Capítulo 7

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POV SARAH

Corri pela floresta, tentando apagar da minha mente tudo o que aconteceu nessa tarde.

E tentando calar Aura, que ainda estava latindo sobre eu ter arruinado sua chance no amor.

Decidi assumir o serviço de patrulha esta noite para tirá-la da minha cabeça, mas eu não conseguia parar de pensar naqueles lindos olhos castanhos me encarando com tristeza.

- Ela está aqui fora! Eu posso senti-la! - Aura começou a gritar na minha cabeça.

- Que porra você está falando, saco de pulgas? - perguntei a minha loba.

Em seguida, um cheiro doce entrou nas minhas narinas.

Eu reconheceria aquele cheiro em qualquer lugar. Era ela...

Juliette estava aqui. Mas o que ela estava fazendo tão longe de casa a esta hora da noite? Não era seguro correr sem proteção.

A raiva cresceu dentro de mim.

Que porra ela estava fazendo aqui na floresta, perto da fronteira, sozinha?

- Quem se importa?! Encontre-a antes que algo aconteça com ela! - Aura gritou na minha cabeça.

Corri na direção do cheiro dela - a ansiedade aumentou ao perceber que o perfume estava mais forte perto da fronteira da nossa matilha.

Cheguei a uma clareira. Bem ao lado do lago, estava sentada uma linda loba com pelo branco como a neve e olhos que brilhavam como ametistas.

Quem era essa loba? Ela era linda, mas eu nunca tinha visto uma transformação assim antes.

Normalmente, a verdadeira forma de um lobo lembrava suas características humanas. O pêlo seria semelhante à cor do cabelo humano, os olhos permaneciam com a mesma tonalidade.

Mas esse espécime era completamente diferente.

Pelo branco e olhos roxos...

O que isso significava?

Eu li algo sobre isso antes, mas não conseguia me lembrar o que era.

Eu fiquei muito impressionada com a beleza dela.

- Isso é inútil. Não tem nada de bom nesta cidade para mim Talvez eu deva arrumar minhas coisas e ir embora.

Essa era a voz de Juliette, tocando em minha cabeça. Ela era a loba?

Ela estava planejando ir embora?

- Eu poderia ir para a aldeia onde minha mãe cresceu, no leste. Sempre sonhei em ir para lá um dia.

Era Juliette. Por que sua loba assumiu essa forma?

Mas eu não podia pensar nisso agora.

Ela estava realmente cogitando deixar a aldeia.

Seria o melhor para nós duas, especialmente para mim, mas...

Por que me irritou tanto ela querer ir embora?

Inconscientemente, dei um passo em sua direção, pisando em um galho, que estalou, alertando-a da minha presença.

Ela se levantou, em guarda e pronta para receber o atacante.

Eu não tinha escolha. Avancei de onde estava escondido e rosnei para ela, mostrando minha superioridade.

Eu queria tanto marcá-la agora.

- Merda. - Foi tudo que a ouvi dizer - e minha loba reagiu com outro rosnado.

POV JULIETTE

Com cautela, observei a loba se aproximar. Ela rosnou, e isso foi o suficiente para eu me encolher de medo. Sua aura exalava autoridade.

-Então você está planejando fugir da vila, senhorita Freire - ouvi uma voz lá no fundo da minha cabeça.

Foi quando o vento trouxe seu cheiro e reconheci a loba.

Era a alfa Sarah...

Baixei a cabeça da minha loba até meu focinho tocar o chão.

- Eu te fiz uma pergunta, Senhorita Freire - ela falou novamente na minha cabeça.

Deve ser uma conexão mental. Ouvi meu pai e os outros falarem sobre isso.

Levantei minha cabeça para olhar para ela.

- Hum... sim, senhora. Mas como você...? - comecei a dizer, mas ela me interrompeu, falando mais uma vez em minha mente.

- Na forma de loba, somos capazes de ouvir os pensamentos de qualquer lobo da matilha a qual pertencemos. Você não é exceção.

Engasguei com a revelação repentina. Claro, eles podiam ler a mente um do outro, mas apenas se estivessem próximos.

Há quanto tempo ela estava aqui me ouvindo, então? Eu teria que ser mais cuidadosa.

- Então, Senhorita Freire. Você planejou deixar a aldeia porque eu não quero te aceitar? - ela perguntou, ameaçadora. Então, se aproximou e começou a me circundar.

- Já que você me rejeitou, senhora, não tenho por que estar nesta aldeia - respondi, olhando para o chão.

Afinal, eu não tinha parceiro e nem família viva no vilarejo. Meus pais estão mortos e não tenho irmãos.

Cat me criou e cuidou de mim, mas eu não sou nada mais do que a filha de seu falecido marido. Ela não teve escolha a não ser cuidar de mim até que eu pudesse me defender.

Mas, agora, eu era legalmente uma adulta. Eu poderia ir embora e cuidar de mim mesma.

- Você sabia que para deixar esta matilha você precisa de uma licença que só a alfa pode conceder? Caso contrário, será marcada como uma renegada - disse ela. Seus olhos verdes encararam os meus profundamente.

- E adivinha? Não estou com vontade de lhe dar essa licença. Então, a menos que você queira ser marcada como uma renegada e vagar por aí sem a proteção de um bando, você nunca irá deixar este lugar - ela continuou.

Eu fiquei lá ouvindo, atordoada.

- Co-com licença, senhora? - falei, ainda tentando digerir suas palavras.

- Você está proibida de deixar esta vila, Senhorita Freire, se você fizer isso, vou marcá-la como uma renegada. Está claro? - disse ela. Então me deu as costas e começou a se afastar.

- Por quê?! - gritei na minha mente, impedindo-a de ir mais longe.

- Por que você está fazendo isso comigo? Você já me rejeitou, me condenando a ficar sozinha, sem uma parceira, pelo resto da minha vida. Por que você está me proibindo de ir embora?

Tentei me manter firme, para não ser intimidada por sua aura.

- Rejeitei você? Quando eu fiz isso? - ela perguntou, virando-se para me encarar.

- N-na minha casa, quando você disse que eu era... inútil... - nessa última parte, baixei a cabeça, envergonhada.

- Eu disse que você era inútil para mim, Senhorita Freire... - ela voltou para onde eu estava. - Mas eu nunca tive a oportunidade de rejeitá-la apropriadamente.

Ficamos em silêncio, uma de frente para a outra.

Ela estava certa. Ela nunca disse realmente as palavras.

Eu sabia o que viria a seguir. Ela não hesitaria desta vez..

Ainda com a cabeça baixa, fechei os olhos bem fechados, tentando evitar que as lágrimas caíssem, e esperei.

- Não vou rejeitá-la ainda, Senhorita Freire- Tenho outros planos para você. Mas você não dirá a ninguém na aldeia que somos parceiras. Como eu disse antes, se fizer isso, vou negar. E vou marcar você e para quem quer que você diga, como renegados.

Com isso, ela me deu as costas mais uma vez.

- Volte para casa. É tarde demais para uma simples loba ômega como você estar aqui sozinha - disse ela. E desapareceu nos arbustos, me deixando lá, atordoada e magoada.

Oque ela queria comigo?

Minha alfa me odeia - SarietteWhere stories live. Discover now