piloto.

91 9 15
                                    


Harry franziu o cenho.

Certamente, não era dessa maneira que ele imaginava que seu primeiro dia na cidade nova seria. Mas, infelizmente, Gemma havia lhe convencido, em menos de uma hora após deixarem todas as malas espalhadas em seu quarto, de levarem Donny, o enorme labrador que ele havia adotado há cerca de alguns anos, quando ainda morava com seu pai, para passear em uma região próxima.

Com "próxima", ela quis dizer muito longe. E com "região", ela quis dizer uma floresta.

Porém agora é tarde demais para desistir, e agora ele luta para manter Donny na linha. Acostumado com o pequeno quintal que tinham em Londres, tudo o que ele mais queria fazer era explorar o terreno cheio de coisas interessantes e jamais vistas. Harry não o culpava pela tamanha empolgação. Contudo, no final, era bem mais como se o próprio labrador estivesse levando Harry passear no meio de todas aquelas árvores altas, de folhas largas e que parecia terrivelmente com o cenário de qualquer filme de terror que ele havia assistido.

Um arrepio correu seu corpo e Harry tentou evitar lembrar do que acontecia com os meninos como ele nesses filmes.

── Gemma, acho que está na hora de, ugh, voltar ── Ele resmungou, observando o quão branco estavam os nós dos dedos de sua mão com a força que era obrigado a fazer para mantê-lo próximo a si. ── Donny... Calma... ── Conseguiu murmurar, entre dentes, quando ele deu um puxão mais forte.

Seus braços já estavam extremamente doloridos e ele já nem mais usava a força deles para segurar o cão; o que segurava o labrador junto a si enquanto andavam era o próprio peso, insignificante, de Harry. Gemma não respondeu de imediato, mas ela estava ocupada demais tirando foto da paisagem. Aparentemente, o que ela queria mesmo era uma chance de fazer posts novos em seu instagram de fotos amadores e não dar um dia de presente ao cão.

Harry, contudo, só descobriu que era tarde demais quando já não sentia mais seu braço.

Tsc, e pensar que sua irmã seria uma boa anfitriã, mostrando a região para o mais novo morador de Doncaster. Olha onde ele está agora!

Coberto pela névoa, o ambiente era estranhamente bonito e calmo, contudo, o estalar das folhas e dos galhos secos se quebrando abaixo de suas botas faziam uma horrível trilha sonora para seu pior pesadelo. Instintivamente, com um puxão mais forte, jogou ainda mais o corpo para trás e perdeu tempo observando o céu cinza quase inteiro coberto pela copa das árvores.

Além disso, seus dedos estavam frios, bem como a pontinha avermelhada de seu nariz, sinal claro de que a temperatura, com certeza, devia estar caindo.

── Gemma? ── Harry chamou mais uma vez, pela primeira vez, se dando ao trabalho de virar para trás. ── Vamos embo- Gemma?

Não podia ser, ela estava logo atrás de si...

Harry vagou os olhos verdes por trás dos troncos, fazendo força para trazer Donny consigo e rezando para ser mais uma das piadinhas de Gemma consigo. Claro, ela provavelmente só estava querendo fazê-lo de palhaço para chegar em casa e desmaiar de tanto rir enquanto contava para Anne sobre o quão assustado ele ficou.

Mãe, o Hazza ficou branco! Branco feito papel! E os olhos saltaram, bem assim! Ela provavelmente narraria.

Tinha de admitir, fazia muito tempo desde que tinham essas conversas. Cerca de nove anos e ele mal se lembrava da última vez em que se provocaram assim. Era tão novinho.

── Ge-Gemma? ── Ele experimentou chamar novamente, ignorando a maneira como sua voz se quebrou.

Apenas o silêncio, antes confortável, agora incrivelmente inconveniente, lhe respondeu. Instintivamente, encolheu-se e, de repente, a jaqueta que usava já não era mais o suficiente para esquentar seu corpo trêmulo. Porra, ele realmente não devia ter aceitado vir nesse passeio estúpido. Olha só onde estou agora!

