Capítulo 3 - Escolhas e influências

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Alvo Dumbledore observava a si mesmo em sua sala circular, mas não mirava um espelho e sim a uma outra versão dele próprio. Apenas os diversos instrumentos mágicos, incontáveis livros em prateleiras, sua fiel fênix Fawkes, o Chapéu Seletor e os vários quadros de antigos diretores faziam companhia para os dois Alvos.

O que estava sendo observado parecia não ter a mínima noção de que havia outro igual a ele ali; escrevia sem parar mais um de seus estudos num volumoso livro de capa vermelha e aveludada, molhando a pena no tinteiro velozmente, completamente absorto no conteúdo que transmitia para o papel.

Um rugido alto acompanhado de um clarão verde fez todas as pinturas de antigos diretores da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts se sobressaltarem; Fawkes bateu as asas com raiva sobre o poleiro e fuzilou a intrusa com os olhos.

- Perdão por vir assim, tão de repente, Professor Dumbledore. – Desculpou-se Eugênia Jenkins imediatamente após olhar para a mesa do diretor e constatar que ele havia derrubado o tinteiro e espalhado toda a tinta na mesa e no livro em que estava escrevendo antes do susto.

Dumbledore meramente ajeitou seus óculos de meia-lua sobre a ponte do nariz torto, bem como suas vestes também manchadas de tinta, olhou para Eugênia e abriu um sorriso.

- Ah, não precisa se desculpar, minha cara Eugênia. Eu estava apenas escrevendo algumas coisas. Limpo isso num instante, não se preocupe. – Falou o diretor.

- Não, por favor, deixe que eu... --

Enquanto Eugênia levava a mão esquerda à varinha presa em sua cintura, Dumbledore já havia sacado a dele e limpado toda a bagunça: o tinteiro voltou a ficar na posição correta sobre a mesa e a tinta simplesmente desapareceu do móvel, do livro e de sua roupa, não deixando nenhum vestígio de que havia caído por ali.

Eugênia se surpreendeu e corou de leve diante de tanta maestria. Apesar da idade, Dumbledore seguia sendo o maior bruxo de todos os tempos desde, talvez, Merlin. O conhecimento, a destreza e a velocidade faziam dele um bruxo perfeito e, para Jenkins, inalcançável.

Após alguns curtos segundos de pura e simples admiração vinda da Ministra da Magia, Dumbledore apoiou os cotovelos sobre a mesa, juntou as mãos e perguntou:

- Então... O que a fez deixar o Ministério e invadir meu escritório na velocidade da luz, Eugênia? Há algo errado, suponho. Mas gostaria de saber o que é. E sou todo ouvidos.

Eugênia inspirou fundo e foi até a mesa do diretor, onde pousou a foto sobre o livro, virada para Dumbledore.

- Isso, diretor. Foi isso o que me fez vir até aqui desse jeito.

Dumbledore apertou os olhos por algum tempo, observando a foto em silêncio. Então a pegou e seguiu examinando-a com atenção, como se esperasse que ela fizesse alguma coisa.

Se fosse outro bruxo, Eugênia teria dito que essa era uma foto tirada por um trouxa e que, por isso, não se mexeria; mas era Dumbledore ali e ela sabia disso. Mais que isso: ela sabia que ele estava tentando achar algo que nenhum outro bruxo talvez fosse capaz de achar, mesmo numa imagem estática.

O tempo de observação em silêncio, porém, foi se alongando mais do que o esperado, e Eugênia decidiu que era hora de conseguir algumas informações.

- Diretor... E então? É ele, não é? Aquele que tem cometido atentados contra trouxas e mestiços pela Europa. Voldemort.

Dumbledore pousou a foto novamente sobre o livro, porém agora olhava diretamente para Jenkins. Inspirou profunda e calmamente, e então respondeu:

- Sim, receio não ter dúvidas de que é ele.

O outro Dumbledore observava a conversa dos dois, analisando onde havia errado naquela noite. Acordara particularmente incomodado e sentia que precisava revisitar essa memória em especial, porque sabia que fora ali que havia cometido outro grande erro que agora aterrorizava a Grã-Bretanha. Em seu íntimo, inclusive, se culpava por tudo o que vinha acontecendo nos últimos oito anos.

A Primeira Guerra Bruxa - Volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora