Capítulo 2

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Hélio dormiu pessimamente. Não queria abrir os olhos e encarar a luz que trespassava as precianas. Esfregou ambos os olhos com as mãos e lentamente, os seus sentidos começavam a despertar. O quarto tinha um cheiro pesado e a cama estava surpreendente quente para uma manhã de novembro. Oh não, era quinta-feira. Não sabia que horas eram, mas tinha a certeza que estava a faltar às aulas. Vagarosamente, rodou o corpo para fugir à luminosidade da janela, queria descansar por mais umas horas. Esticou o braço e tocou em pele quente. Pele quente que não era a sua...

Abriu os olhos contra a sua vontade, apenas para se deparar com o seu melhor amigo, a dormir profundamente e completamente nu. Os lábios entreabertos, o ligeiro rubor nas bochechas e... o estado em que o seu corpo estava... até tinha vergonha de olhar para ele. Tudo pintava uma imagem clara da noite anterior e os fragmentos de memórias que tinha embateram-no com força. Voltou a fechar os olhos. O que caralhos tinha feito...

Flávio mexeu-se. Aquela não era a sua cama e imediatamente notou que não estava sozinho. Não estava muito preocupado com o facto, estava sempre relaxado e sentia-se à vontade com qualquer amigo. Um ligeiro arrepio correu pela sua espinha. Recusando-se a mover as pálpebras, tateou a cama à procura de algum lençol. Só encontrou aquele em que o seu amigo estava enrolado. 

- Partilha... - sussurrou, o seu timbre rouco matinal lento e confortável.

Hélio tinha de espairecer. Empurrou o lençol para Flávio e levantou-se da cama, indo diretamente para o quarto de banho. O rapaz aconchegou-se com o lençol e prosseguiu com o seu descanso.

~

A água morna escorria pelo corpo naturalmente bronzeado de Hélio, o seu cabelo agora ensopado. A sua cabeça latejava e sabia que se devia aos incontáveis shots da noite anterior. Nem conseguia pensar corretamente "Eu não sou gay. Nunca tinha tido desejos daqueles. Só pode ter sido a influência do álcool.", murmurava para si próprio.

Após desligar a água, passou as mãos lubrificadas com gel de banho pelo cabelo (todos sabemos que o típico rapaz heterossexual usa o mesmo produto para o cabelo e para o corpo. Se desse, até lavaria a louça com aquilo) e de seguida pelo corpo. Não conseguia olhar para baixo sem se recordar da mão bruta, mas consistente de Flávio a envolver o seu falo pulsante. Oh não, estava a ficar ereto. Voltou a ligar a água, mas desta vez era fria. Queria sair dali e vestir-se o mais rapidamente possível.

~

Flávio acordou com o abrir e fechar do guarda-roupa e de gavetas. Hélio estava com umas simples calças de fato de treino e em tronco nu. O cabelo húmido brilhava com a luz do sol que entrava pela janela, agora muito mais forte. O mais pálido ergueu o tronco, sentando-se na cama, o lençol desceu e revelou o peito e barriga lisos, mas com manchas secas, oh, ele sabia do que é que se tratavam. No entanto, tudo o que tinha na memória estava enevoado, foda-se, tinha bebido demasiado, as recordações agora não eram nada mais do que flashes com shots pelo meio. Olhou para o amigo, estava sem óculos mas via vagamente, com olhos confusos e semicerrados.

- Hélio, o que é que aconteceu ontem? - disse, voltando o olhar para o seu abdómen, a sua voz ainda rouca por ter acordado recentemente.

O mais alto voltou-se na direção da voz. Não estava pronto para aquela pergunta. Queria abrir a boca mas não sabia que sons fazer. Respirou fundo e disse a única coisa que era capaz:

- Ontem.... Queres mesmo saber?

- Claro, já viste o estado - agora apontava com o indicador para o seu tronco - em que estou?

Merda, merda, merda, merda, mer-

- Não me digas que - O mais alto estava terrivelmente nervoso, tinha medo. Tinha medo do Flávio se lembrar - comi uma gaja na tua cama.

- SIM, - respondeu um bocado alto demais - foi isso mesmo, estava a ver que não te lembravas...

Não estava pronto para assumir a verdade. Nunca estaria.

- Ela foi embora cedo né? Já agora, dormiste aqui a noite toda ou...? Também aproveitaste foi? - um sorri perverso crescia nos lábios de Flávio. Era... aventureiro e gostava da ideia de ter feito algo novo.

- Exatamente - Hélio sorriu um pouco e suspirou de alívio. Não queria mesmo entrar em detalhes.

Sentia-se tranquilo mas mesmo assim um bocado agitado. A verdade era um fardo que pesava sobre as suas costas. Sim, era bom que Flávio não se lembrava mas será que era mesmo boa ideia omitir os acontecimentos da noite anterior?

- Meu, estás bem? Pareces distante...

- Estou ótimo, - pegou numa t-shirt e vestiu-a rapidamente - vou correr, podes te ir embora quando quiseres.

- Não acabaste de tomar um duche?

Hélio não respondeu, apenas levantou a mão, como que acenando levemente e partiu.

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⏰ Last updated: Nov 11, 2023 ⏰

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