F L O R E S

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"Olho para a garota a minha frente, a garota que tinha todo meu amor, meu respeito, minha sanidade. Como eu amava aqueles cabelos escuros e encaracolados, adorava pegar uma de suas mechas e ficar enrolando nos dedos, amava aqueles olhos que pareciam cinzas ao invés de azul, amava tudo na garota, as vezes achava que não iria suportar de tanto amor, era rendido por ela e nem ao menos negava. Era chamado por todos os seus amigos, colegas, de gado, cachorrinho de estimação, entre outros apelidos que com o tempo passou a ignorar com muito 'fervor'. Ela sorria para ele, em uma alegria contagiante, fazia ele querer sorrir também, sentia vontade de abraçá-la naquele momento, na verdade em todos os momentos, sentia como se não pudesse ficar um minuto sequer sem estar ao lado dela, ou tocando nela. Ele fazia dela sua âncora, sem ela não sabia se conseguiria voltar a viver novamente, acho que sucumbiria a uma morte lenta vindo apenas de tristeza, solidão e vazio. Antes de conhecê-la ele achava que estava vivendo, mas ao encontrar ela viu que apenas estava vegetando por aí, sem intenção nenhuma de viver realmente, então ela apareceu e deu algum tipo de luz a ele, e ele passou a viver, a viver ao lado dela, onde sua vida tornou-se alegre e feliz, e repleta de amor. Uma vez meu pai disse que eu estava totalmente dependente dela, mas neguei, apenas a ele, para não ficar irritando com este assunto, mas sabia que no fundo não negava do pai, realmente dependia dela, dependia dela pra tudo, mas não me importo com isso, gosto de ser dependente dela."

Olho novamente para as flores em minhas mãos, são as favoritas dela, 'murta', quando pesquisei o significado entendi o porque de ser sua flor favorita. Tiro os olhos das flores e continuo andando pelo gramado mal cuidado, estava com saudades dela e decidiu vê-la, não aguentava mais, fazia meses que não a via.

Chego ao local na qual a encontraria e então sinto as lágrimas descendo. Olho para seu túmulo recém limpado, e sentiu uma angústia forte porque sabia que mesmo indo visitar seu túmulo não era a mesma coisa que tê-la em seus braços. Não tinha aceitado bem a morte dela, quando contaram que ela havia morrido... ele beirou a loucura, a depressão, a tristeza. Depois de exatos 7 meses criará forças pra levantar da cama e ir ver seu túmulo, era segunda vez que ia até ali, e se sentia esgotado de tanto chorar, sabia que o certo era seguir em frente, mas não tinha mais forças para continuar a viver, desejava todos os dias para que algo o matasse, para que ele enfim pudesse ficar com ela novamente, não tinha forças para tirar a própria vida, não sei realmente como ele fora parar ali pela segunda vez, mas não estava tão bem apresentável, queria ter se arrumado, mas já achara muito esgotante se levantar e caminhar até a porta, se tivesse que por uma roupa teria voltado para cama. Tive que aguentar olhares de Julgamento o caminho inteiro, só por estar andando na rua de pijama, mas acho que não era só a roupa em si, cheirava mal, muito mal, mas não se importava, tudo que queria era chorar ali, enquanto segurava as flores da qual ela amava.
Sinto minhas pernas falharem, então fico de joelhos ao túmulo de minha amada. Encosto a testa ali, ainda segurando as flores, com força, e então choro, choro por todas as vezes que não falei que a amava, por todas as vezes que a deixava triste quando não queria fazer parte de suas brincadeiras, mas não era por mal, é porque ele não sabia como entrar na onda com ela, se deixar levar, e tinha medo de acabar estragando a brincadeira dela, mas acabava a deixando triste quando não participava, chorei por todas as oportunidades que teve de pedi-la em casamento, mas a insegurança e o medo não deixaram, mesmo a amando imensamente. Fiquei ali chorando por não sei quanto tempo, até enfim levantar a cabeça, zonzo, e colocar as flores em cima do túmulo, deixo elas ali e encosto a cabeça novamente no túmulo, que estava frio, como o ar também.

- Trouxe flores pra você minha linda - susurro e fecho os olhos sentindo minha vida se esvaindo....

-olho para aqueles olhos cinzas que tanto amava, o sorriso se forma eu seu rosto, sabendo que eu tinha voltado para ela.-

Contos PequenosWhere stories live. Discover now