Capítulo IV

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Após a cerimônia ser finalmente encerrada – os pés de Hermione só queriam respirar depois de um dia cheio como esse — os recém-casados são levados para uma pequena charrete na qual são obrigados a se sentar um ao lado do outro – as pernas compridas de Ron roçavam desajeitadamente o joelho de Hermione; o contato inevitável e o calor que irradiava de ambos tornava a situação mais desconfortável possível.

O espaço apertado compartilhado fazia Hermione respirar com dificuldade, desacostumada com o contato físico - ainda mais o contato físico de um homem - e fitava suas próprias mãos. Enquanto isso, Ron parecia extremamente constrangido com a situação também, fingindo estar totalmente interessado na chuva fina que manchava as janelas empoeiradas o veículo.

Apesar de agora formarem um casal e estarem basicamente comprimidos em um ambiente abafado como aquele, parecia haver um trato de silêncio implícito entre eles durante boa parte da viagem. Eles ignoravam a presença um do outro, e a troca de olhares era incogitável.

Porém, em determinado momento o silêncio que preenchia o local começou a se tornar insuportavelmente entediante para a morena. Hermione podia ser totalmente contra se casar e qualquer coisa que se opusesse a sua liberdade, mas aquele silêncio todo parecia sufocá-la mais do que o corpete que envolvia seu corpo.

Com a voz um pouco fraca e envergonhada, ela pigarreou, com as mãos inquietas:

''Então... Para onde exatamente estamos indo?''

Ron imediatamente virou a cabeça em sua direção, surpreso por ela ter dirigido a palavra a ele, ainda mais de uma maneira tão doce e delicada - muito diferente da voz confiante que ousou dançar sem ele mais cedo.

''Bem, eu suponho que nós estamos agora indo para a cidade em que moraremos... Em um terreno da minha família, que acredito que agora é... nosso'' Sua fala era recheada de pequenas pausas, como se ele próprio tentasse processar o que tudo aquilo significava. ''Pelo o que eu lembro o lugar é bem tranquilo e sossegado, acho que você vai gostar de lá.''

Depois de alguns segundo, ele voltou a encarar a janela, e completou, em tom mais baixo: ''Mas acho que só chegaremos lá de madrugada.''

A voz dele, por alguma razão desconhecida, era muito agradável aos ouvidos de Hermione. O timbre de sua voz era terno, e de alguma forma conseguiu acalmar um pouco a bagunça que explodia dentro dela. Parecia reconfortável saber que ela não passaria por aquilo sozinha - o que na verdade, era contraditório, pois ao mesmo tempo que Ron era a razão de sua maior tristeza, ele também era, de alguma forma, o motivo para ela estar calma.

Ela não sabia o por quê, mas parecia que o rapaz era diferente do que ela esperava - ou, talvez, dos pretendentes que até então haviam lhe apresentado. Ron não tentava bajulá-la de maneira forçada e ensaiada, e também não parecia ser um homem agressivo que lhe faria mal. Na verdade, Hermione até sentia algo diferente em relação a ele - talvez fosse o fato dele apresentar desinteresse nela.

O fato é que Hermione travava, ali mesmo, uma batalha com si própria. Parecia que parte dela queria amenizar a situação, como forma de sobreviver àquilo. Agir como se casar com Ronald Weasley fosse muito menos pior do que casar com qualquer outro homem. Talvez seu ódio por ele fosse reduzido porque, de alguma forma, ele também era uma vítima de seus próprios pais.

***

O repentino solavanco da charrete indicou a Ron que eles haviam, enfim, chegado ao destino planejado – Ele sustentava seus olhos abertos com dificuldade, não conseguindo dormir com todo o movimento e chacoalhar do veículo. Desde sempre teve grande dificuldade em conseguir se acomodar em meios de transporte, e a estrada de terra batida e os cascalhos que as rodas beijavam só piorava seu problema.

Brigas de um CasamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora