Capítulo 53

48 8 2
                                    

Simon Klein

Nathalie estava nos meus braços. Tinha muito sangue e ela parecia estar fraca. Na verdade, cansada de lutar. Tudo estava em câmera lenta de novo, eu não conseguia escuta direito, apenas Joseph gritando “ abre o olho, fica comigo “ mas Nathalie não respondia.

A ambulância chegou e colocou ela correndo na maca, começaram a fazer os procedimentos alí mesmo. Klaus entrou com ela na maca e a porta se fechou. Foi a última vez que eu vi Nathalie Klein.

....

Dois dias se passaram do dia do aeroporto. Eu estava sentado no sofá da minha sala esperando Nathalie terminar o lanche. Mas na verdade ela não tinha nem começado. Alguém coloca a mão no meu ombro e me faz voltar para a realidade.

- Simon... Está na hora.... Precisamos ir. – Adam fala e forma triste.

- Nathalie vai fazer um lanche. – Respondo sem anima animação.

- Simon... – Ele desiste. – Vamos ver a Nathalie... Vamos. – Ele fala e segura minha mão me fazendo levantar.

Joseph já estava nos esperando no estacionamento junto com Hall. Entramos no carro e seguimos em silêncio para um lugar que eu não queria ir. Chegamos e todos já estavam nos esperando. A cerimônia já tinha começado. Alice estava sentada em uma cadeira amparada por Dominic chorando sem parar. Klaus estava acabado. Mike tentava se manter forte. E eu? Eu estava destruído demais pra pensar em alguma coisa.

- Eu não queria estar aqui. Vamos embora. – Falo para Adam.

- Precisamos estar aqui. Pela família e por você. – Adam explica.

- Não sei porque estou aqui. Isso é ridículo. – Falo irritado.

- É o enterro da Nathalie.. Nina... Eu sei que é difícil... Mas precisar ser forte. – Adam fala e segura a minha não.

- Ela não morreu. Não aceito. – Falo e me afasto.

Saio do cemitério e vou pra casa. Chamo um carro de aplicativo. Entro e fico olhando nossas fotos e vídeos, mas não consigo chorar. É como se tivesse desligado minhas emoções. Chego em casa e  ou direto para o quarto dela. Pego uma blusa dela e deito em sua cama.

....

Acordo no meio da madrugada ouvindo a voz de Nathalie.

- Simon você precisa ficar bem. – Ela fala de forma triste.

Eu me levanto e começo a procurar por ela. Chamo Nathalie mas ela não aparece.. começo a gritar com ela e nada. Escuto umas batidas na porta e vou correndo abrir, mas me deparo com Hall.

- Klein... Está tudo bem? – Ele me pergunta com pena.

- Estou sim. – Falo querendo fechar a porta. 

- Quer dormir na minha casa.... Ou quer que eu fique aqui? – Ele mantém o tom.

- Não precisa. Estou bem. – Repito nervoso.

- Estava chamando por ela. De novo.... – Ele me olha nos olhos.

- Está tudo bem. Vou ficar bem. – Falo e fecho a porta.

Todos estavam pensando que eu estava ficando louco. Mas eu tenho escutado a Nathalie... Eu não acredito que ela morreu. Tudo aconteceu rápido demais no aeroporto. Felipe estava morto, levou cinco tiros. Mas Nathalie... Aquele tiro não era pra ela, como Felipe ainda teve força pra atirar? E porque não errou? Ou porque não acertou em mim? Porque tinha que ser a Nathalie.

Mas eu estava ficando louco. Desde que cheguei em casa do aeroporto, passei a escutar Nathalie. Isso pode ser um processo do luto, mas quando eu perdi meu pai, não fiquei escutando ele me chamar.

O mais difícil é o olhar de pena de todos. Achando que eu enlouqueci ou que preciso de uma babá vinte e quatro horas direto. Mas eu só quero ficar sozinho. Repito fundo e volto para o meu quarto. Me arrumo e vou para a empresa. Preciso trabalhar, ocupar minha mente. Chamo um carro e vou o mais rápido possível para a recepção, evito falar com o porteiro pra tentar ter menos um olhar de pena pra mim no dia. Entro no carro e logo estou na empresa.
Passo pela recepção do prédio. E vou direto para a minha sala ignorando todo mundo. Tranco minha porta e sento em minha cadeira. Olho pra mesa e vejo a foto preferida de Nathalie, eu revelei e deixei uma aqui também. Nós dois sorrindo com o por do sol. Ela estava muito feliz nesse dia.

Começo a trabalhar, olhar meus contatos, assinar. Pesquisar fases do luto e clínicas pra eu me internar, se for o caso. Adam fica andando na frente da minha porta criando coragem pra entrar, então coloco meus fones de ouvido sem música.

Depois de longas horas eu vejo Nathalie perto da porta do meu escritório me olhando, parecia que ela tinha chorado por muitas horas. E nesse momento eu tive a certeza de que eu estava maluco. A porta do escritório estava trancada, não tinha como ela abrir. Nathalie... Estava... Morta... Não tinha como ela estar em pé na minha sala. Sinto uma pressão na nuca. Meu coração acelerar e me falta o ar.

- Simon se acalme por favor. Eu vou chamar alguém. – Ela fala e desaparece.

Me levanto da cadeira com dificuldade e vou me arrastando até a porta. Caio no meio do caminho e vou engatinhando. Me aproximo da porta e vou me levantando com dificuldade. Meu peito estava doendo muito e eu já estava sem ar. Consigo abrir a porta com muita dificuldade e caio pra fora do escritório. Um funcionário me vê e grita por Adam.

Adam aparece correndo. Me segura e diz que tudo vai ficar bem. Ele me carrega até o elevador e quando descemos já tinha uma ambulância me esperando. No caminho para o hospital eu escutava Nathalie chorando e Adam segurava a minha mão e me pedia pra ser forte. Acabo desmaiando antes de chegar no hospital.

.....

Abro meus olhos e sinto dor no meu corpo todo. Tento me levantar mas Joseph me impede. Me ajeito na cama com a ajuda dele e começo a olhar em volta. Eu estava em um quarto de hospital, com vários aparelhos grudados em mim. Adam estava sentado no sofá com uma aparência de acabado.

- A quando tempo eu estou aqui? – Pergunto com dificuldade

- A algum tempo. – Joseph responde.

- Preciso voltar pra casa. – Falo e vejo alguém entrar.

Era ela de novo. Nathalie em pé na porta, segurando um copo que provavelmente era um suco. Ela não tomava café. Eu estava enlouquecendo. Sem dúvidas precisava de tratamento. As alucinações já deveriam ter acabado.

- Eu estou ficando louco. – Falo olhando para Joseph.

- Não entendi. – Ele me olha preocupado

- Estou vendo Nathalie em pé na porta. De novo. Já tem um tempo que eu escuto a falar também... Eu preciso de ajuda. – Falo e fecho os olhos.

O recomeço Where stories live. Discover now