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Katheryn Roux. 𝓅ℴ𝒾𝓃𝓉 ℴ𝒻 𝓋𝒾ℯ𝓌
Los Angeles, Califórnia - USA

Essa parte da minha vida sempre me deixa à beira de um ataque cardíaco, fingir que algumas coisas da vida não me afetam em nível catastrófico está ficando difícil demais, sinto a vida escorrendo pelos dedos como se fosse fluida, sinto os traumas se acumulando como socos de uma mão pesada, a dor se enroscando com a angústia prematura de um choro ainda preso na garganta, sinto tanto que não sinto nada, nada além de um sufoco.

Engulo em seco ouvindo os passos de Hacker voltando da cozinha, me remexo no sofá, suspirando pela dor em minha mão, Hacker entra em meu campo de visão e senta na mesinha de centro em minha frente com um pano vermelho embolado na mão, franzo o cenho, ele coloca o pano ao seu lado e senta mais na ponta da mesa baixa, estica sua mão aberta e me olha.

— Deixe-me ver sua mão. — Diz em um tom normal e rouco, não sei que hora da madruga é, mas ele ainda está arrumado.

Olho para minha mão e sinto o ódio crescer dentro de mim, meus dedos tortos já inchados, por culpa de uma maldita crise, minhas mãos vermelhas de sangue seco, meu sangue seco, sangue acumulado debaixo das unhas, me dando uma percepção horrível do meu caos.

Direciono a mão para Hacker que a segura forte, o encaro e ele não vê meu olhar sério para ele, avalia minha mão e então segura meu braço me trazendo mais para frente, me deixando mais próxima.

— Estão fora do lugar. — Fala e então eu franzo uma sobrancelha com deboche e ele aperta minha mão fazendo eu gemer de dor. — Vou colocá-los no lugar, aperte meu ombro para aliviar a dor. — Levo minha mão boa até seu ombro e respiro fundo.

— Já fez isso antes? — Pergunto e ele me olha.

— Muitas vezes. — Fala e aperta meus dedos sem anunciar e eu aperto forte meus olhos apertando seu ombro junto com força para aliviar.

Suspiro fundo e abro os olhos olhando para meus dedos no lugar porém inchados.

— Já pode parar de apertar meu ombro. — Fala e então eu o solto sem perceber que eu ainda o apertava, a ponta de meus dedos brancos pela força.

Hacker pega o pano vermelho e me olha entregando. Seguro o pano gelado e noto que o pano enrolava gelo dentro, seguro o pano forte e me ajeito melhor, Hacker observava cada detalhe enquanto eu apertava o pano de leve, me avaliando com curiosidade, é isso que a crise atrai as pessoas, perguntas, curiosidade.

— Pode falar. — Digo abaixando o olhar até minha mão.

— Você estava sufocando, agonizando em nada. — Fala e então levanto o olhar, não havia pena, nem medo, o que me alivia, mas havia outra coisa que eu não conseguia distinguir em seu olhar, como um acolhimento, não por mim, mas por ele. — Você... tentava falar, mas não conseguia, se afogava com as próprias palavras. O sufoco... faz parte do seu trauma? — Pergunta sério.

— Não, é um brinde, tipo um bônus por passar os anos sabe. — Digo ironizando tentando tornar minha lástima menos dolorosa.

— Diferente dos outros você não afoga seu trauma só em tristeza. — Diz e eu o encaro.

— Isso é ruim?

— Não, já estava cansado de tanta lástima e receio sobre essa conversa. — Diz se levantando. — Quer conversar sobre isso? — Gesticula sobre o que aconteceu e eu nego com a cabeça.

— Que bom, não sou psicólogo. — Reviro os olhos e me levanto desviando de seu corpo e subo as escadas pisando com calma sobre os cacos espalhados por ela.

No limite - Vinnie HackerTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang