CAPÍTULO 3

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"Você vai me encontrar / Em lugares que nós nunca estivemos / Por razões que não compreendemos / Andando no vento" Walking in the Wind - One Direction


Uma voz serena me acordou.

Era o cantarolar de alguém. Um som imponente, mas de uma forma delicada, como eu nunca ouvira antes. Alguém que cantava bem baixinho e para si, como se fosse uma ação automática, realizada apenas para passar o tempo. Não consegui entender bem a letra pois, além de ainda estar sonolenta e confusa, creio que fosse numa língua antiga e que não conhecia.

Demorei um tempo para associar o que estava acontecendo, pois meu corpo chacoalhava feito um saco de batatas sendo carregado em uma charrete igual a essas de vendedores que exibem seus produtos em feiras comunitárias próximo ao castelo em dia de festividade.

Não, meu corpo chacoalhava como se eu estivesse montada a cavalo, e minha cabeça latejava da mesma forma quando Francesca e eu bebíamos rápido demais algumas garrafas de hidromel que roubávamos em segredo dos conselheiros do rei quando chegavam para reuniões políticas e as guardavam no estoque da cozinha.

O que havia acontecido?

Tentei abrir os olhos, mas a claridade dos raios da manhã me impediu.

Senti um aroma diferente invadir meus pulmões, parecido com alguma especiaria diferente, assim como as que meu pai trazia quando voltava das missões especiais para as quais o rei o mandava. Talvez fosse mirra ou até cardamomo, que era minha especiaria preferida. Cardamomo lembrava-me a minha mãe e os biscoitos que ela fazia quando eu era criança. Mas esse aroma era diferenciado, o ar em meu rosto trazia com o vento aquele frescor de orvalho e... calor?

- Ah, você finalmente acordou! Bom dia, Tine. - escutei uma voz soar ao pé do meu ouvido, sussurrando. Assim como a voz que me acordara com uma canção. Mas que diabos era isso? - Tente não abrir os olhos, ou vai sentir como se estivesse sendo esfaqueada. E, vai por mim, não é nada agradável.

Ao recuperar os sentidos e as sensações do meu corpo, vagarosamente percebi que eu realmente estava em cima de um cavalo. Porém, além de não estar sozinha, estava amarrada a esse alguém. Havia dois braços fortes passando por debaixo dos meus, prendendo-me ao seu torso e me escorando para que eu não caísse da sela.

- Ki... Killian? - sussurrei a vaga lembrança que ecoava em minha mente, me recordando do rapaz que possuía asas e estava ao lado do fada por quem Francesca se apaixonara. Meu instinto gritou para que eu seguisse seu conselho à risca, então não abri os olhos, minha cabeça ainda latejava muito.

- Então quer dizer que você teve tempo de me escutar antes de apagar? - senti sua risada seca e curta ressoar por minhas costas, fazendo meu corpo inteiro tremer colado ao seu, mais ainda do que ele já tremia devido ao trotar do cavalo abaixo de nós. - Achei que fosse ficar apagada o caminho todo, foi difícil te segurar e segurar as rédeas com você se debatendo, sabe? Acho que teve algum tipo de pesadelo. Parecia um peixe fora d'água.

- O que? - balbuciei.

Meu corpo ainda estava sonolento e eu não conseguia raciocinar o suficiente para elaborar uma resposta à altura, muito menos para me desvencilhar e sair correndo de onde quer que estivéssemos. Ainda estava um pouco exasperada por conta do que havia sonhado, tudo pareceu tão real e estranho.

- Oh, você não sabe de nada mesmo, não é? Francesca comentou algo sobre, mas achei um exagero da parte dela. Acho que me enganei ao duvidar da capacidade dela. - ele riu mais uma vez, movimentando minhas costas mais uma vez. Estávamos com os corpos colados e eu não conseguia me desvencilhar de maneira alguma. Maldita Francesca. Killian aproximou-se mais ainda seu rosto do meu e sussurrou ao pé de meu ouvido - Estamos indo para a Floresta Encantada.

A MELHOR AMIGA DA PRINCESA (Reino de Seres e Maldições)Where stories live. Discover now