𝔓𝔯𝔬́𝔩𝔬𝔤𝔬 - ℭ𝔥𝔯𝔦𝔰𝔰𝔦𝔢

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Sacerdotes são estúpidos e não me canso de repetir essa frase mentalmente, enquanto caminho entre nobres folgados e as palavras que deveriam ser reconfortantes provindas dos charlatões que pouco se importam com alguém além de suas estúpidas faláci...

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Sacerdotes são estúpidos e não me canso de repetir essa frase mentalmente, enquanto caminho entre nobres folgados e as palavras que deveriam ser reconfortantes provindas dos charlatões que pouco se importam com alguém além de suas estúpidas falácias que os mantém no reino.

Baboseiras.

Eu não queria estar nesse lugar e muito menos teria aceitado o convite para ficar no palácio se não me parecesse tão rude comparecer ao enterro do meu pai e logo depois, pegar a primeira carruagem e partir.

E se aquela estúpida frase, "lamentamos informar que seu pai veio a falecer a caminho de Valles", não ressoasse em minha mente toda vez que ouço qualquer coisa relacionada a morte da única pessoa que realmente me amava e me aceitava da maneira que sou, certamente nem teria sequer deixado as estúpidas lágrimas rolarem de meus olhos, nesse estúpido enterro, cheio de pessoas estúpidas.

"Comporte-se Lady Chrissie Edevane, você é filha do duque. Uma dama, uma moça, uma mulher e deve agir como uma", era o que eu mais ouvia e talvez fosse por esse motivo que meu pai me mantinha longe da capital, dos nobres, dessa vida hipócrita e perto dos documentos relacionados a nossa província, qual eu era sua assistente pessoal.

Era.

Agora, sou apenas a pobre sobrinha do rei e da rainha de Casterllato. A pobre garota que já está completando seus vinte anos e ainda não se casou, mas precisa porque, damas tem até os vinte e um para se tornarem esposas e gerarem herdeiros.

— Meus sentimentos, querida — a voz da minha tia me trouxe à tona. Seus olhos verdes, iguais aos meus e aos de meu pai, estampam toda tristeza que seu coração sente. Tristeza essa que me preenche desde o momento em que recebi aquela carta.

— Obrigada, Vossa Majestade — contraí os músculos dos lábios em um sorriso fraco, ou o mais próximo que consegui disso.

— Não seja tão formal, somos sua família — ela continuou, ajeitando sua coroa em seus fios dourados e ondulados. Tão parecida com meu pai, ambos loiros, olhos verdes, feições alegres. Não mais alegres. Não mais vivas.

Meu pai está morto.

Virei-me para a janela e observei meu próprio reflexo. O meu cabelo castanho, ondulado, que quase formam cachos, presos em um coque desgrenhado, devido a minha falta de cuidado, enquanto buscava me consolar. Meu vestido preto, sujo de lama, devido a chuva que insiste em cair fora do templo. Chuva qual, me mantém presa durante toda essa cerimônia ridícula com todas essas pessoas ridículas.

Estreito os olhos, percebendo mais uma aproximação.

Nem preciso me virar para saber que tipo de pessoa aparece ao lado do meu reflexo, ousando trocar algumas palavrinhas comigo, mesmo diante toda minha repulsa aparente a gente como ele. Sacerdote.

Me inclino o suficiente para encontrar a figura parada em minha frente, com sua manta cinza que cobre todo seu corpo e um capuz que fora retirado, revelando um rosto envelhecido de uma velha aparentemente rabugenta, porém de certa forma, familiar.

— Senhorita Edevane — me concentro em sua voz rouca e arrastada — Pode não me conhecer, mas eu a conheço. Tenho algo para lhe dizer e não tomarei muito do seu tempo.

— Perdoe-me, mas não estou interessada em mais frases de conforto — tento parecer amigável — Estou muito cansada.

— Precisa me ouvir, menina. — ela ergueu a voz.

Suspiro, incomodada. Eu sei que a única forma de me livrar dessa mulher é a ouvindo.

— Está bem. Seja breve, por favor.

— Escute com atenção — começou, olhando ao redor antes de voltar-se novamente para mim — Nem sempre as corujas nos guiarão para o caminho certo, às vezes serão os corvos.

— É isso? — pergunto confusa, arqueando as sobrancelhas.

— O que mais deveria ser? — a sacerdotisa retruca, como se eu fosse a estúpida aqui.

— Sabe, sacerdotes podem enganar mais que a metade do reino com toda essa história de profecias, magia das divindades, ou seja lá o que os senhores falam. Mas eu não caio nessa conversa — deixo escapar uma risada amargurada — As divindades sumiram e o Grande Criador foi o único que sobrou, mas mesmo assim, sacerdotes continuam dizendo coisas idiotas que nem ao menos dão para entender!

— Menina tola! — ela esbravejou — Teimosa como a mãe!

— Não fale da minha mãe! — digo entredentes — Vocês disseram que ela sobreviveria no parto, mas veja, ela está morta e agora o meu pai também está. Então eu sugiro que não me incomode mais com essas suas falácias!

— Chrissie, o linguajar! — meu tio se aproxima de mim — Sacerdotisa Quésia, dê um tempo a ela e não a encha com suas bobagens.

— Se é o que deseja, Majestade — observei a velha tomar seu rumo, um pouco contrariada, mas parecendo não surpresa com nossas reações.

Sorri para o rei, disfarçando meu incômodo. Está na hora de voltar ao palácio e me preparar para enfrentar toda a estupidez, trajada de elegância da corte real.

 Está na hora de voltar ao palácio e me preparar para enfrentar toda a estupidez, trajada de elegância da corte real

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Oi leitores, espero que estejam gostando da história (mesmo que esse seja apenas o prólogo haha )

Não esqueçam de curtir os capítulos, deixarem suas impressões e sugestões. Um beijo e por enquanto teremos de um a dois por semana :)

Eterna - Corvos e corujas (VOL. 1) [Físico em breve]Where stories live. Discover now