16. шестнадцать

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DIMITRI IVANOV

Trinta segundos já haviam se passado há muito tempo, mas eu precisava me acalmar. Com a testa apoiada em meus joelhos, sentia meu corpo voltar ao seu normal. Não queria de forma alguma que Nikolai me visse irritado com o que aconteceu. O ódio que carrego não é inédito, desde que entrei na Bolshoi, Natasha movimenta todos os meus nervos.

Finalmente deixei aquele vestiário, caminhando em passos lentos pelo corredor vazio e silencioso, minha cabeça começa a me atordoar mais uma vez, pensamentos de todos os tipos me invadem de uma vez só, o que era calmo e desabitado agora é um pesadelo incontrolável.

Eu não sei como acabei em frente à porta do quarto de Natasha, mas agora já estava aqui e no maior ato de impulso bati na madeira, aguardando pela resposta que não demorou chegar. A porta se abriu diante dos meus olhos, revelando a imagem da garota, seus olhos estavam levemente avermelhados, provavelmente estava chorando, patético.

— Não é possível que você teve a cara de pau de vir até aqui. — Ela disse com sua voz irritante.

— Acredite ou não, eu também não sei porque estou aqui, mas acho que devemos conversar sobre o que aconteceu. — Me permiti ser o mais educado possível. — Posso entrar, por favor?

— Você tem dois minutos. — Cedeu a passagem para que eu entrasse, me surpreendendo com a atitude.

Escutei a porta se fechando atrás de mim, e logo a morena passou pelo meu corpo, de braços cruzados, me analisava por inteiro. Me pergunto o que deve estar se passando pela cabeça dela.

— Não me importo se descobrirem sobre a minha orientação sexual, mas deixe o Nikolai fora disso. — Observei o quarto da garota, parando meu olhar em seu rosto. Céus, como suas feições me incomodavam. — Não confio em você, e sei que na primeira oportunidade vai abrir a boca pro...

— Faça-me o favor Dimitri. — Me interrompeu de forma exagerada. — Até onde eu sei, são os gays que não tem controle, fazem sempre um escândalo para chamar atenção.

— Perdão?

— A última coisa que eu faria na minha vida é dar ouvidos para uma bicha como você. — Praticamente cuspia as palavras na minha cara. — Aberração, é isso que você é pra sociedade, uma coisa desprezível que corrompeu a cabeça do meu Nikolai, você o contaminou com essa doença maldita. — Seu rosto gradativamente ficava vermelho. — É inaceitável ter dois viados em um ambiente como esse, o que é? Você tem inveja de mim? Nunca vai conseguir satisfazê-lo, porque não tem o que eu tenho para oferecer.

Enquanto escutava as palavras de Natasha, meus olhos circulavam pelo quarto, até encontrarem um par de saltos, não estavam muito distantes e eu só queria parar de escutar sua voz. A adrenalina corria por todo meu corpo, em segundos me movi até o sapato, agarrando-o com minha destra, e em um movimento impulsivo o salto alto parou cravado no pescoço da garota.
Sua boca se abriu em uma circunferência perfeita, não conseguia articular palavra alguma, cambaleou para atrás até perder o equilíbrio.

Me aproximei da morena no chão, me ajoelhando ao seu lado, segurei no sapato, sentindo a fraca mão alheia tentando me impedir de tocá-lo. Um riso nasal tomou conta do ambiente, Natasha tinha lágrimas espalhadas pelo rosto inteiro, sua boca mais uma vez abria e fechava.

— Não insista. — Forcei o salto em seu pescoço antes de tirá-lo, instantaneamente o sangue começou a jorrar pelo buraco, era como uma dessas fontes que ficam em praças.

O corpo da garota aos poucos foi perdendo o resto de vida que ainda tinha, apoiei minhas costas na cama, observando o cadáver deitado no chão.
Perto de onde eu estava havia uma sapatinha de ponta, um isqueiro, um estilete, agulha e linha e uma fita rosa. Uma pena Natasha não ter conseguido finalizar sua última sapatilha.

Segurei o estilete em minhas mãos, desviando minha atenção para o corpo sem vida. Deslizei o objeto pelo rosto molhado, parando em seus lábios vermelhos do sangue que cuspiu.
Com minha outra mão abri sua boca, puxando a língua mole para fora, sem pressa comecei a movimentar a lâmina pelo músculo.

— Você falava demais... — Murmurei.

Com a língua na palma da minha mão, comecei a raciocinar o que havia acabado de acontecer, o que ocasionou a perda do controle da minha respiração, empurrei o cadáver para debaixo da cama. Meu coração batia rápido demais, apertava minhas mãos em punhos, sentindo mais ainda a textura da língua.

Fechei a porta do quarto, olhando para os dois lados do corredor, quando tive a confirmação de que não havia ninguém, acelerei o passo em direção ao lugar onde achei que deveria ir.
Meu rosto estava avermelhado, minhas mãos e minhas roupas seguiam a mesma paleta de cor. Bati quatro vezes na porta de Nikolai e esperei que abrisse para levantar meu olhar em direção ao rosto do loiro.

— Eu... Eu não sei porque eu fiz isso, quando eu percebi eu já havia feito o que fiz, não era a minha intenção ter chegado tão longe. — Falava rápido demais, gesticulando de forma ansiosa, sem mais enrolação estiquei a palma da minha mão para Santini, revelando a língua decepada.

O olhar de Nikolai passeia pelas minhas mãos e depois se fixa em meu rosto, estava calmo demais.

— Me leve até o quarto.

Apenas assenti com a cabeça, caminhando com o garoto até a cena do crime. Abri a porta e entrei com ele rapidamente, fechando-a atrás de nós.

— Ela está debaixo da cama, eu não sabia onde colocar. — Disse baixo.

Nikolai estava rindo da situação, puxou o cadáver para fora da cama, observando o estrago que eu havia feito.

— Por que a matou? — Perguntou enquanto se aproximava de mim.

Um suspiro saiu pelos meus lábios, apoiei minha cabeça no ombro alheio.

— Eu vim aqui para conversar, primeiramente. — Fiz uma breve pausa. — Mas ela começou a me atacar com as palavras e a raiva que eu já estava sentindo só se intensificou e então eu a calei, impulsivamente. — Disse a última palavra em um tom baixo.

— E então arrancou sua língua. — Ele segurava meus fios, me fazendo olhar para os seus olhos. — Impulsivamente.

— Eu só queria me certificar de que ela não falasse nunca mais. — Meus olhos começaram a ficar marejados.

Seu sorriso foi a última coisa que vi, fechei meus olhos ao sentir seus lábios juntos aos meus, a lágrima que teimava cair finalmente deslizou pelo meu rosto.

PAS DE DEUXWhere stories live. Discover now