Prólogo

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POV Piquerez

Mais um dia na academia de futebol, onde passava a maior parte do tempo, melhor do que ficar no apartamento gigantesco sozinho. Não que eu visse algum problema nisso. Já que desde quando eu cheguei aqui no Brasil, muita coisa mudou, não só a mudança de cultura mas dentro de mim também. Parte dessa mudança tem sido pelo treinador Abel Ferreira e outra parte pelos companheiros de clube, principalmente Scarpa.

Em parte, sempre fui um jogador muito tranquilo, uma pessoa muito tranquila. Mas com a fama e o dinheiro, a gente acaba extrapolando e fazendo coisas de menino, festa, bebida e mulheres. Vivendo uma vida de luxo que quando crianças não podíamos ter.

Isso vem mudando e eu tenho ficado mais tranquilo, pensando melhor, ficando mais em casa, saindo apenas para conhecer a cidade onde estou inserido. Ou recebendo meus amigos em casa. Nada de muito emocionante, deixava toda a emoção para dentro dos campos.

No caminho da esteira, já imaginei que Danilo, ou qualquer outro menino da base já tinha chegado antes a ponto de tomar conta do som, já que estava tocando um funk bem explícito. Dito e feito, os meninos estavam reunidos conversando enquanto Danilo comandava a playlist.

— Estou dizendo, cara, ela é muito linda — Bicalho disse.

— Sei lá, não confio muito no seu gosto, mulher não — foi a vez do Danilo retrucar.

— Você vai ver, e acho que ela tem a nossa idade — Bicalho voltou a falar.

— Vocês aí criando fic e nem sabem se a menina namora — Gabriel Menino jogou um balde de água neles com essa hipótese.

— Quem namora é ela, eu sou solteiro — Veron disse fazendo todos olharem para ele.

— Ih, que papo torto é esse? — Danilo perguntou.

— Tô brincando — se defendeu.

— Fica aí se achando o gostosão que quando você apanhar por isso eu não vou te defender não — Menino disse rindo.

— Começou a fazer boxe e tá achando que é o Anderson Silva, Gabriel? Quero que você me defenda não, seu comédia — Veron mostrou o dedo pra ele.

Os meninos começaram outras conversas e eu parei de espiar antes que notassem que eu estava prestando atenção. Comecei a correr, mas permanecia curioso sobre quem os meninos estavam falando. Os meninos falando sobre mulher? Comum. Geralmente o assunto na maior parte do tempo é esse. Mas falar de mulheres daqui era uma novidade, então eu fiquei curioso.

Dei graças a Deus quando vi Raphael vindo para a esteira ao meu lado com uma toalha no ombro. Porque se alguém ali tem informações sobre as coisas, era ele, inclusive gostava de falar que sabia de tudo que acontecia porque era observador.

As coisas mudam de país para país? Porque isso no Uruguai era ser chismoso, ou melhor, fofoqueiro.

— Raphael, de quem os meninos tanto falam?

— Estagiária da dona Mirtes, por que se interessou?

— Só estou curioso, eu nem vi ela ainda — me apressei antes que ele começasse.

— Sei — falou me analisando.

— Você anda muito com Scarpa, por isso está chato igual ele.

— Para, gringo, que ofensa.

Nós rimos.

— Ela é tão bonita assim?

— Eu lá vou achar mulher dos outros bonita, eu acho a minha bonita só.

Daylight | Joaco Piquerez  +18 (REVISANDO) Where stories live. Discover now