A água caía como chumbo de uma saliência na montanha – como uma corrente de grossos elos brancos. O trem disparava por uma campina verde em declive, e Jacob via tulipas listradas desabrochando e ouvia um pássaro cantando, na Itália.

Um carro a motor cheio de oficiais italianos corria ao longo da estrada plana e emparelhava com o trem, deixando um rastro de poeira. Havia árvores entrelaçadas com videiras – como dissera Virgílio. Aqui estava uma estação; e havia uma fantástica cena de despedidas, com mulheres em botas amarelas de cano alto e meninos esquisitos e pálidos em meias listradas. As abelhas de Virgílio tinham se espalhado pelas planícies da Lombardia. Era costume dos antigos forçar as videiras a treparem por entre os olmos. Depois, em Milão, havia falcões de asas pontudas, de um castanho brilhante, fazendo figurações sobre os telhados.

Esses vagões italianos ficam terrivelmente quentes com o sol da tarde em cima deles e é grande a chance de que a corrente que range e range se rompa antes de a locomotiva chegar ao topo do desfiladeiro. Para cima, para cima, para cima ela vai, como um trenzinho numa montanha-russa. Cada um dos picos está coberto de árvores pontudas, e espetaculares vilarejos de uma alvura geral se apinham nos ressaltos da montanha. Há sempre uma torre branca bem no topo, telhados horizontais com ondulações rubras, e uma queda abrupta embaixo. Não é um lugar onde se caminha depois do chá. Para começar, não há grama nenhuma. Uma encosta inteira estará tomada por oliveiras. Já em abril, a terra entre elas se converte em grumos ressequidos de poeira. E não há nem escadinhas para transpor as cercas nem trilhas para pedestres, nem alamedas enxadrezadas pela sombra das folhas nem estalagens do século dezoito com bow-windows onde se come ovos mexidos com presunto. Ah, não, a Itália é toda rusticidade, desolação, inclemência, e padres negros caminhando, lerdos, pelas estradas. É estranho, também, como nunca escapamos das villas.

Ainda assim, viajar sozinho com cem libras para gastar é uma boa coisa. E se o dinheiro acabasse, o que é provável, ele seguiria a pé. Poderia passar a pão e vinho – vinho em garrafas empalhadas – pois após fazer a Grécia ele iria dar cabo de Roma. A civilização romana era, sem dúvida, uma coisa muito inferior. Mas, mesmo assim, Bonamy falava um monte de bobagem. "Você deveria ter ido a Atenas", diria a Bonamy quando voltasse. "Ficar diante do Partenon", ele diria, ou "as ruínas do Coliseu suscitam algumas reflexões absolutamente sublimes", ideia que ele poria por escrito e em detalhes por carta. Poderia se transformar num ensaio sobre a civilização. Uma comparação entre os antigos e os modernos, com algumas boas e certeiras estocadas no sr. Asquith – algo no estilo de Gibbon.

Um senhor corpulento alçou-se penosamente para dentro do vagão, empoeirado, roupas largas, todo enredado em correntes de ouro, e Jacob, lamentando não ter vindo da raça latina, olhou para fora.

É estranho pensar que, ao viajar por dois dias e duas noites, estejamos no coração da Itália. Villas inesperadas surgem em meio às oliveiras; e criados regando os cactos. Vitórias pretas estacionam entre pomposos pilares ornados com escudos em gesso. É, ao mesmo tempo, momentâneo e surpreendentemente íntimo – ser exibido diante dos olhos de um estrangeiro. E há o solitário cume de um morro ao qual ninguém jamais chega e, contudo, é visto por mim, que não faz muito descia Piccadilly no andar superior de um ônibus. E o que eu queria era sair pelos campos, sentar e ouvir os gafanhotos, e pegar um punhado de terra – terra italiana, como é italiana a poeira sobre os meus sapatos.

Jacob os ouvia nas estações ferroviárias gritando nomes estranhos no meio da noite. O trem parou e ele ouviu sapos coaxando nas proximidades, e levantou cautelosamente a cortina e viu um imenso e estranho charco todo branco sob o luar. O vagão estava carregado da fumaça de cigarro, que pairava à volta do globo coberto pelo quebra-luz verde. O senhor italiano roncava, estirado, sem as botas e com o colete desabotoado.... E toda essa coisa de ir para a Grécia parecia a Jacob ser um tédio intolerável – ficar sentado sozinho em hotéis e sair para contemplar monumentos – teria sido melhor ter ido para a Cornualha com Timmy Durrant.... "O-h", protestou Jacob, quando a escuridão começou a se desfazer diante dele e a luz se mostrou, mas o homem se atravessou à sua frente para alcançar alguma coisa – o gordo homem italiano, em seu peitilho postiço de camisa, barba por fazer, amarrotado, obeso, estava abrindo a porta para ir se lavar.

O Quarto de Jacob (1922)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora