Ódio

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Pansy olhou fixamente a coleira, mas notei que não demonstrou surpresa nenhuma.

— Muito bem, Hermione. Se é o que quer. — Ela podia estar recitando números da lista telefônica, de tão morta que parecia.

— Sim — repliquei, com as unhas cravando as palmas das mãos. — Se vai fingir que a noite passada não foi nada além de uma porcaria de encenação, é isto que quero.

Ela assentiu com um pequeno movimento de cabeça.

— Conheço muitas dominatrixes na região de Nova York. Eu ficaria muito feliz em lhe dar alguns nomes.

Ela sabia que eu estava interessada apenas em ser submissa de Pansy. Ela sabia disso. Sabia disso e estava levantando a questão de outras doms para me magoar. Nesse momento, compreendi que amor e ódio eram lados opostos da mesma moeda. Por mais que amasse Pansy dez minutos atrás, agora eu a odiava.

— Vou me lembrar disso — respondi, tensa.

Ela não se mexia. Era como se estivesse esculpida em gelo.

— Vou pegar minhas coisas. — Saí da sala de jantar e subi até o meu quarto, onde, poucas horas antes, Pansy e eu havíamos feito amor com tanta doçura que ela chorou.

Ela chorou.

Na noite passada, eu tinha pensado que as lágrimas eram devido ao que sentia por mim. Ou talvez às emoções esmagadoras de sua muralha indo abaixo. Mas e se ela tivesse chorado porque soubesse o que faria horas depois?

— Ah, Pansy — sussurrei quando a ideia me tomou. — Por quê?

Por que ela fazia isso? O que poderia levá-la a tal coisa? Depois, disse a Mi Racional. Pense nisso depois. Tudo bem. Depois.

Vesti minhas roupas e peguei minha bolsa e o iPod. Deixei o despertador. Talvez a próxima submissa de Pansy o achasse útil. A próxima submissa de Pansy...

Ela encontraria outra. Tocaria a vida. Exploraria o prazer e a dor com outra. Seria gentil, paciente e carinhosa com outra.

Ah, por favor, não. Mas era o que ela faria.

Depois!, gritou a Mi Louca. Reprimi o choro. A Mi Louca tinha razão. Eu cuidaria disso depois. Parei na porta do quarto e me despedi do lugar onde experimentei a noite mais maravilhosa da minha vida.

Então andei pelo corredor. Passei pela porta fechada da sala de jogos de Pansy, onde não tínhamos ficado tempo suficiente. Parei brevemente à porta de seu quarto. As palavras dela ecoavam no corredor silencioso enquanto eu olhava sua cama arrumada com perfeição.

E eu nunca a convidei para dormir na minha.

Era verdade: Pansy aprendera muito sobre meu corpo, e muito bem. Mas também sobre a minha mente. Pois não havia palavras que pudessem ter cortado mais fundo.

Athena me encontrou no saguão, abanando o rabo. Ajoelhei-me e a abracei.

— Ah, Athena — falei, reprimindo mais uma vez as lágrimas. — Você é uma boa menina. 

Enterrei os dedos em seu pelo e ela lambeu meu rosto.

— Vou sentir sua falta.

Afastei-me e olhei em seus olhos. Quem podia saber? Talvez ela compreendesse.

— Não vou mais ficar aqui, então não a verei de novo. Mas seja boazinha e... prometa que vai cuidar de Pansy, está bem?

Ela lambeu meu rosto mais uma vez. Talvez concordando. Talvez se despedindo. Eu me levantei e saí.

A Submissa - Pansmione | Parte 1/3Where stories live. Discover now