𝗖𝗮𝗽𝗶́𝘁𝘂𝗹𝗼 𝟮

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E lá estava eu parada em frente a porta da sala da minha classe, esperando que aquilo não passasse de um pesadelo e eu iria acordar a qualquer momento.

Talvez eu pudesse voltar para casa e contar alguma mentira… não! Eu não sei contar mentiras.

Nervosa, me virei de costas para a porta. Fiquei ali por mais alguns minutos, criando as piores situações possíveis na cabeça.

— Ei, você é dessa classe? 

Essa voz não pertencia a nenhuma das que estavam me assustando, era uma voz jovem, soava como um canto.

Lentamente ergui a cabeça. 

Uma garota. Ela me olhava curiosa esperando por uma resposta.

— E…eu, sim.

— Ah, então vamos entrar. Acho que estamos um pouco atrasadas, mas não temos que ter vergonha disso. – ela soltou um suspiro, passando a mão na testa para tentar limpar o suor que escorria. 

Parece que ela correu bastante para chegar a tempo.

Não pude deixar de olhar para suas unhas. Estavam pintadas de azul e tinham alguns desenhos. O tom azulado combinava com o seu cabelo também azul.

— Sim, vamos. – lhe dei um sorriso fraco e abaixei a cabeça.

— Antes, o meu nome é Asuna Tomoyo, prazer.

— Oh… O meu nome é…Eno- Somi, p…pode me chamar de Somi.

Ela me olhou por um tempo inclinando a cabeça para o lado, mas sorrindo logo depois.

— Assim tão rápido? Tudo bem, me chame de Tomoyo. Tenho certeza de que seremos amigas, não precisamos de formalidades, você tem razão!

Ela é tão animada.

Tomoyo segurou minha mão e abriu a porta. A verdade é que não estávamos atrasadas, havia poucas pessoas dentro da sala. Eu olhei rapidamente para alguns rostos ali, enquanto Tomoyo me puxava para o fundo da sala.

Ao olhar para o fundo da sala encontrei um rosto familiar. Um garoto a qual já tinha visto antes, Todoroki shoto.

Parece que acabamos na mesma classe…

Eu o conheci no dia do teste de admissão. Assim como eu todos que estavam lá haviam sido recomendados, provavelmente por alguém muito importante.

Ele tinha um ar arrogante e frio. Mesmo quando outro garoto tentou se aproximar várias ele ignorou completamente e no final acabou se irritando e sendo grosseiro.

Apenas por ver suas atitudes já sabia que não deveria incomodá-lo.

Estranhamente eu sentia que tremia um pouco quando me sentei em umas das cadeiras. Movia meus dedos inquietos e tinha medo de olhar aqueles rostos desconhecidos. Ainda de cabeça baixa eu tentava discretamente ver o que acontecia.

Alguns se apresentavam uns aos outros e se conheciam, outros pareciam não ligar para nada e estavam quietos. 

Para mim eu era a única nervosa, fazendo drama por causa de um simples dia de aula. Mas era minha primeira vez em uma escola, a primeira vez vendo pessoas que não eram as empregadas ou a vovó.  

Respirei fundo várias vezes, mantendo a cabeça baixa, pedindo que o professor aparecesse logo e começasse a dar a aula. 

Então logo depois dos ultimos alunos chegarem, ele finalmente chegou com seu jeito esquisito e diferente. O rosto tão sonolento quanto a voz.

— Eu sou Aizawa Shota. Serei professor de vocês. Prazer em conhecê-los. — enquanto se apresentava, seus olhos pareciam ter parado em mim por um momento, mas logo desviou.

Estranho… Será que estou tão nervosa ao ponto de ver coisas?

Fechei os olhos com força e pisquei algumas vezes, levemente dando tapas em meu proprio rosto.

— Sei que mal começamos, mas, vistam isso e vamos lá para fora.

Dito e feito. Vestimos os nossos uniformes de treinamento e saimos.

Como esperado de uma escola de heróis, tudo aqui é diferente das escolas comuns. Mesmo sendo o primeiro dia teríamos que fazer um teste de dons, aquele que ficasse em último lugar seria expulso. Com a expressão que havia no rosto do nosso professor eu não ousaria duvidar que era mentira, saber disso me preocupou ainda mais. Ser expulsa sem nem ter começado seria humilhante e o pior é que receberia uma punição terrível em casa.  

Tomoyo ao meu lado choramingava apreensiva.

— Isso não é justo! O teste de admissão não foi o suficiente? – ela cruzou os braços encarando o chão com um bico nos lábios. – Você também concorda, Somi-san?

Eu não tinha uma resposta certa. Em nossa visão aquilo era injusto para nós. Contudo, para o professor aquela era a maneira correta de nos mostrar a seriedade da profissão que queríamos seguir. Não estávamos ali para brincar de ser herói.

— Eu não sei dizer.

A garota franziu o cenho sem entender o que eu queria dizer. Voltei minha atenção aos outros alunos que expressavam sua indignação.

Ignorando qualquer outra reclamação de seus alunos, Aizawa enfim iniciou os testes.

Então chegou minha vez de fazer o último teste. Jogar a bendita bolinho o mais longe que puder usando sua individualidade.

Isso mesmo, sua individualidade. A única coisa que todos os presentes naquela escola tinham em comum. Algo que para mim em pouco tempo havia se tornado um problema. Eu não sabia como usar, como controlar ou como funcionava. Mas quando pensava muito sobre isso, sempre acabava destruindo alguma coisa, seja fazendo elas flutuarem, se moverem sozinhas ou simplesmente quebrar de repente. Todas as vezes deixando um rastro de luz azul para trás.

Explicando assim seria fácil pensar que minha individualidade estava relacionada com telecinese, mas comigo é mais complicado.

Não há nada ruim que não possa piorar.

𝐀 𝐌𝐀𝐑𝐈𝐎𝐍𝐄𝐓𝐄˖ ࣪, BnhaWhere stories live. Discover now