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SINA DEINERT.

Azia.

Se tem uma coisa mais chata que azia, inventaram e não me apresentaram, graças a Deus.

O enjoo tem um escape, pois você coloca tudo para fora ou faz como eu e come muito para amenizá-lo, mas por mais que eu faça de tudo, a azia persiste.

Levanto-me desanimada. Mais um dia para não fazer nada além de vencer a azia e resistir ao Noah Urrea.

Honestamente, não sei dizer o que é mais difícil.

Repito para mim mesma meu mantra que se tornou diário.

Você não vai permitir que ele te beije.

Você não vai se aproveitar dos hormônios para pular na cama dele.

Você não vai se deixar seduzir por aqueles olhos claros e insondáveis.
Pronto, agora posso sair do quarto; sim, de pijama mesmo porque estar grávida tem suas vantagens. Ninguém espera mesmo que você esteja apresentável o tempo todo.

Chego à cozinha e encontro Linsey sentada sozinha.

— Bom dia, Linsey.

— Bom dia, Si. Deveria me chamar de Lin agora que somos cunhadas. Você vai me dar até um sobrinho.

Já chegamos nesse nível então, fazendo piadinhas com a desgraça alheia.

— Claro, um sobrinho.

Ela arregala os olhos me encarando.

— Então é mesmo um menino? Você já descobriu o sexo?

— Não, ainda não sei. Falta cerca de um mês ainda pro ultrassom identificar isso.

Linsey parece um pouco decepcionada por ainda demorar tanto. Mal sabe ela da ansiedade que tem me atormentado, não vejo a hora de poder descobrir e comprar tudo.

— Quando souber, me conte. Quero ser a primeira a saber hein? A não ser, é claro, que queira contar pra alguém de sua família antes… Não sei por que depois de tanto tempo isso ainda me incomoda.

Sempre que alguém cita minha família, inexistente, sinto um aperto no peito.
Agora com a gravidez tudo ficou ainda pior. Abaixo a cabeça tentando disfarçar minha expressão para que ela não note como suas palavras inocentes me afetaram.

— Sina… Desculpe. Você disse que era órfã, mas pensei que tivesse alguém, uma avó, um tio…

Apenas balanço a cabeça de um lado para o outro negando, mas ergo outra vez meus olhos. Quando a fito, percebo que seus olhos estão marejados.

— Ah meu Deus, me desculpe mesmo. Eu não queria te deixar triste…

— Tá tudo bem, Linsey. Eu que sou uma boba, já devia ter superado isso tudo há muito tempo. Sempre fui sozinha, mas agora ao menos terei meu filho.

Ela sorri com o que digo e suspiro aliviada. Não posso ver ninguém chorando ou vou chorar junto.

— E terá a nós! Eu vou ser a melhor tia do mundo, Sina.

Eu tento sorrir, mas acho que não sai direito porque ela percebe exatamente o que estou pensando.

— Não — ela continua. — Não vai ser assim. Vou ser a melhor tia do mundo a vida toda, mesmo depois que desmentirem essa confusão toda. Vou mimar muito essa criança e vou ficar de babá quando quiser sair pra arrumar um namorado, eu prometo.

Ela parece sincera, então estendo minha mão sobre a mesa e pego a dela.

Ainda assim não crio muitas expectativas, afinal, tanta gente já entrou e saiu da minha vida e, mesmo que não tenham prometido ficar, como Linsey está fazendo, a presença de alguém por um tempo maior que as relações casuais de trabalho já me parece uma promissora. Era sempre assim, então algo acontecia e eu me via sozinha outra vez.

Ritmo Envolvente | Noart Where stories live. Discover now