31. | Pendências não Resolvidas

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Narrado por Hitoshi Shinsou

O que eu fiz da minha miserável vida?

Como fui parar neste estado? Desta forma? Nessa situação?

Estar quase me ajoelhando aos seus pés, implorando que recusasse, não o reconhecendo completamente, sem o entender. Eu estou chorando compulsivamente em seu pescoço, como se tivessem arrancado um braço meu. Ainda não aconteceu nada demais, porém, eu já consigo sofrer antecipadamente pelo o que pode vir a ocorrer, ainda mais com o discurso de Denki.

Ele pretende mesmo fazer isso? Ser isso? Um monstro insensível como todos nós?

O fato dele ter me dito não poder — e nem querer — ser protegido para sempre por mim foi o ápice do meu descontrole. Nunca me imaginei tão visivelmente abalado assim, afinal, esconder o que eu sentia de verdade sempre foi o melhor caminho nesse meu mundo cruel, então isso deve estar sendo tão surpreendente para ele quanto está sendo para mim. Saber que ele não quer ficar sob minha proteção, onde mesmo que conturbadamente a sua sobrevivência e bem estar estariam garantidas, me deixou à beira de um colapso.

Seria ele mais um que teria o triste destino de encarar a morte, tudo porque eu não consegui protegê-lo? Mais um para eu me lembrar com o decorrer dos anos?

Isso é coisa demais para eu lidar, infelizmente.

Sinto muito se ele não me entende, ou não concorda comigo, mas eu sou e serei completamente contra essa sua escolha absurda. Ele não sabe o que estará por vir se quiser continuar assim; lutar com seres maiores que ele? Isso só seria possível se ele se tornasse pior que eles, e caso isso ocorra, garanto que nunca mais veremos esse Kaminari Denki. Nunca mais.

Impedi-lo e até mesmo obrigá-lo com minhas habilidades a não fazer isso soa tentador na minha mente, mas me lembrar que ele tem vida e vontades próprias e não é ligado a mim em DNA me conteve um pouco. Apesar disso, eu ainda não consigo ficar menos afobado com tudo isso.

O aperto fica mais forte, mas Denki ainda não move um músculo sequer para retribuir. Nós dois sabemos que ele me abraçar de volta seria um sinal mudo de esperança em meio ao caos que pode vir a ocorrer, e tudo o que ele não quer é me dar esperanças de que pretende mudar sua decisão, e de que tudo ficará bem de alguma forma. Tanto ele quanto eu sabemos disso.

Poucos minutos se passaram comigo chorando em seu pescoço, descontando os anos em lágrimas e um pouco de tudo o que ando sentindo ultimamente. Tudo o que não consegui dizer em palavras ou em gestos, está sendo mostrado neste pequeno — mas significativo — ato de cansaço. Pois sim, eu me sinto exausto com tudo isso.

Me afasto devagar, fungando o nariz e tentando me recompor da melhor forma possível, diante desse desastre que nos cerca. Para ele pode não ser grande coisa; para vocês pode ser confuso, mas se eu cheguei nesse estado, é porque sei que muita coisa ruim pode aparecer por aí.

Sinto em quebrar essa tal "quarta parede". Em momentos como esse, esqueço de ignorar a existência de vocês.

Diferente dos meus, os olhos de Denki não continham tanto mais aquele brilho de antes, daquele velho loiro brincalhão. Eu consigo ver claramente o processo de mudança dele, o quanto ele está sendo afetado e consigo prever o quanto isso irá piorar. Procuro culpados; a maldita fada? A sua ex-namorada morta? Eu mesmo? A junção de tudo isso? O que foi que o está fazendo ficar assim?

Purplish VampireWhere stories live. Discover now