O Bolo de Aniversário

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Uma amora.
No topo do bolo. Solta, instável e capenga.
Demanda cuidado, atenção e cautela.

Não gosto de amora, mas não posso deixá-la cair. Ela é parte essencial do bolo e ele não fica tão bonito sem ela.

Não quero comer a amora, mas mudei meu caminho só pra amora ficar. Essa estrada é lenta e entediante, mas é aquela que a amora gosta e talvez assim ela queira ficar.

Todos me falam das muitas frutas no bolo, que eu amo e que querem ficar, mas e a amora? Não há bolo sem ela.

Eu sou útil cuidando dela. Sou útil a mantendo segura no topo, não importa o quão insegura eu me sinto. Gosto de fazer todo o bolo ser sobre ela. Amora.

A ansiedade me dá dor de barriga e já não sinto vontade de comer o bolo. Quem me dera se a amora não estivesse sempre ameaçando cair. Eu poderia sentar e, finalmente, cantar parabéns.

Acontece.

Mesmo na estrada segura, com as curvas mais delicadas do mundo, a amora caiu no chão do carro, e me deixou no meio de um caminho no qual eu não queria estar, e me perguntando o que fiz de errado para ela cair.

Interessante quão pequena ela é, agora que está fora do bolo. E o bolo, por mais que a perda ainda me doa, continua inteiro e cheio de frutas que eu amo e querem ficar.

Encarando a amora de longe, rolando no carpete do carro, noto que nem o maior esforço do mundo seria capaz de manter a amora onde ela não quer estar.

E não é culpa minha.

O bolo de aniversário e outros poemas Where stories live. Discover now