O Que A Carta Não Dizia

25 5 30
                                    

Angelina Hunter estava morta.

E tudo o que conseguia pensar sobre isso era mau ou hipócrita.

— Está bem? — Ele tornou a perguntar.

A mão em seu braço era leve, mas a sentia queimar como brasa. Real demais para algo que devia ser um sonho estranho.

— Isso só pode ser mentira. — Sussurrou, olhando a carta que não sabia se deveria ter lido. — É mentira, não é?

Ele afastou suas mãos, mas não se afastou nada mais que isso.

— Eu não deixaria de usar minha aliança caso ainda fosse casado. — Ele ergueu a mão esquerda, olhando-a como se ele mesmo ainda achasse estranho vê-la nua. Então puxou suas luvas do bolso. — Acho que nem como um viúvo teria deixado de usar, mas Angelina teria gostado. Guardei o anel de noivado dela para Newt, meu mais velho, para que um dia dê à noiva dele. E Elizabeth me perguntou se ficaria com o meu para o futuro noivo.

Era algo tão Casper, que chegava a doer.

— E você não negaria, não cometeria tal injustiça.

Esperou o sorriso que novamente a lembraria do lugar exato onde as linhas de seu sorriso apareciam, mas não houve sorriso.

— Sinto vergonha ao pensar no alívio que senti ao tirar aquela aliança. — Confessou.

Tudo seria mais fácil se ele não fosse tão sincero. Aquela sinceridade, para ela, chegava a ser cruel. Crueldade tão branda, tão diluída, que não poderia repreender. Mas que alimentava suas próprias falhas de caráter.

E mesmo assim, não desejou que Weston voltasse logo.

— Bem, — Tentou mudar de assunto. Mesmo sendo ridículo tentar manter a conversa amena. Nada entre eles nunca mais poderia ser menos que escaldante. — É justo, mesmo não sendo uma tradição, ela é sua única filha mulher, merece algum privilégio.

E ameno também não combinava com a casa ou com a expressão dele, que, a surpreendendo ser possível, se tornou ainda mais agourenta.

Ele inspirou profundamente demais. Perceberia mesmo se não o observasse como um pássaro em extinção, absorvendo cada minuto que pudesse enquanto podia.

— Precisamos conversar, por favor.

Como previsto: Havia mais. Algo que o fez ter o tato que não teve sequer quando ela estava prestes a descobrir sobre a morte de Sra. Hunter.

— Eu devo continuar a leitura?

Ele balançou a cabeça, e olhou em volta.

— O intrometido do Weston teve meses para planejar isso, e nem sequer conseguiu pensar em um lugar com assentos decentes. — Ele resmungou. Para ser justa, realmente o mais próximo de um assento eram os degraus sujos. Mas a rigidez em seus movimentos entregavam um nervosismo que não cabia à desconforto tão banal.

Não atrasaria mais a conversa.

Rapidamente se sentou no segundo degrau, testando se aguentaria seu peso. Jogaria toda a culpa em Cecília pela sujeira que estaria na roupa. Já que não poderia a denunciar, ao menos que sua madrasta a repreendesse por outro motivo.

— Então? — O instigou a falar.

Hunter não se sentou. Pelo contrário, começou a andar pelo cômodo.

— Eu sinto que tenho que começar a contar a história por algum ponto específico que não a faça pensar o pior antes que eu chegue à explicação... — Ele murmurou.

— A porta está trancada, não tenho como fugir.

— Há uma janela aberta no segundo andar, não quero que tente a sorte.

Woodrest: Tempestades no paraísoWhere stories live. Discover now