Ações de bêbados

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Primeiro semestre do ensino superior. Dois rapazes que acabaram por se unir por um forte laço de amizade. Eram ambos da mesma terra natal e conseguiam entender-se como mais ninguém naquela turma. A relação apenas se fortalecia com cada caminhada até à escola, jantares e almoços juntos e, claro, saídas noturnas, como quaisquer estudantes que se prezem.

O período de festa depois do baile do caloiro estava apenas a uns momentos de distância, Flávio e Hélio estavam vestidos a rigor... Isto é, se simples camisas brancas e calças cigarette forem o suficiente para usar o termo. Tinham acabado de sair do evento formal e dirigiam-se para o bar onde a noite prosseguiria. 

- Hoje é o dia em que vais finalmente enrolar-te com alguém... - Hélio dizia, em tom de brincadeira. Sabia que o amigo não era do tipo de se atirar às pessoas, mas esperava que finalmente ele pudesse ter um momento de diversão.

Flávio soltou uma risada leve e acrescentou:

- Se houver uma moça que me desperte o interesse. - disse, com um sorriso pretensioso estampado no rosto ligeiramente corado. Não estava bêbado, apenas um pouco alegre.

E após a breve troca de palavras, entram no bar e dirigiram-se ao balcão.

★★★★★

Eles queriam ficar bêbados rapidamente, nada que uns shots de absinto não resolvessem. A bebida verde queimava as gargantas de ambos enquanto descia, mas eles mal reagiam, já estavam habituados. Era o quarto...? Sexto shot? Já não tinham a certeza.

Moviam os seus corpos alegremente ao som da batida. A noite prometia e eles só queriam que continuasse. O grupo inteiro estava animado e sorridente, alguns já aos amassos. A música alta ressoava intensamente nos tímpanos de ambos. Hélio, já mais quente, desabotoou o colarinho da camisa e mais um botão, expondo o topo do seu peito. Flávio estava demasiado bêbado para reparar em detalhes desses.

Os jovens estavam próximos. Dançavam e bebiam como se não houvesse amanhã. Flávio estava de olhos fechados, o cabelo encaracolado colado à testa com o suor, apenas sentia a música e o seu amigo, que agora o segurava pelos ombros. Aquela interação seria estranha se estivesses sóbrios. Mas isso não importava no momento.

Quatro da manhã. Mais uns shots, mais um botão desabotoado. Estavam num estado em que seria pouco provável lembrarem-se do que fariam a seguir. 

- Vamos para casa, dói-me os pés... - Disse Flávio, as palavras arrastando-se lentamente.

Hélio apenas acenou e rodeou a cintura do seu amigo com o seu braço direito enquanto este laçou o seu braço esquerdo por cima dos ombros do outro, arrastando-o para fora da discoteca. Não é que ele fosse muito mais responsável ou estivesse mais sóbrio, ele simplesmente estava mais consciente

Após pagarem, retiraram-se. O ar frio atingiu ambos mas nenhum deles tinha frio, o álcool e a proximidade mantinha-os quentes. Flávio tropeçava mas Hélio mantinha-o de pé.

- Estou tão carente... Devia ter beijado alguém... - Balbuciou Flávio.

- Agora já vais tarde - Respondeu o mais alto, quase num sussurro.

A tarefa de manter o mais baixo equilibrado tornou-se mais difícil à medida que iam agora subindo as escadas até ao apartamento do Hélio. A sua mão livre procurava freneticamente pela chave do seu apartamento e Flávio tropeça, inesperadamente. Num movimento rápido, Hélio agarra nele pela cintura, impedindo-o mais uma vez de dar com a cara no chão. "Tenta ser mais cuidadoso", apenas pensou, sabia que não valia a pena falar.

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