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Eu não sei exatamente como chegamos ao meu apartamento. Mas cá estou eu diante da sala de estar.

Não lembro exatamente como entrei no carro e nem qual caminho fizemos para chegar aqui. A única coisa que sei é que Nathan está comigo e mesmo em estado de choque me sinto segura por estar com ele.

— Ei. — ouço sua voz me chamar e então seu corpo para bem diante de mim.

Ele está com uma camisa azul escura e com uma jaqueta preta, reparo que azul é a sua cor, ela destaca seus olhos e torna seus traços masculinos mais intensos e rústicos. Eu gosto da forma como a barba cobre sua face e marca seu maxilar, gosto mais ainda quando ela arranha minha pele, como nos beijos que trocamos.

Ele estica os braços e suas mãos encontram meus braços cobertos por um suéter cinza. Mesmo com uma camada de tecido entre nossas peles sinto o toque me queimar e uma corrente elétrica alcança meu coração.

Ele me estuda por alguns segundos, suas mãos sobem pelos meus braços e alcançam meu pescoço, apertam meus ombros. Depois elas vão para meu rosto e seus polegares deslizam pelas laterais em uma carícia tão terna que me faz sufocar ao suspirar.

— Vamos. — ele diz passando o braço esquerdo por mim e me obrigando a seguir seus passos.

Caminhamos para a cozinha, ele me para na frente da pia e então começa a lavar minhas mãos. Noto que além de tremulas elas estão cheias de sangue. Assim que a água lava o sangue, vejo os cortes no metacarpo de ambas.

Logo Nathan as enxuga com cuidado e em silêncio, puxa uma cadeira e me faz sentar nela. Eu apenas sigo sob seu controle, porque não sei exatamente o que fazer e saber que ele está aqui e sabe o que fazer me conforta.

Um copo com água aparece diante de mim e o pego com a mão direita, então o copo começa a tremer e tenho que segurar com as duas mãos para conseguir beber a água sem derramar na minha roupa. Sinto o gosto doce invadir meu paladar e hidratar minha garganta seca.

— Você tem alguma coisa pra cuidar disso? — ele pergunta assim que coloco o copo sobre a mesa.

Eu o olho confusa. Do que exatamente ele está falando? Cuidar de...? Eu pisco mais rápido tentando encontrar a resposta no meio da minha confusão mental.

— Os cortes na sua mão, Urbi. — ele explica levantando as sobrancelhas tentando me fazer entender suas palavras.

— É... — minha voz parece estranha depois de tanto tempo em silêncio. — No banheiro.

A resposta sai forçada e olho para meus pés puxando na memória se é lá que guardo os remédios para machucados. Sempre tenho um quite completo para tudo, Hélio não costuma se machucar ou adoecer, mas gosto de estar prevenida.

Nathan some do meu campo de vista e então olho para as minhas mãos.

Começo a mover meus dedos com força e fecho os punhos quando os cortes começam a sangrar. Forço até que minhas unhas cravam na palma das minhas mãos. Meus punhos doem, meus dedos também.

Me permito refletir quando o sangue escorre do machucado e mancha a minha mão. A dor me traz sobriedade e com ela a sede de poder voltar no tempo e fazer tudo de novo repetidas vezes até lavar a minha alma.

Porque ele apareceu depois de tanto tempo?

— Me deixa ver isso.

A voz de Nathan me desperta antes dele surgir na minha frente e colocar a caixa sobre a mesa, então ele puxa uma cadeira e se acomoda na minha frente. Nathan vasculha a caixa e pega uma gaze e pressiona os locais cortados com força até que o sangue volte a parar. Depois ele limpa novamente com cuidado usando soro fisiológico.

Meu Melhor PresenteWhere stories live. Discover now