Capítulo 1

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Era uma manhã como qualquer outra, mais um dia se iniciava com a delicadeza precisamente suave; Os pássaros cantando como em uma orquestra, o vento soprava contra as folhas das arvores lá fora, suave e constante. Tantos detalhes, tantas sensações, mas nenhuma delas era o suficiente pra afastar de Mary a única sensação que a assombrava todas manhãs... Todos dias ela acordava tomada pela fria e insistente melancolia de sentir como se seus constantes sonhos fossem uma vida inteira que ela já havia vivido. Talvez em outra encarnação, talvez uma vida que ainda estaria por vir, era extremamente confuso, mas era tão real quanto os detalhes de cada amanhecer. Mary deixou de ir na faculdade a duas semanas, um luto a acompanhava, mas ninguém havia morrido, então ela se perguntava o porque de sentir como se estivesse perdido.

Em poucos segundos ela já não lembrava de nada que havia sonhado durante toda a noite, eram sonhos contínuos, complexos, como uma vida alternativa, mas com a saudação do crepúsculo no horizonte já não sobrara nenhum vestígio de lembrança dos rostos, vozes e nomes que a envolveram durante a madrugada. Mary foi diagnosticada com a princípios de depressão, uma lista relativamente extensa de remédios lhe foram receitadas, ela nem os compraram. Era algo mais simples de resolver, ela sabia que os remédios deixaria ela dependente, então a alternativa era achar respostas... Mary sonhava desde nova, dia após dia ela construiu amigos, lugares e alguém que se importava com ela. Ela tinha essa certeza até esquecer os detalhes, nomes e tudo relacionado a esse mundo secreto que habitava em seu sub consciente, todavia, acontecimento relevantes ela não esqueceu, por exemplo o fato de sua existência e a eterna convicção de que esses sonhos não eram só sonhos.

Naquela manhã ela se levantou da cama e foi direto pra cozinha, enquanto sua maquina de café ligava ela fitava a janela, mas não via além dela... O par de olhos verdes de seu reflexo a fitava quase com uma insatisfação, seu momento de reflexão foi interrompido por uma batida tímida na porta... Mary deu um gole em seu café e repousou a xicara sobre a mesa da sala, ao chegar na porta era Keven, uma visita inesperada, portanto amigável. Ele era um grande amigo, sempre se importava com seu bem estar e não perdia uma oportunidade de falar do romance fracassado que Mary tivera a anos atrás, como justificativa de toda fadiga com interação social hoje, mas ela discordava, apesar de ser alguém que ela realmente se importou, havia passado anos e nem seu nome recordava mais.

Mary lhe serviu uma xicara de café com pouco açúcar, do jeito que ele gostava, o motivo de sua visita não era tomar café, a finalidade era mais radical que a cafeína, ele viera chamar Mary pra aprender a surfar novamente. Apesar de saber que era uma completa perda de tempo, Keven insistia todos finais de semana ensolarados, no fim das contas ele não queria vê-la surfar, apenas não queria ela trancada dentro de casa mais um dia. Para a surpresa de ambos, ela aceitou seu convite insistente e em poucos minutos eles já estavam na praia. Sentada debaixo de uma grande sombra refrescante ela observava Keven domar cada onda com maestria, era quase hipnotizante ver o quão parecia fácil fazer tantas manobras em intervalos curtos de tempo. Ao retornar da água e sentar do lado de Mary ele a fitou por alguns segundos, respirou fundo e tentou achar as palavras certas...

- Eu preciso te dizer uma coisa...

Ela o interrompeu quando levantou bruscamente, em uma pressa quase desesperada, ela fitava um homem de costas pra ela. Seu cabelo castanho curto era familiar, ela havia visto, mas não tinha certeza... Mary começou a caminhar até ele, lentamente, incrédula. Quando Keven a segura pelo braço.

- Me escuta Mary!

Ela se solta e corre até o rapaz... Ofegante, com o cabelo caído no rosto e olhos trêmulos ela se vê numa tentativa inútil de falar algo, então uma lagrima lhe foge quando o homem se vira e encara seus olhos... O par de olhos castanhos a fitava com calmaria e confiança. Agora Mary havia certeza que era o rosto que a prometia tudo em seus sonhos. Seu êxtase foi interrompido quando Keven a puxou virando para ele;

-Mary, me escuta, isso não é real... Não é real!

-Como? É com ele que sonho, ele é o cara que esteve comigo a anos atrás... Mas porque não me lembro de seu nome?

- Pelo fato disso não está acontecendo!

-Mary Maya... Olhe pra mim! - Ele a chama se aproximando dela. Quando ela se vira, o misterioso rapaz já estava bem próximo, o suficiente pra tocar sua bochecha, um carinho profundamente delicado, seus dedos percorrem seu rosto lentamente até seus cabelos, Mary respira fundo e encara seu rosto familiar que agora sorria pra ela...

O vento estava gelado e junto com o sol se foi também todo o medo de estar sozinha, então ela se permite piscar e mantém seus olhos fechados apreciando cada movimento que seus dedos faziam em seu rosto. Ela respira fundo com um sentimento colossal de alivio. Agora recompondo seu folego ela sussurra... - Kess...

Uma batida alta e firme ecoa da porta de entrada despertando Mary de seu delirante e prazeroso sonho... Então ela se levanta, acostumada com a despedida de cada manhã de seus sonhos, ela digere o fato de nada daquilo ser real e tenta desfrutar dos detalhes que ainda se lembra... Quando outra batida na porta a faz levantar e ir atender a inconveniente visita. Ao prender seus longos cabelos loiros e lisos ela o joga pra trás com um cumprido e desajeitado rabo de cavalo, antes de abrir a porta... Era Paola, uma amiga da faculdade, Mary quase esqueceu que tivera marcado de deixar os livros do semestre com ela.

Mary lhe concede uma confortante recepção, lhe entrega os livros e colocam os assuntos em dia, até mesmo o fato de ter sonhado com Keven, seu amigo em comum. No inicio da tarde Paola liga pro seu mais recente namorado que havia de busca-la, em poucos minutos ele bate na porta demonstrando pressa, Mary corre pra atender. Ao abrir a porta seus olhos fitam um rosto muito mais que familiar, o quão ainda não pudera esquecer, o rosto que a encarou em seus sonhos todas as noites por anos, era o rosto de Kess.

- Mary, permita-me apresenta-lo... Esse é Kisaki, mas eu não o chamo assim, ele que insiste. Gosto do primeiro nome dele.

Mary não consegue esconder sua surpresa que agora se mistura com uma frustante duvida de tudo aquilo ser real... Quando Paola o apresenta como Kisaki imediatamente Mary se lembra que era exatamente o sobrenome de Kess... Então ela engole seca e respira fundo...

- Kess?

Paola imediatamente balança a cabeça confusa...

- NÃO ! Troky !

LayceWhere stories live. Discover now