Prólogo

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— P'Mew, o que está acontecendo? — eu disse enquanto as mãos grandes de Mew tampavam os meus olhos e me guiavam pelo enorme quintal da casa dele.

— Espera só um pouquinho. — ele disse atrás de mim.

Dois dias antes ele havia me dito que teria uma surpresa para mim, desde então estava ansioso o suficiente para não dormir.

tcharam! — ele tirou as mãos dos meus olhos.

— Uma moto? — arregalei os olhos. Mew sabia que eu era louco por motos. Meu sonho era ser mecânico, e ele sabia disso. — Uma Harley?

— Sim! — ele exclamou, passando a mão no tanque cor ébano. — Uma harley, pedi de aniversário aos meus pais, e ganhei!

— Caramba, isso é incrível. — eu disse abraçando ele.

— Ela é perfeita, igual a você.

¥•¥

— Que temporal... — foi minha mãe quem disse, olhando pela janela.

— Sim. — dei um pequeno solavanco com um trovão retumbante nos meus ouvidos.

Minha mãe era bem sistemática com coisas "perigosas", por exemplo: Não era difícil ela começar a rezar ali mesmo para a casa não cair enquanto chovia.

— Desliga essa televisão, Nattawin! — ela tirou a televisão da tomada e eu reclamei.

— Mãe! — exclamei me afundando no sofá. — Era meu programa favorito.

— Depois um raio cai na nossa casa e a gente morre e você nunca mais poder assistir. — ela disse, não tardou a luz da sala piscar e um enorme raio cair do lado de fora da casa. A energia caiu.

— Tá vendo? Jogou praga. — eu disse. O meu telefone vibrou no bolso.

O sinal estava péssimo, mas eu podia ver que era a Alexis, irmã mais velha do Mew. Atendi na mesma hora.

— Lexi? — eu praticamente gritei, o a voz dela chiava enquanto ela tentava falar, mas saía entrecortada.

O... Mew...chegou... — chiado. — Aí?

— Não, Lexi. Mew não está aqui. — franzi a sobrancelha.

— Nattawin larga esse celular! — minha mãe mandou e eu pedi para esperar um pouco.

Ele falou que iria para a sua casa. — ainda chiava muito, mas a voz agora era mais perceptível. — Ele iria fazer uma surpresa.

Minha casa era apenas vinte minutos da casa dele. E Alexis me disse que ele havia saído de lá havia duas horas.

¥•¥

Eu me lembro do cheiro insuportável de remédio do hospital, da mãe de Mew chorando copiosamente no colo do marido e de Alexis sentada em uma das cadeiras de plástico enquanto olhava pro nada.

— O que aconteceu? — perguntei a eles, a mãe estava tão desesperada que não soube responder. O pai, como sempre, não me olhou.

Ele nunca aceitou a bissexualidade do filho.

— A moto escorregou em uma poça d'água e ele bateu em um caminhão. — Alexis explicou se levantando. — o fecho do capacete estourou e Mew foi arrastado pelo caminhão por vinte metros antes do motorista perceber.

Meu mundo caiu. Eu quis morrer ali mesmo.

Cinco horas foi o tempo de espera da cirurgia até o médico chegar na recepção.

— Mew sofreu muitos traumas, além do traumatismo cranioencefálico, uma das costelas dele se partiu e perfurou o pulmão direito. As chances de sobrevivência são ínfimas. A hemorragia foi grave. — o médico disse em tom calmo e apaziguador.

Nervemind | MileApo Where stories live. Discover now