Você não sabe fazer nada porque é mulher!

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     Passava das 8h e ela não conseguia levantar da cama para mais um dia de trabalho. Olhava para o relógio e o único movimento era apertar o 'parar' do despertador do celular. Olhava para cima em busca de respostas e só encontrava um teto pálido com algumas marcas de infiltração da última chuva que alagara o quarto inteiro.

     Ela não entendia o motivo pelo qual precisava passar por isso. Quando fechava os olhos, só conseguia pensar nas frases abusivas e egoístas do seu chefe "você é mulher e é por isso não raciocina direito e além de tudo é brasileira!".

     Ele, seu chefe, de aproximadamente 60 anos, criado na Inglaterra por uma boa parte de sua vida, fazia questão de menosprezar as mulheres que trabalhavam na sua equipe. Tinha também um verdadeiro horror pela cultura brasileira. Quem olhava para ele, até poderia pensar que não era brasileiro. Só porque passou sua infância e adolescência fora do país, acreditava que poderia tratar mal as pessoas.

     Depois de alguns minutos enrolando na cama e de chorar repetidas vezes, ela lembrou o quanto seria importante aguentar um pouco mais dessa surra de palavras porque o seu emprego e filhos eram mais importantes e não poderia, de nenhuma forma, perder a única maneira de se sustentar.

     Durante o seu banho, o telefone toca. Ela deixa tocar por umas três vezes até que consegue se secar e pegar o telefone. Ao atender, se surpreende com aquela voz caótica do seu chefe perguntando o que ela estava fazendo que ainda não chegara na reunião para anotar tudo do jeito que ele gosta. "Você não sabe fazer nada direito porque é mulher!", repetiu por duas vezes e deixou ela se explicar.

     Com um grande medo de dizer a verdade, ela inventou qualquer desculpa sobre o trânsito e que houve um acidente no percurso até o seu trabalho e que por isso ficou presa no ônibus e deve chegar logo. Depois de alguns xingamentos e gritaria, ele pediu para ela chegar logo, porque precisava conversar com ela urgentemente.

     O medo tomou conta do seu corpo inteiro, ela estremecia dos pés a ponta do seu cabelo. Imaginou diversos desfechos para esta conversa, todos finais infelizes porque ele não conseguia compreender nada e punir era o seu esporte preferido. Mesmo assim, ela foi até as suas gavetas e vestiu uma roupa para se preparar pelo que estava por vir. Calçou seu tênis mais confortável e seguiu o seu caminho.

     Visivelmente abalada, ela se sentou no banco do ônibus com um olhar distante. Estava pensando sobre como seria a demissão e o quanto ela queria que isso não demorasse, pois, até a voz dele já estava lhe fazendo mal. Todas às vezes que ela se lembrava da voz dele, um enjoo a penetrava de uma forma tão cruel, que ânsias de vômitos começavam e não cessavam até ela colocar tudo para fora. Com o tempo, ela percebeu que este era um movimento natural do seu corpo quando desejava se afastar de coisas ruins.

     Não demorou muito para que o seu ponto chegasse. Ela pegou a sua bolsa e desceu lentamente os degraus do ônibus e foi respirando fundo até a porta que a levaria para o elevador e a faria encontrar com a pior pessoa que ela já conhecera até o momento.

     Para a sua surpresa, a sala de trabalho estava cheia de outros homens e todos eles conversavam sobre um projeto importante, tão promissor quanto os outros que nunca deram certo sob a gerência de seu chefe. De alguma forma ela sabia que ele rosnava para parecer ameaçador e, desta forma, retirarem o olhar crítico sobre ele, pois, no fundo, ele não passava de uma pessoa medonha e sem habilidades. Ela sabia que a sua formação e o seu conhecimento sobre a área que eles trabalhavam era o que segurava aquela empresa. Mas, nunca teve o reconhecimento sobre isso.

     Quando percebeu, já estava na sala sendo apresentada para as pessoas. Na frente de todo mundo, ele era como um anjo. Super elogiava o trabalho dela, dizia ser um achado e tinha muito orgulho da profissional que ele tinha dentro da sua equipe. Mas, bastavam todos irem embora, que a pressão sem necessidade começava. No final, ela descobriu que não tinha conversa alguma. Foi só a forma dele apressar as coisas e fazer com que ela chegasse rápido no trabalho.

     Ela ficava porque precisava e não conseguia reconhecer os eu valor. O que você faria se estivesse no lugar dela?

Ai ajuns la finalul capitolelor publicate.

⏰ Ultima actualizare: Jul 10, 2022 ⏰

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