Amigo Orwell

Capítulo 2

Em algum lugar, alguns anos atrás...

— Lena, nós precisamos conversar.

    A figura delicada da donzela se vira suavemente, com um adorável sorriso ao encontrar os olhos de seu amado. Seus cabelos cacheados caiam sobre seus olhos e seguiam até seus lábios, que ansiavam por encontrar os do homem que estava morbidamente triste em sua frente.

— Espere... – Ela fez uma pausa, e sua expressão adorável se verteu num bico e num cenho franzido. – Lena? Pra você é: Meu amor.

— As coisas não estão mais funcionando, eu não sinto mais a mesma coisa... Estamos com muitos problemas, e isso está subindo demais à cabeça, está ficando tudo muito tenso.

— Do que está falando? Parece até que está querendo acabar com tudo. Diga que não é isso, querido... – Ela cerra os olhos, estreitando a vista, enquanto o jovem se cala ante tal afirmação. – Não... você não vai.

— O que? – O rapaz ergue o rosto, vendo o quão ameaçadora sua amada havia se tornado.

— Você não vai me deixar, Orwell. – Os olhos levemente puxados dela fitavam friamente sua pobre expressão de desgosto. – Quando me pediu em namoro, eu disse que seria pra sempre, e agora não pode mais voltar atrás.

— Isso está me sobrecarregando, Lena... – O jovem olha para o chão, coçando a nuca com uma das mãos.

— De novo me chamou pelo nome?! Está querendo acabar com tudo? De verdade? – Estava revoltada, seus olhos castanho claros estavam arregalados em direção a ele.

Orwell respira fundo, e olhando fixamente em seus olhos responde:

 — Sim. Eu estou sim.

    Para Lena, tal frase tinha puxado seu tapete. Por que razão ele queria acabar com tudo? Sentiu imediatamente que perderia a pessoa mais preciosa em sua vida. Seu delicado queixo havia se enrijecido, sua pele bronzeada estava já avermelhada em cólera, pequenas lágrimas se formavam aos cantos de seus olhos, aquilo era o fim.

— Por favor... – A pioneira deslizou sobre seu belo rosto, chamando um par de outras lágrimas consigo. Lena estava em prantos. – Eu preciso de você... não me deixe... Não consigo viver sem seu carinho.

Orwell estranhara o quão rápido ela fora de totalmente decidida a um estágio pré-depressivo, mas decidiu falar na mesma língua. Aquilo fora de zero a cem muito rápido.

— Está pesado pra mim, não consigo equilibrar tudo... E meus pais ainda nem sabem... Não sinto que agora é a hora certa. – Disse ele.

— Eu espero... eu espero! Por você eu esperaria mil anos até que fosse a hora certa! – Segurou firmemente as mãos de seu amado, apertando-se contra ele. – Só não vai embora, como os outros fizeram comigo...

— Desculpe... mas... – Orwell virara lentamente o corpo, como quem se vira para seguir seu caminho.

— Não! – Lena o puxa pelo braço, tocando seu rosto e então beijando suavemente seus lábios, deixando com que seu choro o regasse. Seus corações batiam sincronizados, o jovem havia esquecido como era aquela sensação... Talvez tivesse se apaixonado novamente. – Eu te amo, Orwell... não me abandone...

— Eu...

    Aquela decisão mudaria tudo, a escolha de continuar ou não estava em suas mãos, aparentemente. Já era a hora de fazer algo a respeito, mas seu coração ardia pelo não. Parecia para si que perderia seu rumo, e que a mulher mais maravilhosa do mundo se desfaria como pó ao vento. Pensa por alguns segundos, reflete sobre tudo o que perdera, e olha aos olhos encharcados de Lena.

Ele havia retrocedido. Nunca teria coragem.

Orwell suspira profundamente, consentindo ao dizer:

— Eu não vou... — A moça o abraça, com todas as suas forças, soluçando vez ou outra, enquanto deixa cair suas lágrimas sobre o Blazer do jovem. — Eu não vou a lugar nenhum...

    O vento batia nas folhas das árvores, no cenário cinza que envolvia o jovem casal, aquela lembrança o faria pesar por muitos dias. O céu estava entristecido, e as paisagens que o tanto animavam, já não eram mais suficientes. Orwell havia feito sua escolha.