo ter puxado os fones de mim enquanto eu estava dormindo, mas que merda! Não me dou bem com espaços confinados sem música . Depois de horas naquele maldito ônibus, puxar a escotilha de emergência e pular pela janela soava atraente. Levantei e peguei minha mochila e a guitarra.

No momento em que saí do ônibus, o motorista já tinha descarregado as bagagens pesadas graças a todos os sabores de Absolut . Eu rapidamente encontrei minha mala preta cheia de coisas grudas nela. Minha vida tinha sido reduzida a uma mala, uma mochila e uma guitarra.

Olá, Edgewood e putos meses que se estendem a minha frente como um mar agitado e negro.

Eu não queria estar aqui, ainda mais agora que descobri que estava um dia quente como o inferno. Eu não quero conhecer a mulher nova do papai, eu não quero um quarto novo, eu não quero uma escola nova... eu não quero odiar pessoas diferentes!

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