Egoísmo

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CAPÍTULO 46

         
                  Eleanor


Cortei o contato visual com Emily, que olhava-me com certa repulsa e fechei a porta de meu apartamento. Entendia a sua preocupação em relação ao meu relacionamento com sua neta, mas isso era algo que cabia apenas a nós duas, e nada me faria mudar de idéia.

E era nisso que acreditava, bem, até termos aquela conversa.

Emily era uma idosa elegante, seus cabelos grisalhos e curtos lhe davam um toque mais jovial. Embora seu temperamento fosse péssimo e abusivo, preciso confessar o meu respeito por tamanha coragem que tem a mulher, principalmente em enfrentar o que for pela família como a mesma faz.

Não houve nenhum pingo de medo ou hesitação nas palavras em que me disse a mais velha, entretanto, várias delas eram verdadeiras. E com base nessa conversa e os fatos ocorrentes, por fim, decidi meu destino.

Isso precisava acabar.


– Posso? – apontou com o dedo indicador para o sofá e assim permito – Obrigada.

– O que veio fazer aqui? – logo a pergunto, odiava suspense.

– Então eu vou logo ao ponto, minha querida – cruza as pernas e descansa sua bolsa da Hermes no braço do sofá – Você e a Lizandra, esqueça, não vai acontecer – diz com convicção – Não enquanto eu ainda estiver viva.

Aquilo era uma ameaça? Soltei uma lufada de riso diante tamanha audácia da avó de Liz e a retruquei:

– Emily – cruzo os braços e endireito minha postura, estufando o peito e elevando a cabeça – O que eu e Lizandra temos, não é da sua conta e...

– Não acha muito egoísmo da sua parte? – atraplha minha fala se colocando de pé – Não basta ter tirado meu filho de mim, agora também quer afastar a única família que me resta – vociferou exaltada.


Suas palavras deixaram-me atordoada. Então a Emily partiria pra pressão psicológica? Seria tão baixa a esse ponto? Estava desacreditada.


– Não estou tentando lhe afastar ninguém – a retruco começando a ficar a exaltada também – Não espere que a deixarei me humilhar dentro de meu próprio lar – imponho respeito elevando a voz – Você quer falar de egoísmo? Então vamos lá... – dou um passo a frente a enfrentando – Egoismo foi ter abandonado suas netas quando elas mais precisaram de você, e ainda assim, negar a guarda delas quando lhe proposta pelo juíz naquela época. Egoísmo foi você fazer a Lizandra trocar a saúde de sua irmã por seus favores e negócios, só ajudaria a Liana, caso a Liz fosse para a Noruega e trabalhasse para você – joguei as verdades em sua cara sem medo algum.

A mais velha olhava-me boquiaberta e sem jeito, provavelmente chocada por eu saber sobre todas as suas tramóias.

– Egoísta? – sorrio sem vontade – Acho que somos duas então.

– Eu... eu tomei m-muitas decisões erradas na vida, minha jovem – diz desconcertada.

– E blá blá blá.... e agora está tentando se redimir com todo mundo – reviro os olhos com tamanha hipocrisia.

– A verdade é que, não tenho muito tempo de vida – revela num suspiro profundo – E desejo passar os últimos quatro meses que me restam, ao lado das pessoas que passei a amar – diz emocionada – Elas são tudo o que tenho, e olha o que aconteceu ao Lizandra voltar para esse país, para você.

– O que aconteceu com ela não foi culpa minha – digo com a voz embargada, abalada por suas palavras – Eu...

– Mesmo assim, será que não percebe? – segurou  nas alças de sua bolsa – Vocês duas não dão certo juntas, sabe disso.

Save Me (Romance Lésbico) - REVISÃO Место, где живут истории. Откройте их для себя