Prólogo - Vinte anos

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Prólogo - Vinte anos


Quando você tem vinte anos, acha que é invencível. Não sei exatamente como acontece, mas acaba passando uma borracha em momentos ruins, lembrando apenas dos bons em uma amnésia que te faz perguntar o motivo do porque não deveria errar mais uma vez. Na verdade, você tem absoluta certeza de que não erra, ou melhor, se errar, que é um evento isolado. É normal, todo mundo acredita que não cometerá o mesmo erro duas vezes — mas comete, só que não é o mesmo erro, porque ele tem pequenas diferenças entre um e o outro.

Então erra de novo.

E de novo.

E, talvez, este seja o maior defeito dos jovens: saber que nada é para sempre e, ao mesmo tempo, que tudo parece eterno. Os amores são intensos e as decepções, cortantes. As noites em claro passam em um piscar de olhos, mas os dias entre uma notícia e outra se arrastam como décadas.

Este é o paradoxo da juventude. Ter tudo e não ter nada. Os dois ao mesmo tempo.

— Qual é, Estela, olha tudo o que eu fiz por você, não estou pedindo muito em troca — Caíque sussurrou, segurando meu braço com força.

Parecia que eu estava sempre próxima o suficiente para estar ao alcance dos seus dedos, mas longe o bastante para que eu pensasse que tinha algum controle, quando, na verdade, quem o tinha era ele.

Sempre foi ele.

Eu apenas fui tola o para achar que palavras significavam algo, afinal, quando você tem vinte anos, acha que entende tudo sobre pessoas e a vida.

Uma dica? Não entende nada.

Por isso estávamos ali, no meio da festa mais aguardada do ano, com a música estourando nossos tímpanos, o álcool regando minhas veias e sorrisos falsos sendo distribuídos como camisinhas em pleno carnaval. Uma ótima inauguração. Um novo começo. Ou final, mas naquele momento eu não sabia.

— Você me traiu sem pensar duas vezes — cuspi as palavras com o maxilar travado, a respiração presa dentro dos meus pulmões para que eu não desmoronasse na frente dele. Estava a um suspiro de derramar a primeira lágrima pelo meu primeiro coração partido, mas não o último.

Jamais o último.

Existe algo engraçado sobre os primeiros: eles cravam suas garras no seu peito e prometem jamais te soltar, como promessas que depois se tornam algemas. Sussurram na noite estrelada que estarão sempre ali e, no começo, você acha que seus sonhos se realizaram. É tudo o que você quer. E aí entende que, de fato, eles estarão sempre ali, mas não é por você. São apenas um fantasma de tudo o que um dia foram. Um fantasma de tudo o que não aconteceu. Um fantasma de todas as promessas que quebraram, assim como as taças esquecidas no chão em uma noite de ano novo.

— Você sabe que não é verdade, princesa — puxou meu corpo contra o seu, sua colônia de caju me enjoou de imediato, porque ele a usava como se fosse sua marca registrada e sem moderação.

— Você é um merda. Eu te odeio — assoprei para fora do meu coração, contudo aquelas palavras ainda não eram verdade. Não ainda, porque, o amor não morria em um segundo. Não deixava de existir só porque você queria.

Deixar de amar alguém era como se livrar de um veneno. Ele circulava pelo seu corpo um pouco menos todos os dias, e, antes de ficar bem, a sensação era de que estava prestes a morrer. Até que um dia, você acreditava que estava curado, isso é, apenas para descobrir que nunca se curou de verdade.

— Eu estou te protegendo, cuidando de você — afagou minha pele, seus dedos subindo pelo meu braço até meu queixo para que eu mirasse seus olhos verdes que escondiam tantos segredos, tantas mentiras, que eu não sabia mais se deveria acreditar nele, mesmo que quisesse — eu não queria dizer nada, mas quem errou aqui foi você e eu fiz tudo, tudo, Estela, para que isso não te atingisse. E eu estou pedindo algo tão... pequeno em troca, que não sei como você pode se recusar. Tudo o que eu quero é que a gente coloque isso para trás e volte a... você sabe.

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⏰ Last updated: Apr 28, 2022 ⏰

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