Sozinho. No meio de uma floresta.

Não, não. Um parque.

Como se isso me tranquilizasse.

Iria morrer de fome, se não lhe acontecesse coisa pior.

── Donny, vamos, por favor... Você consegue encontrar ela, não é? Usa esse seu nariz grande para algo... ── Harry implorou, fingindo que não tinha lágrimas nos olhos, enquanto usava as mãos errantes para acariciar o topo da cabeça do cão.

Como se realmente houvesse entendido o que lhe foi pedido, ele mexeu a cabeça e depois outra vez, focinho remexendo-se ainda mais inquieto, cabeça baixa e nariz encostado no chão. Harry não obteve, contudo, aviso nenhum de que ele começaria a puxar, andando mais rápido e confiante em uma direção específica, porém o labrador estava tenso das quatro patas até o pelo de suas orelhas.

Em um determinado momento, andar não era mais o suficiente, e o cão começou a trotar até que estivesse correndo, trazendo o cacheado junto consigo.

Por mais forte que ele firmemente segurasse a coleira, ainda que tivesse feito duas voltas ao redor de seu punho, nada havia lhe preparado para correr tanto quanto estava correndo. Harry ofegava, sem ar, tentando desesperadamente manter o ritmo, ainda que o vento frio lhe cortasse o rosto como adagas e o único som em seus ouvidos fossem das folhas sendo amassados por um par de botas e quatro patas. Isso, com certeza, não faria bem para a sua asma.

── Donny! ── Pediu num só resfolego e desistiu. ── Gemma!

Ser puxado não era uma boa ideia, não, pois sua mão estava quase sendo arrancada pela força que o cão fazia para correr, então Harry fez o mais inteligente a se fazer nessa situação ── ideia questionável, no mínimo. Soltou a coleira de Donny antes que caísse e se machucasse. Dessa forma, precisava se concentrar somente em segui-lo ── e não em se manter de pé e inteiro com todos os membros.

Precisou correr muito mais do que já correu em suas aulas de Educação Física, a ponto de que o ar lhe faltasse e seus pulmões queimassem em seu peito, mas ele não estava disposto a perder mais um naquela tarde, então continuou correndo, lutando contra suas coxas trêmulas, olhos fixos nos pelos dourados do labrador enquanto se esgueirava pelas árvores.

── Gemma! ── Harry gritou mais uma vez, apenas para tirar o peso da consciência, se esforçando para tentar escutar uma resposta.

Alguns galhos se arrastavam em seu corpo e até mesmo em seu rosto, então não duvidava que parte da ardência que se sentia se tratava de alguns cortes, e quando pensou que não aguentava mais, prestes a desistir de seguir Donny, ele parou, freou repentinamente num movimento nada suave.

Harry parou também, olhos se apertando ao redor quando percebeu o quão tenso o labrador estava. Um barulho tomou o silêncio e demorou para o cacheado perceber que o som era do rosnado incessante e extremamente raivoso de seu labrador, que parecia prestes a brigar com algo, rabo erguido e dentes grandes bem expostos.

── Donny? ── Ele sussurrou a pergunta como se o cão pudesse lhe responder, mas oras lhe dê um desconto, Harry estava aterrorizado.

Pensava que talvez os efeitos da solidão já começavam a lhe fazer efeito, em puro exagero.

Gemma não estava em lugar nenhum, mas na direção para onde Donny rosnava e latia, a pouco mais de cinco metros, bem misturado com a paisagem ── o que o tornava extremamente difícil de enxergar ──, um lobo os encarava.

Harry nunca viu um lobo, mas em sua mente inocente acreditava que eles eram menores, bem menores.

Cambaleou em falso, caindo de bunda no chão, olhos ainda presos no animal.

Ótimo.

Além de perdido, agora seria estraçalhado por um lobo gigantesco.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Mar 03, 2022 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

THE BOY WHO CRIED WOLF ━━━ larry stylinson.Onde histórias criam vida. Descubra agora