Capítulo I: vexame à carbonara

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– Posso anotar seu pedido agora senhorita? – o mesmo garçom perguntou pela quarta vez, e mesmo estando tão indecisa quanto nas últimas três, me obriguei a escolher algo no menu que fosse além de uma garrafa d'água. Não queria mandá-lo embora de mãos vazias de novo.

– Eu vou querer...– vasculhei o livrete de cabo a rabo como se um novo prato fosse surgir ali magicamente, ou como se lendo mais uma vez eu fosse conseguir entender o que diabos estava escrito em cada uma das opções.

Quero dizer, qual o sentido de abrir um restaurante no Brasil e colocar o cardápio inteiro em italiano e sem tradução alguma? Quanta falta de noção!

– Vou querer um... carbonara di polpo! Sim. É exatamente isso que vou querer! – exclamei, fechando o cardápio com uma falsa confiança que esperava ser o suficiente para fazê-lo sumir da minha frente o mais rápido possível.

– Certo. E pra beber?

Se você não se mandar logo, vou acabar bebendo minhas próprias lágrimas! Pensei.

Eu não tinha como escolher uma bebida porque não fazia a menor ideia de qual prato ele me traria. Pedi o tal carbonara simplesmente porque o preço era razoável – e aquela era uma das únicas opções do menu que eu conseguia pronunciar sem passar vergonha.

– Hm...só um minutinho. – pedi, esgueirando discretamente meu celular por baixo da mesa para pesquisar o que vinha em um "carbonara". Seria humilhante demais perguntar.

Ok. Macarrão. Um vinho branco então? Papai sempre me disse que massa e carnes brancas combinavam com vinho branco...

– Vou querer uma taça de vinho branco.

– Qual dos vinhos brancos senhorita?

– Perdão? – Existe mais de um tipo de vinho branco? Mas que palhaçada!

O rapaz começou a batucar com a caneta no tablet que segurava. Parecia um pouco impaciente, e eu não o culpava por isso. Eu estava atrasando demais o pobre coitado.

–Temos chardonnay, aligoté, sauvignon blanc, riesling, marsanne... devo trazer a carta de vinhos?

Eu estava a ponto de desistir daquilo tudo e ir embora, mas tive um insight que foi basicamente a luz no fim no túnel.

– Qual a recomendação do chef? – perguntei, me orgulhando imediatamente do meu momento de finesse. Já tinha ouvido aquela frase em muitos dos jantares que frequentei na casa dos Dupin, e aquela parecia ser a hora perfeita para usá-la.

Pelo sorrisinho que ele me deu logo em seguida, posso dizer que acertei em cheio!

– Deixa eu ver...– fuçou seu tablet mais um pouquinho – ...com o Carbonara di polpo o chef recomenda o riesling!

– Perfeito, uma taça de riesling então! – disse, e tenho certeza de que ao finalizar o pedido e me dar as costas ele soltou um suspiro de alívio também.

Enquanto minha comida não chegava matei um pouco da fome beliscando a entrada – uma espécie de pão com alecrim e tomate que descobri se chamar foccacia – e aproveitei para me distrair um pouco mandando uma mensagem breve para Juliana, minha melhor amiga.

"Tô aqui no restaurante que você me indicou, senhorita. Pedi a recomendação do chef pro vinho...com certeza vão me empurrar uma taça do mais caro!!"

"Você foi mesmo?!?"

"Sim."

"Gostou da comida? E do lugar?"

Gold Rush - Bruno RezendeWhere stories live. Discover now