09. ESMERALDA : Flores mortas

1.7K 210 167
                                    

Carlisle retornou no dia seguinte, exatamente como garantiu que faria.

Veio sozinho, Giancarlo permaneceu na porta.

Atrás da parede fina de madeira, o ruído irritante da bengala batendo no chão azeda meu humor.

O plano inicial consistia em voltar a ignorá-lo por completo, dispensando o mesmo tratamento oferecido aos outros.

—Alguma preferência para o café da manhã?—

Estou deitada na banheira, a água me cobre até o pescoço, e só meus dedos e parte dos pulsos estão para fora, apoiados na borda da banheira convenientemente acomodada no meio do cômodo. 

Carlisle não olha para mim, está ocupado demais examinando a bagunça que fiz.

Quebrei todos os frascos de óleo perfumado.

Rasguei os lençóis.

Destruí as camisolas novas, inclusive a que usava na noite anterior, cujos modelos nunca havia visto nos catálogos favoritos da minha mãe e irmãs.

Queria dormir, mas Giancarlo não parava de bater a maldita bengala no chão, exatamente como está fazendo agora. 

—Eles contaram?—

Vincenzo, em especial, fica  em júbilo ao descrever meu suposto passatempo favorito, devorar criancinhas tísicas.

—Contaram sim.—

—O senhor não se importa ou não acredita?—

—Qual das duas opções prefere?—

—As duas são péssimas.— 

Respiro fundo, fechando os olhos ao sentir o aroma fresco da loção cítrica que ele está usando agora. 

Limão, flores de laranjeira e algo mais.

Inconscientemente, me inclino em sua direção, atraída pela novidade que é receber um visitante cheirando tão bem. 

Carlisle não se afasta, trava naquela posição: Ajoelhado ao lado da banheira.

Almíscar, o algo mais é almíscar. 

—A primeira significa que é tão cruel quanto os outros, e consequentemente uma pedra no meu sapato.—

A segunda que é estúpido de verdade, pois nada de bom vem em discordar das certezas inabaláveis dos Giovanni.

—Eu sei.—
Os dedos correm a louça molhada, e ficam a centímetros de tocar os meus.

Ele hesita, e por uma razão que eu conheço bem, carência, desejo que segure minha mão, oferecendo ao menos a ilusão de que se importa comigo.

— As ataduras precisam ser postas na pele seca.—

Baixa a face.

Os fios louros cobrem parte da testa, desalinhados, e a aparência relaxada o deixa mais atraente. 

Engulo em seco, contendo a sensação estranha das borboletas se agitando na minha barriga.

A beleza deles é uma arma, nem por isso deixa de me afetar.

Carlisle não está respirando, suas unhas fincadas na borda da banheira provocam uma pequena rachadura no móvel bonito e o vampiro se afasta. 

Uma mostra de inquietação familiar para mim: Fome.

A água na qual estou mergulhada está tingida de vermelho.

—A noite será melhor, eu me curo mais rápido dentro da água.— 

✔ Esmeralda e outras flores mortas| Carlisle CullenWhere stories live. Discover now