Capítulo 1

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A primeira coisa que Juliana Valdés viu vindo em sua direção foi o punho de uma das garotas insuportáveis que estavam se gabando sobre qualquer aleatoriedade no refeitório. Ela não conseguia se lembrar do motivo pelo qual estava sendo segurada com força no chão enquanto os ossos cravavam em sua pele, machucando e marcando, mas já sabia o suficiente da vida para não fazer perguntas idiotas.

E as vezes pergunta nenhuma.

E então, fez o que sempre fazia, e o que fazia de melhor — revidou.

Ela estava acostumada a levar socos, não era a primeira e nem a última vez; tampouco era a primeira vez desde que estivera no centro de detenção. Ela adorava arrumar uma confusão pelo simples fato de não saber calar a própria boca e ser muito... Alguns guardas a chamavam de debochada, ela preferia dizer que era apenas divertida.

Provavelmente foi ser divertida que havia colocado—a na situação em que estava; ali, rolando pelo chão com qualquer que fosse o nome da garota de cabelos trançados e uma tatuagem horrível no rosto. Entre socos e murmúrios, a confusão foi instaurada por tempo demais até que os guardas chegassem para separar as duas.

— Alguém vai me explicar o que está acontecendo aqui?

— Definitivamente não sou eu. — Juliana murmurou enquanto limpava o sangue que escorria da boca.

— Essa abusada estava espalhando mentiras sobre mim.

Juliana arqueou uma das sobrancelhas.

— Pra eu espalhar qualquer coisa sobre você primeiro eu deveria saber quem você é. Visto que eu não sei... Não pode ter sido eu.

O tom de quem pouco se importava era evidente; a outra garota arrumou os cabelos e passou a mão pelo rosto.

— Jane disse que foi você.

A morena não se exaltou ao perguntar:

— Quem diabos é Jane?

Mas sua resposta não veio e sequer viria, uma vez que ela foi levada por um dos guardas para o outro canto do centro. E então foi empurrada sem muita delicadeza pelas portas que davam para a área aberta; haviam grupinhos formados e meninas isoladas. Ela deu uma boa olhada, ciente de que não lembrava o nome de ninguém ali.

E que ainda faltava um bom tempo para que ela conseguisse sair.

E a última vez que tentara fugir fora jogada numa solitária — e ela sabia que a solitária deveria ser proibida para quem estava em um centro, mas quem disse que o pessoal daquele inferno se importava? Ela também não se importava. Só queria sair dali.

Olhou para o final do pátio. Poderia jogar basquete, futebol ou se envolver em alguma confusão. Algo lhe dizia que havia se metido em confusão o suficiente por um dia, quem sabe no dia seguinte? A vida ainda era muito longa, infelizmente.


~❅~


Juliana não sabia explicar exatamente o motivo de estar sendo liberada da prisão — carinhosamente conhecida como centro de detenção juvenil. Mas enquanto era levada por um guarda, passando pelo corredor com suas companheiras gritando obscenidades e tentando lhe puxar por trás das grades, ela se sentia um pouco aliviada. Não muito, é claro, pois sabia que não deveria demorar muito para voltar àquele inferno.

Com a vida que levava, as noites na cadeia acabavam se tornando mais comuns do que se esperava em qualquer filme. E também era completamente ciente do fato de que a juíza havia pegado leve com a sua punição no tribunal por que ela havia feito mais bem do que mal — matar alguém não era uma coisa boa, mas matar um filho da puta que estava sequestrando criancinhas... Ela conseguiu pelo menos não ser mandada direto para a cadeia dos adultos.

Refúgio | Juliantina | SHORTFICWhere stories live. Discover now